A proposta

28 2 0
                                    

Segunda feira chegou. Oh! Eu realmente não estava nada afim de ir para faculdade, enfrentar Gabriel, olhar nos olhos deles e.. Sei lá. Saber que eu teria que olhar nos olhos dele e falar com ele como se tudo estivesse normal me dava repugnância. Entrei na sala de aula e me dirigi ao fundo da sala para tentar achar um lugar que poderia focar nos meus pensamentos perturbados sobre o meu final de semana, sobre minhas descobertas. Tinha até a impressão de que sentar ali fosse criar um domo à minha volta e eu pudesse sentir tudo o que escondia. Jack estava certa! E só consigo admitir isso agora porque passei o domingo inteiro chorando ao começar a aceitar que realmente não o amava como pensava, que era apenas meu amigo e confundi isso. Lembro-me da época em que éramos inseparáveis. Eu e o Gah! Mas não como um casal romântico mas sim como uma dupla de amigos, como na infância em que seu par te faz rir e vocês se divertem como se o mundo não existisse. Foi assim com o Gah, eu só o via como alguém que estava ao meu lado para tudo. Ele realmente era muito bom... Bom até demais, o que me pesou a consciência. Fiz besteira. Eu o iludi e agora eu vou partir o seu coração. Talvez eu tenha aceitado a namorar com ele num momento ínfimo de carência, de problemas, de solidão. Mas amar? Se amar tem uma definição não era com o Gah que ela se encaixava. Não comigo. Tudo isso me dava náuseas. Não podia suportar isso, vê-lo sofrendo por minha culpa! Ai senhor, como vou dizer isso para ele? Será que ele vai me odiar? Eu não quero perdê-lo, é muito importante na minha vida. É impressionante como temos medo de mudanças. Medo de pôr pontos finais. Como se fossem meros pontos, são extensos espaços de sentimentos. Tristes em sua maioria. Estava tão mergulhada nos meus pensamentos que nem reparei o professor bonitão, nem reparei os outros entrando. Só notei quando o "Sr. gostoso" me chamou e perguntou alguma coisa que obviamente eu não sabia.
- An? Oh.. Desculpa Sr. Marcos, não sei a resposta!
- Anna, esta tudo bem? - concordei com a cabeça e ele continuou a aula. No final da aula eu estava inerte. Sem reação. Eu não ouvira uma palavra do que o bonitão tinha dito. Já estava saindo da sala quando ele me chamou para conversar, falou meu nome enquanto estava sentado na mesa retangular com seus braços apoiados nela, dando uma impressão de sábio e charmoso com aquele ar de indiferença. - Anna, o que está acontecendo, e não me venha com nada, porque eu sei que tem alguma coisa! Sou professor de interpretação, lembra? - deu um pequeno, mas lindo, sorriso - Oh, não é nada. Sério! Problemas com namorado, só isso...
- E não quer conversa sobre isso?
- Não precisa, já sei o que fazer. Obrigada pela preocupação - dei um sorrisinho e saí. Logo quando entro no corredor, dou de cara com o Léo.
- Definitivamente a gente precisa parar de se encontrar assim - ele disse e rimos. O tempo parou para mim mais uma vez. Eu o fitei por alguns segundos e. não, não o amava, nem gostava, só estava atraída por ele, nada de mais... Estou atraída pelo meu professor, o Sr. Gostoso...
- O que foi? Por que está me olhando? - perguntou ele franzindo a testa. Merda! - Ah nada, é que não to muito bem hoje e você conseguiu me fazer rir... - antes que eu possa concluir alguma ideia, Gabriel aparece no corredor, mas não havia nos visto ainda e eu fecho a cara, uma tristeza toma meus olhos, meu coração acelera e sinto um nó na garganta, lágrimas ameaçam sair, mas eu me mantenho forte. Engulo o choro como a mãe manda uma criança fazer. - Problemas no paraíso ? - perguntou Leonardo . acho que ele percebeu minha mudança súbita - Está tudo bem entre vocês Anna?
- Não. Sim. É complicado - e não posso falar com você sobre isso né queridinho, se liga gato! - Fala que não me viu, por favor. - ele olha confuso, mas concorda com a cabeça. E saio igual um furacão para a próxima aula.
