20. Fardos entre dois

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Se gostar da história não esqueça dos votos e comentários. Boa leitura. 💌

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Sugestões de música:
Venus - Sleeping at Last
Walls - Kings of Leon
Too Much Love Will Kill You - Queen
Make you Feel my Love - Sleeping at Last
(prestem atenção na letra dessa última)

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Há muitas versões para histórias tão antigas quanto o tempo.

Há muitas citações para homens perdidos em vaidade.

Há muitos anos para buracos vazios que uma humanidade carrega.

E também há encontros que, sem explicação, portam potência e intensidade estrondosas, capazes de atravessar a eternidade.

Existiram alguns encontros. Um em especial.

Há muito anos.

Onde um rei rigoroso, mas bondoso, vivia em uma torre particular. O mesmo convencia-se que ficaria ali. Ninguém poderia vê-lo. Ninguém poderia alcançá-lo. Engasgava-se na fumaça e despejava uísque sobre todas as feridas de sonhos cantados sobre liberdade. Ninguém sabia que ele estava lá. Ninguém sabia que seu coração verdadeiramente batia. Vagando. Arrastando. Sozinho. Rondando em círculos com todos os brasões de fogo ajoelhando-se diante de sua figura potente e imponente. Pobre rei. Pobre de amor. Rico de tolice. Não podia sair de seu peito. Não podia abandonar a si. Apenas em segundos de cuidado, onde não havia nenhuma alma acordada além de seu fantasma da insônia, dizia, sim, sei que está aí. Sei que está aí. Mas fique quieto. Não posso deixar que quebre as grades de sua gaiola e levante voo por entre as árvores. Não posso deixar que lhe vejam. Cantava lamentos ao adormecer do sol. Não deixava que morresse com a luz dourada. E leva seu pacto, assim. Meu segredo. Nosso segredo. Cante baixo para que não ouçam. Para que não arranquem suas cordas vocais. Minhas cordas vocais. Deixe-o respirar por um pequeno buraco abaixo do peito. Bem onde fica seu coração. Nosso coração. Onde quase ninguém vê. Onde apenas um, valente e estúpido suficiente, tocou e beijou. Me ouviu cantar. Nos ouviu cantar. E deixou que a música não fosse mais tão dolorosa. Nós dormimos juntos. Eles dormiram juntos. E choraram. Nós choramos. Mas homens não choram. Eu não choro. Pelo menos não agora. Não enquanto o sol ainda dorme e guardo em mim o privilégio da ignorância e inocência.

Enquanto um belo narciso chorava e deixava a música dançar, sua rosa deixava letras lhe acariciarem e o prenderem no tempo junto com seus espinhos. Cruel tempo. Cruéis espinhos.

Há muitos anos.

Onde um camponês com a alma de um velho cão tateava em busca da palavra. Em busca do talento perdido. Buscando tintas para telas amareladas e sujas. Voltava-se para a escuridão, envolvo nas árvores e por entre as colinas altas. Nunca deteve posse de nada além de suas próprias mãos errantes. Nunca teve muito. Apenas dedos calejados e ouvidos bem atentos de quem celebrava suas derrocadas em tavernas que não frequentava. Em bocas que nunca lhe ouviram falar. Bebia um pouco de uísque quando estava frio e a neve gelava o peito para sentir seus órgãos chocando-se em busca de calor. Bebia e deliciava-se de um mel que não sabia que onde provinha, escrevendo em sua máquina que mal funcionava. Em seus quadros que mal ficavam de pé em cavaletes quebrados. Em seus lábios trêmulos e rachados. Mel doce. Tão doce quanto a vida que idealizava ao ser para sempre lembrado. Mas que era sempre jogado e puxado de volta para sombras do esquecimento. Definha. Pobre camponês. Alegria durante sua manhã e perdição pela madrugada. Definha. Serve-se de mais uísque. Deixa o mel que está no fim pingar ao chão. O deseja ainda mais. Anseia saber de onde vem e poder derramar seu pincel no sabor. Escreve. Desenha. Definha. Definha. Definha. Trava diálogos imaginários. Vem sido um belo combate. E ainda é. Enquanto termina mais um quadro e escreve uma poesia. Ainda é. Até o momento que batem em sua porta e atiram suas palavras e telas em branco a amarelo velho, beijados pelo sol e cuspidos pela neve. Ainda é. Ainda vai ser.

Learning to Fall in Love | l.sWhere stories live. Discover now