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00:00 - 01:00 - Muito mais que um Dia de Cão.

- Conversar sobre? - Eu pergunto, digamos, emputecido

- Exatamente, temos tanta coisa para conversar. Afinal, eu sou o responsável por destruir a sua vida em quarenta e oito horas, digamos que, eu sou o tal demônio que tanto procurava. Bem embaixo do seu nariz.

- Eu meio que já percebi isso, Kris. Só quero que me explique o porquê de tudo isso.

- É bem simples na verdade, você é extremamente influente, tira-lo da jogada de uma forma nada heroica faria sua fama se reverter contra você, e ser totalmente passada para uma segunda pessoa, no caso eu. Eu poderia ser o rosto desse departamento, as pessoas procurariam por mim para ajuda-las e não a você. Eu seria o herói. O bom e velho capitão se tornaria o grande herói dessa cidade.

- Você seria uma farsa, exatamente como eu. Não percebe? Não valeria a pena, seria como obter uma maldição por pura e plena vontade própria.

- Você já era uma maldição, eu trabalhei sem parar por todos esses anos, eu dei a merda do meu sangue para me tornar capitão, tudo para ser transferido para um departamento de merda, aonde um enorme merda de detetive sempre tem a última palavra.

- Tudo isso, por ódio? Ódio e poder?

- É exatamente aí que o universo entra, com uma de suas grandes coincidências, enormes coincidências. Ele me apresentou nosso amigo, B! Ele tem um enorme interessado em você, e no passado de seu covarde pai, digamos que interesses similares geram missões similares. Cá estamos nós, não é?

- Então isso é para ambos? Vocês queriam me tirar da jogada para terem o poder da cidade?

- Lucas, preciso que entenda uma coisa. Isso está muito longe de você, ele já tem todo o poder da cidade, eu sou apenas um mordomo comparado a ele, achas mesmo que toda aquela religião foi criada com o único propósito de retira-lo do poder? Você nem é tão poderoso assim. Digamos que você é como a vida de um mero ser-humano em meio a enorme linha que é a vida por um todo. Sendo a linha da vida, o nosso plano, entende?

- É, deu pra entender, Kris.

- Creio que não, mas, vou contar para ti uma curiosidade sobre toda essa história. O plano era básico, as drogas do cachorro e os presentes, apenas, nada além disso. A droga por si, já é complexa, além de criar visões infernais em quem usa, atrofiando o cérebro por inteiro em poucas horas, ela faz com que o usuário volte a seus instintos mais selvagens e primitivos, se tornando quase como uma fera. - Ele diz, andando de um lado para o outro. - Seu sangue ferve como água quente e destrói quase todos os órgãos do usuário, fazendo com que o peso de seu corpo diminua de forma absurda, ele chega a pesar duas vezes menos que o tamanho original. Mas há algo que torna essa droga em algo ainda mais especial, ela muda por completo o DNA do usuário, o transformando em algo impossível de classificar, é como um enorme pulo -Ele salta no mesmo lugar - na história da ciência da humanidade.

- É, não? Eu tenho certeza que algum cientista maluco já criou uma espécie de DNA maluco parecido, que não podia ser identificado, no máximo seu amiguinho só aperfeiçoou a formula.

- Ainda não contei aonde você se encaixa, essa enorme obra de arte, também reformula a pessoa por fora, mais especificamente, as digitais. Ele as transforma nas suas, e sabe, há uma dezena deles correndo por South City e fazendo ultrajes nesse exato momento, famílias sendo mortas, crianças e...

Nesse momento o celular em meu bolso vibra, e ele sorri e diz:

- Vai lá, pode olhar, não vou te matar por causa disso, ao contrário de outros policiais, sei diferenciar uma arma de um celular. Pode pegar. - Ele diz, sacudindo a arma para mim - Deve ser nossas queridas amigas.

Eu pego o celular e...

