30: E eu que te amo tanto te deixo ir

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Era a terceira cirurgia. Faziam 14 meses que James Potter estava em coma. A cada mês que passava as coisas iam voltando a normal, Lily observava. A academia aberta, os amigos voltaram para a orquestra, Snape e Sirius se dedicavam ao caso do atropelamento, Lily não havia conversado com Severo, e ele entendia, mas ela gostava de saber que ele estava tentando se redimir. Ela tinha esperança dele. Lily havia assumido ao lado de Remus e Frank a academia, se tornou professora e nunca havia imaginado ser professora. Neville crescia dia a dia, estava cada vez mais lindo e era a alegria dos amigos do Brooklin.

As estações passavam e a vida seguia. Lily ainda dormia várias noites seguidas no hospital. Naquele dia, James passaria por mais uma cirurgia para a retirada de um coágulo no cérebro, novamente. Fazia três dias desde a conversa com a senhora na capela. Aquilo fez Lily pensar muito, ela se perguntava se ele sofria, se ele sentia algo. Lily pensava sobre todas as coisas que James deixou por fazer, as partituras incompletas, as melodias, as palavras. Será que ele estava sofrendo?

Essa preocupação tinha se tornado constante. Ela não queria que ele sofresse. A vida ali estava continuando. Aos poucos todos seguiam a vida e James estava ali. Ele jamais iria querer que todos parassem por ele. Ela queria que ele fosse para casa, ela tinha reformado um quarto inteiro para ele. Mas, agora, não havia nem perspectiva.

Lily observava os enfermeiros prepararem James para a cirurgia. Eles arrumavam James na maca para levarem ele. Todas as cirurgias foram exatamente desesperadoras para Lily. Todas. Ela se sentia completamente desamparada. Sozinha. James, o arrogante, Potter mudou a vida dela desde do primeiro olhar. Não era difícil para ela admitir a realidade.

Ela sabia do fundo do coração que ela havia dito que sempre voltaria para ele na última vez que conversaram, mas devia ter dito mais. Devia ter dito que o amava. Devia ter dito que ele mudou tudo para ela. Devia ter dito que ele era genial. Devia ter dito que ela o admirava. Tantas palavras não ditas.

Que talvez nunca seriam ditas. Será que James tinha coisas por fazer? Será que ele precisava realizar algo? Lily torcia para que sim. Podia parecer egoísmo? Podia. Mas ela o queria de volta. Ela queria compartilhar a vida com ele. Ela queria ter uma família ao lado dele. Se era egoísta por isso, ela aceitava bem ser egoísta.

Mas apesar do egoísmo e de o querer tanto, ele precisava saber que estava tudo bem. Se ele quisesse ir, estava tudo bem. Eles ficariam bem. Eles se reconstruiriam. E mesmo que o quisessem ali, eles compreenderiam as escolhas de James.

A conversa da capela girava na cabeça de Lily. Todos os dias. Amor e liberdade.

Mas, principalmente, gratidão.

Todos que visitavam James contavam alguma história de como ele os ajudou de alguma maneira. Todos tinham coisas boas para falar do excêntrico gênio de Julliard. A forma como de certa forma ele sempre ajudava a todos a todo momento. Ele era realmente especial.

Quando percebeu que os médicos haviam terminado de colocar James na maca para mais uma cirurgia, Lily viu Remus, Frank, Marlene e Amos ao lado dele. Ela observava a cena distante dos amigos desejarem boa cirurgia a James e então, ela se lembrou do momento em que se conheceram, todos ele em volta de uma mesa tomando café.

Eles sorriram naquele dia, eles orbitavam juntos e eram, profundamente, amigos, mas nem por isso, afastaram Lily, Sirius e Alice, pelo contrário, eles os receberam e os tornaram parte da família.

Lily entrou e eles , menos Remus e Frank que continuavam ao lado de James, foram até a porta para esperá-la. Iriam fazer o de sempre, Lily pensou e passar horas e horas na sala de espera do hospital, angustiados e preocupados.

Lily se aproximou de James e dos amigos, quando viu Frank colocar a pequena foto 3x4 de Neville na mão de James e a fechar sussurando.

- Neville está esperando para conhecer o padrinho dele.

