Capítulo 1 - Sorte ou azar

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Seria azar ou burrice demais?

Talvez eu não devesse pensar muito sobre isso, reclamar ou sequer me importar com tudo o que meu casamento havia se tornado ou dado de errado.

Sinceramente eu não conseguia compreender como havia chegado até aqui, como poderia eu, sempre elogiada por minha enorme sensatez, me deixar levar pelo brilho vagabundo de alguém que futuramente vim a descobrir se tratar de um ouro tolo, brilhava, aparentava, mas não era, não de verdade.

Eu me tornara uma sombra, só havia resquícios do que um dia eu havia sido, ou talvez eu a muito estivesse adormecida, não sabia, mas não me sentia eu mesma.

Ele me transformara na minha pior versão. Ele me vestira com suas roupas caras, me exibia e dizia exatamente como eu deveria ser.

Eu era um fantoche, finalmente havia percebido.

                                                                                                .

                                                                                                        .

                                                                                                               Porém tarde demais. 



As coisas estavam cada vez mais cansativas, encarei solitária o quarto de hotel desistindo de permanecer naquela maldita inércia.

Por debaixo da cortina pesada, ainda passava pequenos fios de luz, filtrando os traços de vivacidade tão sedutores que pareciam vir do lado de fora da janela.

O teto foi encarado por mim pela última vez ao soltar o ar preso em meus pulmões, liberando a sensação pesada contida em meu peito. Eu queria gritar, chorar ou demonstrar qualquer forma de sofrimento condizente com a situação o qual eu me encontrava, mas nada vinha, nada tão direto e simples, não, em vez disso, de tudo o que poderia ter me restado, só sobrou uma muda indignação.

Meus olhos fecharam mas não havia em mim um só pingo de sono, eu não estava nem perto de dormir, ansiava por mais, por uma noite agitada ou ao menos diferente. Uma o qual me fizesse lembrar quem eu realmente era, queria me divertir, ou apenas fazer algo que me lembrasse que estava viva ainda. - Eu queria enlouquecer.

Uma vez, em algum lugar, ouvi dizer que abençoado era o louco por não viver no mundo, e sim o mundo viver nele. Viver a sua própria realidade parecia emocionante agora, um lugar no qual você não se preocupasse com formalidades ou impressões, um mundo que não esperasse nada de você, que as pessoas não esperassem nada. Simplesmente parecia perfeito.

Sorri ao deixar aquele quarto de hotel, decidida a fazer algo, qualquer coisa, pequeno ou grande, só chega, chega da inércia, da monotonia inquietante e de dias solitários. Eu iria fazer algo com o meu tempo. Ou pelo menos algo que não fosse estar ali passiva, fazendo exatamente o que ele esperava de mim.

Caminhei por aqueles corredores sentindo o clicar dos meus Louboutins, como se essa fosse uma trilha sonora instigante. Eu havia me vestido como sempre, mas me sentia especialmente mais bonita hoje, talvez por agora estar finalmente tentando viver, ou porque sem ele por perto eu vivia. Não sabia, mas eu sentia a vivacidade correndo pelas minhas veias como a muito não havia.

Eu enlouqueceria da melhor forma que eu sabia, eu beberia até não sentir mas o gosto do que estava engolindo. E por sorte o Plaza possuía um excelente bar. Sentia essa necessidade, precisava sentir o álcool descendo pela minha garganta, quente e ávido, me deixando tonta.

A Esposa do SenadorWhere stories live. Discover now