- PEI! - Ele grita, e logo ri sarcasticamente

- Engraçado. - Eu sussurro, e então pego o celular

Era Rebeca, após me mandar cinco mensagens dizendo apenas 'Lucas' em menos de dois minutos.
No segundo que atendo, percebo um som de choro forte no fundo e que na verdade Isabella havia me ligado com o celular de Rebeca, ela então receosamente diz:

- É... Eu meio que não sei por onde começar...

- Como assim, o que rolou? - Eu digo, cedendo a vontade de andar, indo em direção ao Kris que me olhava tranquilo

- É que.. O terceiro presente chegou e quem diria, não é uma bomba.

- Isso é bom.

- Na verdade é a Jennifer. E ela tá em uma caixa, tipo a da Joana.

- ...

- Sua filha tá morta, Lucas. Eu sinto muito.

Eu simplesmente solto o telefone, sem dizer uma se quer palavra, a sensação destruidora de ódio em meu peito havia retornado e dessa vez não havia quem me parasse. Eu corro em direção ao Kris, sem o minimo pudor, ele responde disparando diversas em minha direção, acertando apenas uma em meu braço. Embora a dor tomasse conta do meu corpo por um microssegundos, todo o ódio servia como um analgésico poderoso que apenas fez minha raiva por tudo crescer.
Eu pego a arma de sua mão e o jogo violentamente contra a parede, e logo coloca a arma em sua cabeça, pressionando do-a enquanto olho em seus olhos.

- Chegou? - Ele pergunta sorridente

- É, chegou.

- Sabe, eu não imaginei que saberia que tudo foi eu quando chegaria, estou feliz em estar aqui, de verdade. Pode ser engraçado a princípio, mas somos extremamente parecidos, Lucas.

- Você é um psicopata, Kris.

- E você é o que? Um sociopata? Um péssimo policial? Um assassino?

- É, coisa do tipo.

- Viu? A questão, Lucas. É que desde o berço somos parecidos, de uma família humilde e de um lugar do qual ninguém dá nada, e que a grande maioria morre, crescemos cercados de criminosos. Meu pai? Ele era um carpinteiro, exceto por carpintejar o martelo em minha cabeça. Brincadeiras a parte, ele não era tão bom comigo, sabe? Podia ser extremamente amável quando bêbado mas muito abusador quando não, entende?

Ele olha pela janela, e uma lanterna no topo de um prédio pisca. No exato segundo seus olhos se encharcavam e um sorriso deprimente se forma, enquanto as lagrimas escorriam pela sua bochecha. Ele então continua, cabisbaixo:

- Sabia que a religião foi toda uma criação das pessoas que participam? Pois é. E.. Tem outra coisa, foi um prazer te conhecer, Lucas. Um enorme prazer te-lo aqui, é uma tristeza que meu plano não foi como o esperado, ainda assim, eu adorei. Te vejo logo, Lucas.

No exato segundo que ele diz isso, um disparo é feito do exato lugar aonde a lanterna havia sido ligada, acertando em cheio seu estomago e passando de raspão, cortando minha perna.
Eu me afastei mancando, e sua barriga logo começou a sujar totalmente de sangue, ele então me olha sorrindo aliviado, e diz:

- Faça a escolha, Lucas. Mas saiba que isso é muito maior do que você, e talvez não sobreviva a tudo isso. - Mais três disparos são feitos, perfurando sua barriga varias vezes.

Ele então cai, quase morto, e então sussurra:

- Tenha um feliz natal, Lucas. Sinto pela sua perda. - Sua vida se dissipa no ar frio da noite

Eu ando até meu telefone, e o pego. E então falo para Isabella:

- Acabou, tudo acabou.

- Lucas, acho melhor que venha pra cá, tem um cara estranho na televisão...

01:00 - 01:00 - Sombras antes das Trevas

Foi assim que as primeiras quarenta e oito horas chegaram ao fim, as primeiras horas do que acabaria se tornando o grande estopim para South City. Foi assim que começou a história de Lucas. A escuridão então tomou conta daquele lugar, o sangue de Kris secaria logo e o mundo se tornaria mundano por algum tempo, mas a paz nunca reinaria em South City, pelo contrário, algo a tempestade estava por vir.


South City (Livro Um)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora