04 | O verdadeiro merecedor

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Era uma da tarde em New Hampshire, estava calor como em todos os três dias que haviam se passado desde que Jimin levou sua carta para a biblioteca.

O ruivo planejou um descanso para si — tanto mental quanto corporal — então passaria a tarde sem treinar nada, coisa que andou fazendo em excesso para que pudesse desviar um pouco sua cabeça dos problemas, aflições e a questão de Jeon Jungkook aparecer ou não.

No fim das contas sequer havia como saber se foi apenas ignorado ou se ele nem mesmo leu seu recado. Era o início da tarde do quarto dia sem vê-lo e a agonia diminuiu gradativamente. Mas ainda havia um fio de esperança que percorria seu corpo toda manhã quando acordava e quando estava indo dormir, relativamente mais tarde do que seu habitual, vergonhosamente — ou não — esperando ouvir batidas na porta ou passos; qualquer coisa que indicasse que Jungkook pelo menos apareceria ali para dizer algo como: "eu não vou ter absolutamente nada com um mentiroso"

Não pôde evitar que seus pensamentos tomassem certo rumo indesejado, afinal de contas era exatamente por aquele motivo que as pessoas de fora não permaneciam na sua vida. Kim Seokjin, seu fiel melhor amigo é uma rara exceção. Se conhecem desde muito, muito tempo. Confia sua vida a ele.

Agora, enquanto ajeitava seu mais novo canteiro de flores, era um dos momentos que se sentia bem e em casa. Para algumas pessoas pode parecer sufocante viver a vida inteira no mesmo lugar; sem vizinhos próximos, sem um grupo grande de amigos, e escondido.

Jimin confessa que já pensou em apenas se mudar para a cidade e ignorar completamente a existência de qualquer dom em si, como se não existisse. Mas toda vez que via o sorriso da sua mãe lhe ensinando alguma nova habilidade, ou lendo histórias, tudo mudava.

Não podia abandonar sua família ali, viver como um humano normal ainda daria trabalho. Seria frequentemente questionado, como foi com Jeon pela primeira vez, por causa da beleza estonteante, da pele muito quente... Qual seria a graça ir para a cidade e ter que repelir toques frequentemente para as pessoas não perceberem sua derme sempre em chamas? Não poderia nem mesmo ter relações com alguém. O que diriam? Que ele era um alfa? Algum tipo de híbrido sem cauda nem orelhas? Ou que tem uma alma lupina que não lhe permite transformação completa?

Só iria se afundar em mais mentiras, e não era disso que precisava. Se Park pudesse, escolheria não ter contato com mais ninguém a não ser sua família, assim, não precisaria mentir nunca mais.

— Ah, espero não estar com o dedo podre. — Riu enquanto murmurava para as mudas pequenas que colocava ali. — Não morram, por favor, tem muita natureza por aqui, estão em casa.

Levantou-se com as mãos sujas de terra até em baixo das unhas curtas e bem cortadas, passando na calça de pano que estava com as barras levantadas até próximo o joelho, estralando o pescoço e se apoiando na pedra grande — como já era de praxe — tirando um galhinho que se enfiou entre os dedos só seu pé, fazendo cosquinhas.

Quando tornou a ficar em pé, para pegar a pazinha de Seokjin que estava usando, ouviu galhos quebrando e uma sola de sapato serpenteando nas pedrinhas da trilha do Flume, ainda um pouco longe dali. Entrou em alerta porque todos que moravam consigo não voltariam tão cedo, estavam todos resolvendo alguma pendência longe do lugar e, se não eram eles, só podia...

— Jimin. — E, pela primeira vez em dias, sentiu o aroma característico de Jungkook, assim como teve o prazer de ouvir sua voz, o que o fez virar de prontidão para onde ele estava parado, na entrada da clareira, olhando-o como se o chamado pelo seu nome tivesse sido desproposital, tanto que assustou o próprio Jeon.

Quando, finalmente, os olhos dos dois se encontraram, houve algo novo que parecia ter se instalado em volta dos seus corpos. Como se um único respirar mais eufórico fosse capaz de fazer aquele Flume ir ao chão, ceder completamente. Uma sensação estranhamente boa, algo os ligando, os fazendo entrar numa bolha onde as batidas dos corações frenéticos eram a única coisa ouvida.

Em Chamas | JikookWhere stories live. Discover now