Fazia tempo que ela não o via, afinal, a noite da apresentação na pratica não contava, de qualquer forma, Alicia não se lembrava do ex-namorado ser tão simpático, principalmente, levando em conta o que ela tinha feito.
— Não que seja uma boa hora, mas realmente...precisamos conversar. — Alicia estendeu o braço, convidando David para entrar.
Ela tinha evitado aquele encontro o quanto pode, sempre inventando uma desculpa para si mesma, quando na verdade, estava com muita vergonha de David.
Na recepção havia um sofá cor- de- rosa, ele caminhou até ele e se sentou, estava sem jeito e encarava Alicia o tempo todo.
Ela parou encostada no balcão de madeira e cruzou os braços, de cabeça baixa, pensava por onde começar.
— David, eu sei que deve estar com muita raiva de mim e você tem toda razão. — Ela arfou. — Mas se te conforta, eu me sinto péssima, envergonhada... — Ela o encarou.
David balançou a cabeça.
— Não vou negar que senti raiva de você, muita raiva na verdade. — Ele sorriu com amargura. — Mas passou, e eu senti, aliás... estou sentindo muito a sua falta.
Alicia pensou por alguns instantes no que acabava de ouvir e procurou dentro de si alguma reciprocidade ao que David havia dito, e não; ela se deu conta de que em todos aqueles dias, não havia sentido falta de David e nem de qualquer momento partilhado por eles.
— Eu queria poder dizer o mesmo, David, só que pra mim, independente do que houve, já estávamos fadados ao fracasso... — Alicia tentou dizer a verdade de uma forma mais amena, se é que isso era possível.
David arqueou as sobrancelhas, não esperava uma dose tão grande de sinceridade.
— Engraçado...pra mim parecia tudo bem. Você estava fingindo então?
— Não! —Alicia se incomodou com a pergunta. — Eu não estava fingindo, só acho que estávamos levando nosso namoro, e não vivendo-o como deveria ser.
— Como deveria ser, ou como você experimentou com ele? — David se levantou, virando de costas para Alicia. — Ele não blefou quando disse que aquele beijo não havia sido o único, não é?
Ela sentiu o rosto queimar, mas já deveria esperar que aquela indagação surgisse em algum ponto do embate.
— Eu preciso ser honesta com você...Eu me envolvi mesmo com ele, aquilo não foi só na apresentação.
Davi fechou as mãos e virou-se de volta para poder encará-la, ele mal podia acreditar no que estava ouvindo e por mais que já deduzisse a traição tivesse mesmo acontecido, escutar como as coisas se deram, foi no mínimo doloroso.
— Eu não reconheço você, Alicia, não acredito que fez isso comigo... — David cobriu os olhos com as mãos e começou a chorar. Ele sentia um ódio tão grande do irmão, que se o encontrasse naquele instante seria capaz de matá-lo.
E saber que Erick estava tão perto dali, literalmente a poucos metros de distância, amargurando o fato de David estar dentro daquele estúdio com Alicia. Quando o viu chegando, teve vontade de atravessar a rua e o impedir de falar com ela, e pior, quando viu que Alicia o convidou para entrar, chegou a ficar cego por um breve período, só não seguiu seus extintos porque tinha um bom motivo que o segurava. Ele não queria voltar a magoar a bailarina, Erick não conseguia esquecer seu olhar de decepção no último encontro que tiveram.
Estava morto de ciúmes, imaginado uma centena de milhares de coisas, lembrou-se dos dias de ensaios ali com ela, quando a paixão falava mais alto e Alicia não resistia aos seus beijos. Erick quase enlouqueceu só de pensar que Alicia pudesse estar naquele momento, nos braços de David.
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Um passo errado
RomanceA vida da bailarina Alicia Santteri na pacata cidade Santo Valle, no sul do Brasil, sempre foi calma e totalmente planejada. No ballet aprendeu a ser disciplinada e cada passo dado, tanto na dança quanto fora dela, era calculado. Tanta dedicação tem...