Capítulo 2 - Cara ou Coroa

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O tempo em Nova York estava frio, mas não tanto quanto poderia ser, apenas algo típico de um dia nublado de primavera, algo como gelado. Senti meus pelos se arrepiarem em contato com a brisa gélida. Eu não tinha me preparado para caso tivesse que sair correndo, isso era ridículo, ninguém se prepara pra isso e o estranho ao meu lado, o que eu estava pensando ?

— E agora ? Quer fazer oque ? — ele perguntou me fazendo fita-lo aflita, aquela pergunta era como se desse voz aos meus pensamentos, e eu estava em uma onda conflituosa deles, estava enlouquecendo, mas ele piorou tudo ainda um pouco mais me fazendo responder aquela estúpida pergunta.

— Merda! Não faço ideia.

Intenso ele riu, verdadeiro e sincero, aquilo animou o ambiente, eu não sabia porque ele ria, mas isso meio que melhorava um pouco as coisas.

— Você conseguiu me sequestrar, me tirar daquele tédio e não tem nem um plano de ação? — ele riu ainda mais. — Vamos lá, você consegue pensar em algo interessante.

Se eu poderia ? Claro que podia, olhar em seus olhos era como acender um lábareda em mim e seu corpo então... uma completa perdição, eu conseguia pensar em muitas coisas em que ele estivesse presente, muitas atividades o qual julgaria ser no mínimo interessantes, mas nenhuma ele estaria pronto para saber agora.

— Na verdade não, não tomo minhas próprias decisões há algum tempo, meu casamento acabou se tornando isso, não escolho nem o prato que como, tudo acaba sendo decidido para mim por uma equipe de assistentes e o inferno, acho que fiquei mal acostumada sendo a esposa de um senador ou seja lá o que isso signifique, sempre arrastada de um lado para o outro. — sorri frustrada.

— Certo, então decida agora. Qualquer coisa, sei que pode chegar a algo.

Encarei aquele homem crente que enlouqueceria, minha mente parecia tudo uma maluquice, era um completo caos.

John observou em volta cansado de esperar pela minha resposta e apontou para uma lanchonete distante dentro do nosso campo de visão, como quem tem uma ideia incrível para começar a noite.

— Ali!! Você está com fome ? Podemos começar com isso. — disse ele puxando a minha mão para perto do lugar, eu estava relutante.

— Não vou entrar aí, nem sei se é seguro. — Reclamei, desdenhando do local.

— Você tem uma ideia melhor ? — perguntou ele me fazendo torcer os lábios em desacordo. — Certo, vamos fazer assim... — disse enquanto retirava uma moeda do bolso. — Cara você entra, coroa não. Vamos deixar o destino decidir por você.

— Você vai mesmo decidir as coisa em um jogo de cara ou coroa? — ele apenas sorriu sem me dar resposta, mas o brilho dos seus olhos me dizia, que aquilo era um desafio e até onde iríamos com isso era um mistério. — Ok, atire logo essa coisa.

Johnson lançou o metal com a ajuda do polegar o fazendo rodar várias vezes no ar antes de pegá-lo e virar sobre o braço soltando a mão que tapava o objeto lentamente em seguida. Ele me encarou feliz ao fitar a moeda em sua mão.

— Parece que é o destino...

Revirei meus olhos pra ele em resposta.

— Parece que sim.

Aquilo era ridículo, mas meio que bom ao mesmo tempo, ele parecia divertido. Entramos na lanchonete simples, trabalhada em tons neons de rosa e azul, tão clássica quanto poderia ser. A atendente ainda usava aquele tipo de vestido/uniforme de botão com a plaquinha oval com o nome do lado esquerdo do peito, tudo muito comum, mas pisando ali que eu notei, quanto tempo havia passado desde que eu colocara na boca uma deliciosa porção de batata frita ou um suculento X-burguer acompanhado de um copo enorme de milk-shake. Ridículo pensar nisso, eu perdera tanto assim?

Eu não podia me ver mas tenho certeza, meus olhos brilhavam, eu lembrava agora, eu gostava do simples, de comidas rápidas e gordas, amava os food trucks e drive thru, sair de madrugada sentindo a brisa gélida e o silêncio noturno, parecia que aos poucos eu reencontrava mais e mais a mim mesma. Parecia que quanto mais distante do meu casamento, mais perto eu estava de mim mesma.

