CAPÍTULO 5

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Sinceramente, não tem nada melhor do que Halloween numa sexta-feira.

O dia na escola é meio eletrizante, o que parece deixar as aulas menos chatas e os professores, mais engraçados. Estou com orelhinhas de coelho de feltro presas com fita adesiva no capuz do casaco e um pom pom branco costurado na calça. Pessoas que nem conheço sorriem para mim nos corredores. Riem de um jeito legal. É um dia incrível.

Daniel vai para casa comigo; vamos andando até a casa de Jihyo mais tarde e Chan vai buscar todos nós lá. Chan já tem carteira, o que faz toda diferença. Eu também dirijo, mas só posso levar mais uma pessoa no carro além de Soyeon, sem discussão. Meus pais não são rigorosos com muitas coisas, mas são ditadores quando o assunto é direção.

Daniel desaba no chão agarrado a Billie assim que entramos na cozinha. Ele e Chan podem não ter muito em comum, mas os dois são obcecados pela minha cadela. E Billie está pateticamente deitada de costas, a barriga exposta, olhando para Daniel com uma expressão sonhadora.

Billie é uma dachshund de pelos longos e olhos grandes, castanhos e meio alucinados. Jungkook ficou muito satisfeito quando teve a ideia do nome, e não vou mentir: é perfeito.

— Onde vai ser? — pergunta Daniel, olhando para mim.

Ele e Billie estão entrelaçados em um abraço eterno, os óculos dele caindo sobre o nariz. Muitas pessoas usaram uma fantasia simples na escola, só orelhinhas de animais, máscaras e coisas assim. Daniel resolveu aparecer com uma toda elaborada do Harry Potter.

— A casa da Ryujin? Fica em algum lugar no centro, eu acho. Jihyo sabe.

— Então basicamente quem vai estar lá é o pessoal do basquete?

— É provável. Não sei.

Eu recebi uma mensagem da Martírio Abominável confirmando presença, mas acho melhor não mencioná-la nesta conversa.

— Ah, tudo bem. Vai ser legal.

Daniel tenta se soltar de Billie e a sua camisa mal abotoada se abre, deixando o tronco completamente exposto. Acho engraçado. Até onde sei, todo mundo pensa que sou hétero, mas Daniel parece já ter percebido que não precisa ficar se policiando perto de mim. Ou talvez seja só o jeito dele.

— Ei, está com fome? — pergunta ele. E eu percebo que deveria ter oferecido alguma coisa.

Acabamos fazendo queijo quente na sanduicheira e levando para a sala, para comer em frente à TV. Soyeon está encolhida no canto do sofá lendo Macbeth. Acho que isso é bem Halloween. Soyeon nunca sai. Ela olha nossos sanduíches e, um minuto depois, levanta-se do sofá para fazer o dela. Se ela queria queijo quente, deveria ter dito para mim, ora. Nossa mãe enche o saco dela às vezes para que seja mais assertiva. Mas eu também podia ter perguntado se ela estava com fome. Tenho dificuldade de me colocar no lugar dos outros às vezes. Acho que é meu maior defeito.

Vemos programas aleatórios com Billie estirada entre nós no sofá. Soyeon volta com o sanduíche e retoma sua leitura. Jungkook, Soyeon e eu costumamos estudar na frente da TV ou ouvindo música. E, mesmo assim, todos tiramos notas boas.

— Ei, é melhor a gente se arrumar, né? — diz Daniel.

Ele levou uma fantasia completamente diferente para usar na festa, porque agora todo mundo já tinha visto a de Harry Poter.

— Só temos que chegar na casa de Jihyo às oito — explico.

— Mas você não quer se arrumar para dar doce para as crianças? — pergunta ele. — Eu sempre odiava quando as pessoas não estavam fantasiadas.

Heejin vs The Homo Sapiens AgendaWhere stories live. Discover now