Frank se afastou e saiu do quarto se juntando aos outros.

Lily observou Remus segurar a outra mão de James e abaixar apenas para beijar a testa do melhor amigo. Não precisava dizer nada, Lily pensou, James sabia. Remus se afastou e deixou Lily tomar o seu lugar. Ela se sentou em uma cadeira e segurando a mão dele falou próximo ao ouvido dele tudo que achava que precisava.

- Tudo bem! O que você decidir está tudo bem. Nós vamos ficar bem. Se quiser voltar para nós, ficaremos imensamente felizes, mas se estiver doendo muito, nós entendemos. Eu entendo, meu amor.

Lily não chorou, apenas disse, beijou a testa dele e observou os médicos o levarem.

Ao chegar na recepção encontrou todos sentados desanimados. Foi, então, que fez o que James gostaria que fosse feito.

- Ok, pessoal! Um dia, um garoto estudante de música perdeu uma aposta para mim e me pagou 365 dias de café em uma cafeteria chiquérrima. Eu não usei porque tive que viajar, mas nós vamos usar hoje. Vamos esperar notícias de James lá.

Lily observou os amigos se levantarem hesitantes e disse:

- Vamos logo pessoal. Petúnia me prometeu que vai ligar assim que acabar.

Chegaram ao café e se sentaram na mesma mesa. Tomaram café e lembraram no dia em que se conheceram. Lembraram de James e riram, gargalharam. Juntos, como James sempre quis.

Quatro horas depois, o telefone de Lily tocou. Ela imediatamente colocou no viva voz para que todos da mesa escutassem.

Lily - Petúnia disse visivelmente abalada. Lily sentiu a voz da irmã e engoliu em seco. - James, ele. - O coração de Lily batía disparado e Lily pode sentir que os dos amigos em volta daquela mesa também. - O James acordou.

Lily não sabe muito bem o que aconteceu, mas de forma repentina eles estavam no hospital. Em menos de dez minutos haviam chegado ali. Remus, Frank, Marlene e Amos correram para o quarto, mas por algum motivo, Lily não conseguiu ir até lá.

A verdade é que ela se sentia culpada, James estava bêbado e por causa dela, Snape mentiu para ele. É claro que a terapeuta e os amigos diziam que a culpa era do homem que o havia atropelado, mas mesmo assim, ela se sentia péssima.

Ela ficou ali, parada na recepção até que Sirius e Alice chegaram.

- Sério, Lils? Você está cuidando dele há mais de um ano e agora está com medo de vê-lo? - Sirius disse.

- Era o milagre que você tanto esperou. - Alice disse enquanto segurava Neville sorridente no colo.

- Entrem, eu já vou. - Ela determinou. Ela criaria coragem para aquilo.

Lily foi devagar até a porta. Quando entrasse o vidro a mostraria pelo corredor direto para a cama onde ele deveria estar. Ela o veria. E ela o viu, ele estava com a cabeça enfaixada por causa da cirurgia, os cabelos bagunçados pretos escapando nos locais em que não havia raspados. Remus e Sirius abraçados ambos com lágrimas nos olhos. Alice e Frank estavam admirando a cena que se construía. Marlene e Amos estavam sentados e sorridentes, mais do que Lily já havia visto em toda vida. Naquele momento, ele segurava Neville e ela pode ler a seguinte frase dos lábios dele, enquanto ele admirava o afilhado.

- Vou compôr uma sinfonia para você, pequeno ser humano que eu mais amo no mundo.

- Precisava terminar a minha sinfonia primeiro, Arrogante. - Lily entrou no quarto o encarando e ele subiu o olhar para ela.

James a observou e Lily sentiu o olhar dele percorrer seu corpo e seu rosto. Lily observou que ele estava atento a cada detalhe da cena. Ele estava sério e ela achou, no mínimo, corrente com a última lembrança que ele tinha dela. Ela dizendo que voltaria para ele e ele recebendo a informação de Snape.

Mas Lily estranhou a demora para responder que James teve. Ele examinava o momento com curiosidade como se não conhecesse. Lily engasgou com a possibilidade quando ele disse tranquilo.

- Quem é você?

Por quanto tempo vou te amar? James e LilyOnde histórias criam vida. Descubra agora