— Uma porção grande de fritas com bacon e um copo grande de Milk-shake por favor. — Disse para a atendente que anotava o meu pedido.

Sentamos a mesa mais distante do balcão, próximas às janelas, Eu encarei os alimentos à minha frente, me deliciando primeiro com o aroma incrível que eles produziam. Tudo era absurdamente nostálgico, eu saboreava apreciando cada mordida da mesma forma que eu sabia que tinha feito na primeira vez que havia sido apresentada a batatas-fritas como aquelas em minha frente agora.

— Você não vai comer ? — perguntou ele risonho.

— Óbvio.

— Você parece estar flertando intensamente com essas batatinhas.

— Algum problema com isso. — Eu ri.

— Claro que tenho. Não flerte com as batatinhas gata, elas não podem retribuir sua admiração desperdiçada.

Aquilo pareceu até poético saindo de sua boca, mas além da conotação sensual e cômica por trás da frase dita, parecia ser também uma certa metáfora desajeitada para o meu próprio caos, o cara poderia ser um estranho, mas era um estranho inteligente o suficiente para fazer uma piada ao mesmo tempo que dizia algo sério como: Não desperdice seu tempo com aquele babaca. Pelo menos foi o que pareceu.

A analogia pitoresca e completamente sexy realmente tinha me feito refletir sobre o meu relacionamento. O homem não foi muito observador, não era preciso tanto para chegar a obvia conclusão depois de presenciar aquela cena tosca, meu casamento a muito havia afundado só um cego não veria, mas por alguma razão ele parecia interessado em desperdiçar seu tempo comigo e disposto a ouvir sobre os meus problemas.

Eu gargalhei de seu comentário um pouco sem jeito.

— Apenas coma, o meu é apenas um flerte mas o seu mais parece um caso de amor não resolvido.

— Ultrajante.

— Ultrajante é os sons que você faz quando come, com certeza um caso de amor.

Ele gargalhou.

— Certo, vamos comer.

Devorei tudo sem deixar vestígios, enquanto conversávamos sobre nossas respectivas vidas. Ele possuía um humor contagiante e era fácil de conversar sobre as coisas com ele. Johnson não possuía tabus, pelo menos não no pouco que eu poderia dizer sobre ele, aparentava ser livre de julgamentos e isso era incrível para mim, sua liberdade perante a essas amarras sociais me deixava completamente encantada e rendida a ele. Parecia engraçado a nossa situação ou a loucura que estava sendo nossa noite, mas à medida que contávamos sobre nós, ficava mais fácil perceber porque nós entendíamos .

Hoje ele era um ator, já havia sido um lutador e também um astro do cinema, mas hoje ele era só um ator, e tão cansado quanto eu, ele estava de viver um papel que não parecia mais se encaixar.

O mundo da fama é duro, as pessoas esperam mais de você, esperam coisas das quais não são capazes de fazer, esperam um vida da qual não se sentem capazes de ter e lhe projetam suas ambições e angústias em pessoas que parecem tê-las conquistado, mas o que elas sabem realmente? Em um mudo onde tudo, absolutamente tudo é uma ilusão, a verdade é uma prisão, porque ao contrário de te libertar ela te consome.

— Por quê você ainda está com ele ? — perguntou, me atingindo de repente.

Meus olhos piscaram duas vezes sem realmente vê-lo, eu já havia pensado sobre isso, dando desculpas para mim mesma somente para não me condenar a verdade que parecia gritar em minha mente agora. Que eu não sabia, não... Que eu tinha medo.

Medo de tudo ter sido uma perda de tempo, medo de recomeçar.

Aquilo parecia tão ilógico agora, para onde haviam ido todas as desculpas que eu havia formulado para mim? Para onde haviam ido todas as confiantes respostas que eu me dava ao final da noite antes de dormir? Nenhuma estava ali, de alguma forma ele havia afugentado cada uma delas e agora eu me limitava a simplesmente dizer...

— Não sei.

A Esposa do SenadorWhere stories live. Discover now