A semana passou rápido e consegui evitar o Gabriel a semana toda. Não sei como, mas consegui. Era sábado à noite já, Jack havia saído e eu estava em casa vendo filme quando a campainha toca. Abro a porta e ele esta lá. - Gabriel? Oi! O que faz aqui? - pergunto surpresa com a visita inesperada. - Vim ver minha namorada! Porque ela fugiu de mim a semana toda - corei e dei um sorriso tímido - Agora vá se arrumar que tenho uma surpresa para você. E não aceito nenhuma desculpa - oh merda! Uma surpresa? Sem muito ânimo e deixando isso claro fui me arrumar. Coloquei meu vestido preto justo, saltos pretos, estava com preguiça de alisar o cabelo então fiz um coque. Passei um batom vermelho e uma sombra marrom claro. Não queria ir muito chique e nem muito desarrumada porque não sabia aonde íamos. Fiz tudo muito de pressa para evitar que os pensamentos voltem. Eu queria que aquilo não estivesse acontecendo. Terminei de me arrumar e fui até a sala onde me esperava. - Ah, você está... linda como sempre - Obrigada - sorri - Vamos? - ele acenou com a cabeça. Demorei a perceber que o caminho que fazíamos era o da sua casa. - Vamos para sua casa? Essa é a surpresa? Porque eu já fui muitas vezes lá - disse tentando passar um pouco de humor que não havia. - Relaxa, que já vai ver - um sorriso malicioso surgiu em sua boca. Chegamos no seu prédio, ele entrou na garagem e entramos no elevador. Vi que ele não havia apertado o botão do seu apartamento, e sim um outro que não sabia para que andar dava. Quando estávamos no décimo quinto andar ele pegou uma venda do seu bolso e colocou em mim. - Pra quê isso? - estava assustada já. - Para que a surpresa seja mais surpresa ainda. - isso não faz muito sentido, mas beleza - ri. Não sei porque ri.
Ele pegou minha mão e me puxou para fora do elevador, senti um vento. Onde estamos? Acho que no telhado! Será? O que vamos fazer aqui? Se ele quer sexo no telhado, vai apanhar porque não vou fazer isso aqui! Vai que o google maps está renovando e aparece nós dois lá, transando! Pelo amor de Deus né, ninguém merece isso. De repente paramos de andar, ele tira a minha venda e ... oh nossa senhora da...sei lá da onde, mas ual. Estamos realmente no telhado mas esta lindo, uma mesa no centro, com toalha branca, velas por toda a parte, pétalas de rosas espalhados, música romântica tocando no fundo, as pequenas árvores que haviam ali estavam cobertas de luzes. Estava tudo lindo, como uma cena de filme. - Meu deus, que lindo, você fez tudo isso? - perguntei e ele acenou com a cabeça. Merda! Ele dificulta tudo. Como posso termina agora? Sentamos-nos, comemos macarrão com molho branco e bacon, meu prato preferido. Conversamos a noite toda, mesmo me sentindo desconfortável com a minha real intenção. Gabriel levantou-se e saiu sem falar nada, acho que deve ter ido ao banheiro ou algo to tipo. Poderia ter avisado, que rude! Rude? Você quer termina com ele porque se sente atraída pelo melhor amigo. Acho que você tem que rever seu conceito de rude queridinha! Pronunciou-se a voz de Jack na minha cabeça. É tipo meu subconsciente com a voz irritante dela. Vou colocar-la de volta no fundo da minha mente para não me irritar. Ai Deus, me dê força depois de hoje para terminar com ele. Não posso mais dar esperanças, não posso prender a mim. Ele tem que ser feliz. Encontrar alguém que o ame na mesma intensidade que ele a ame. As lágrimas ameaçam a cair, mas não posso permitir, ele não pode me ver chorando, vai achar que tem alguma coisa errada comigo. Não posso acabar tudo depois desse jantar maravilhoso e do trabalho que ele teve pra arrumar tudo isso.
- Anna, Esta tudo bem? - pergunta me acordando dos meus pensamentos. - An!? Oh sim - acho que ele percebeu as lágrimas nos olhos porque me olha com pena, eu acho. Não consigo entender muito bem sua expressão. - Ótimo - diz abrindo seu grande sorriso. Ainda sorrindo ele vem até mim, se ajoelha e pega minha mão e a beija, depois passa o polegar suavemente por ela, e me olha com os olhos brilhando, seu sorriso está maior que nunca. - Anna Catarina Collins..- odeio quando falam meu nome completo, me lembra o quanto minha mãe tem um gosto horrível pra nomes... Mas espera um momento, por que ele ta falando meu nome completo? Oh meu Deus, espero que não seja o que estou pensando -...sei que essa semana a gente não se falou muito e não sei o porque, nem me importa o motivo. Só me fez perceber que não consigo viver sem você um minuto se quer, você é tudo pra mim. A minha razão de viver. Sei que pode ser um discurso meio clichê, mas é a verdade! Eu a amo mais que tudo e quero passar o resto da minha vida com você.. - Jesus, isso não ta realmente acontecendo né?
-... Quer se casar comigo?

Cartas de um suicidaWhere stories live. Discover now