Capítulo 6

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Era segunda-feira, o começo de uma nova semana e lá estava eu sentada na penúltima cadeira no fundo no canto direito da sala de aula. Era o lugar que eu sempre sentava. Enquanto o início da aula não começava eu escutava Complicated, de Avril Lavigne, na qual interpretava de como as pessoas podem fingir na frente dos outros e como se incomodava pelo fato delas não serem reais e sim de duas faces. Realmente era complicado lidar com isso, neste mundo de mentiras.

Eu poderia passar o tempo filosofando sobre a música, mas a usava apenas para abafar o som externo enquanto me divertia me concentrando no mangá Boku no Hero Academia.

De todos os personagens, a que mais me chamou a atenção foi a Ochaco Uraraka. Eu achava simplesmente incrível o poder gravitacional dela, é quase um poder cósmico! Imagina ter a capacidade de fazer toda a matéria física flutuar ou algo tão leve se tonar pesado ou até mesmo poder destruir os objetos? Um poder mágico que me imaginava tendo-o.

Será que a Lena gostaria de flutuar ou ficaria tremendo de medo e gritando para eu parar? E o cabelo dela tão leve que balança como vento ficando tão pesado que mal conseguia se levantar?

Imaginar as cenas me fazia morrer de rir, até que me lembrei de onde estava e tampei minha boca abafando o riso e agradecendo por não chamar atenção de ninguém. Eu tinha esse costume de viajar e viver as minhas próprias fantasias.

Eu acredito que o mundo da ficção seja mais divertido que a realidade.

Na penúltima cadeira e no canto direito da sala, pude ver que o professor de biologia ainda não chegou e a turma aproveitava este tempo livre para formar rodinhas e conversar, tantas falas paralelas que era difícil descobrir qual o assunto; barulhos diferentes, todos rindo e se divertindo aproveitando a ausência do professor.

Menos eu, eu estava sozinha ali no fundo.... Eu os achava tão desinteressantes, chatos, eu não tinha interesse neles e nem algo que gostasse muito e que quisesse compartilhar, mas, mesmo assim, eu me sentia atingida, amarga... tão amarga e isso é tão triste, sinto que ela estivesse me consumindo, me dando a sensação de que não pertencia a este à escola, a lugar nenhum.

Tão desesperador. Eu só queria que tudo passasse rápido.

Entretanto, de todos eles, Gabriel prendia minha curiosidade, mas não de algo bom, eu tinha certa vergonha de encará-lo, porém ele agia com os demais como se nada houvesse acontecido, como se eu não tivesse o empurrado dois dias atrás. Será que ele esqueceu? Que o tempo se desculpou por mim? Será que ele tá chateado demais e que prefere esconder? Ou sou eu que estou dando importância demais ao ocorrido? Eu não sei a resposta, mas dividir o mesmo ambiente me fazia sentir mais culpabilidade enorme, que fazia meu coração doer.

Eu só queria me aproximar dele e pedir desculpas, mas eu não conseguia, meus pés não me obedeciam e eu.... Eu tinha... medo? Acho que é essa a palavra. Eu não sei explicar o porquê.

E se ele tivesse raiva de mim? Me humilhasse na frente de todos? Risse de mim? Pior, se eu falasse alguma besteira? Ou se o meu tom saísse inapropriado e passasse vergonha na frente de todos? Todos começariam a rir da minha cara ou até mesmo me odiar... Não... eu não aguentaria.

Era como aumentar o volume da televisão e o botão enterrasse e a única escolha fossa desligar o aparelho. Era mais ou menos assim como a minha mente funcionava e ela estava assim agora. Me dominava por completo, e não parava, fazendo o meu coração acelerar mais rápido. Só que, ao contrário do aparelho doméstico, ela não tem o interruptor.

Então seu olhos me encontraram que na mesma hora desviei, não tive coragem de correspondê-lo.

Meu peito doía tanto, me sentia um monstro pelo que fiz, culpada por empurrá-lo. Eu só queria dizer que.... Eu só estava assustada como um filhote de cachorro abandonado pelo seu dono no centro da cidade. Perdido. Eu não queria que ele me visse como uma má pessoa, mesmo ter agido como tal.

Eu sou tão medrosa. Por que sou tão estranha? Pensei enxugando as lágrimas que começavam a cair em meu rosto.

Sai correndo em direção ao banheiro, esbarrando em quem tivesse em minha frente e ignorando qualquer protesto ou reclamações. Eu só queria sair dali o mais rápido possível e tentar recuperar os sentidos que haviam sumido como passe de mágica.

Todavia, quando fazia isso, vi alguns me olhando confusos como estivessem me julgando, rindo de mim, porém ninguém se atreveu a me parar e a perguntar se eu estava bem.

Era como se aquele oceano escuro no qual me mantive por tanto tempo quieto e seguro começasse a querer me machucar. Como se a gravidade me puxasse mais para o fundo me afastando tanto da superfície que não conseguia mais vê-la, neste mar que parecia não ter fim e que quisesse a começar a invadir o meu corpo, entrando livremente pela minha garganta sem a minha permissão.

Invadia e entrava de um modo que não conseguia conter, com meu peito ardendo e pulsando com a falta de ar que sentia.

— Socorro!! — Ofegante com dificuldade de respirar.

Será que ninguém percebe que eu preciso de ajuda?

Será que sou tão invisível assim?

Era tão agoniante!

Tão desesperador!

Eu envolvia minhas mãos em volta da minha garganta, no meu rosto, tentando impedir aquele líquido entrasse dentro de mim, mas nada parava que de alguma maneira parecia estar me afogando em meu próprio ar.

Era uma dor enorme no meu coração que parecia que a qualquer momento fosse rasgar e abrir a minha pele e sair de tanto que batia. Passava tantas informações na minha mente, cenas que eu não conseguia processar, distinguir o que era real ou invenção minha e o meu rosto todo molhado, ensopado de suor, entretanto a água continuava a entrar me fazendo perder força, me fazendo desistir de lutar...

Mesmo eu sabendo que não estava em um mar aberto, estava ali, sentada no vaso branco no banheiro da escola.

— Mãe! — Digo segurando o choro assim que ela atende o telefone — Deixa eu ir pra casa.

— O que você tem? — Perguntou ela? Tentei segurar as lágrimas, mas foram em vão — Precisa ir ao médico?

— Não — Respondi desabando aos prantos — Eu só quero ir pra casa — Implorei.

Minha mãe chegou em menos de 20 minutos e o professor já estava dando aula, entretanto eu não tive coragem de voltar para lá, e vê-los me olhando, surrando sobre mim.... Eu não suportaria mais. Então uma das agentes da escola ficou de recolher meu material.

Eu não sei o que aconteceu comigo, porém depois de ouvir as palavras de minha mãe era como se, aos poucos, meu corpo começasse a subir para a superfície e a dor do meu coração fosse diminuindo e o volume do meu cérebro fosse diminuindo e tudo começasse voltar ao normal, mesmo que pouco a pouco, principalmente quando entrei no carro para ir embora.

Eu não sei dizer o que senti, mas era uma sensação horrível que não quero voltar a ter experiência nunca mais.

Faltavam apenas 3 meses para acabar o ensino médio e na Faculdade tudo vai melhorar, certo?

Magnólia (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now