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Apoiando uma mão na bancada e a outra apontando para o meu reflexo no espelho, me lanço o meu olhar mais persuasivo

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Apoiando uma mão na bancada e a outra apontando para o meu reflexo no espelho, me lanço o meu olhar mais persuasivo.

— Senhor Foster, eu preciso dessa promoção. Mereço essa promoção. Trabalho nessa empresa há três anos, pegando cafezinho, ficando até a madrugada sem receber hora extra e pegando as suas roupas na lavanderia. E não vamos mencionar as flores de término para todas as suas ex namoradas.

Imagino Kaleb Foster estreitando os olhos daquele jeito, como se eu estivesse sendo muito petulante. Então, retocando o batom vermelho, continuo:

— Eu sou apta para isso. Fui assistente de ótimos jornalistas, e isso te inclui. Isso. Bajulação sempre funciona.

A porta do banheiro é aberta enquanto guardo o batom na nécessaire, e relaxo ao perceber que é Rose. Seria vergonhoso se outra pessoa tivesse escutado o meu ensaio sobre como pedir uma promoção ao chefe.

Rose e eu nos conhecemos na faculdade. Cursamos Jornalismo juntas, mas a amizade só surgiu durante o estágio, porque compartilhávamos o cansaço de termos um chefe imbecil. Desde então, ela tem me guiado semanalmente no spa day e me fez gostar de ioga e meditação. Como ela fez isso, eu não faço ideia, já que sempre fui muito agitada.

— Ensaiando o pedido da promoção? — ela entra numa cabine e eu lavo as mãos, encarando o visor do celular que vibra com uma mensagem.

— Agora vai dar certo. Ensaiei o suficiente para ser persuasiva e ele não vai poder negar. — abro um sorriso, me congratulando mentalmente por ter soado convincente.

Desde que cheguei aqui, venho escrevendo sobre esportes e eu não aguento mais. Primeiro, porque o plano era cobrir o jornalista que havia saído para ir para a USA Today, segundo... eu odeio esportes. Todos eles. Nunca entendi essa coisa de ficar correndo atrás da bola, embora seja interessante entrevistar alguns jogadores no vestiário. Ainda assim, é cansativo ficar viajando constantemente atrás desses caras.

Então, me perguntam: por que você simplesmente não pede demissão e vai para outro jornal? E, francamente, eu já pensei nisso. Até cheguei a pesquisar outros jornais, mas trabalhar no quinto maior jornal do país e o primeiro de Los Angeles, me deixa um pouco de mãos atadas. Sim, isso soa completamente mercenário, mas, sendo a única provedora de uma quase adolescente e uma mulher que gosta de se mimar com porcarias desnecessárias... eu preciso dessa promoção.

Pai: Minha garotinha já falou com chefe e o convenceu a parar de ser um pé no saco?

Pai: Lembre-se, você não precisa chupar as bolas dele para conseguir essa vaga. Você é brilhante, filhota. Mostre a esses bananas quem manda.

Pai: Mas eu adoro quando você escreve sobre beisebol. Vai, Dodgers!

Dou uma risada, porque meu pai é o melhor. Simples e inegavelmente. Checo o relógio, respirando fundo ao me dar conta que isso vai mesmo acontecer. Kaleb está em sua sala há exatos quarenta e sete minutos, e deve sair para se encontrar com alguma pobre coitada que vai cair no papo furado dele, em trinta. É a minha chance.

Novamente, nós (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now