A solução

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Ela sabia que se batesse, gritasse, acusasse ele, arranjaria problemas e anunciaria que tinha seu filho contigo, e isso não poderia acontecer. Enquanto pensava no que dizer a Cam, Logan entrou na cabana à procura de Bonnie, que o escondeu entre os arbustos da entrada da vila quando viu o cavaleiro entrar atrás de Ian.

A escocesa sabia que teria que enfrentar esse encontro, mas pensou que ainda tinha tempo para se preparar, o que não seria o caso.

Assim que os olhos de Cam bateram no menino ruivo, sua cabeça deu um nó, um sentimento de déjà vu forte lhe invadiu, como se já o conhecesse, como se houvesse algo nele que o pertencia. Inconscientemente seu corpo foi para a frente, a fim de diminuir a distância entre eles, mas a moça desconhecida logo se pôs no meio.

- O senhor, quem seria? – Bonnie precisava de tempo e menos atenção no garoto

- Eu que deveria perguntar senhorita, já que é a vossa presença a novidade aqui

-Bonnie, eu sou Bonnie, e esse é Logan, meu filho – Apesar de apresentá-los, seu corpo ainda se manteve na frente do garoto, impedindo que Cam tivesse uma visão plena da criança.

- Sou Cam Mackenzie, líder desse clã e tio do homem que acabou de salvar, por isso fico em dívida com a senhorita...E gostaria de perguntar, qual seu clã para qual poderei entregar uma lembrança pela sua grande bondade?

- Não pertenço a nenhum clã, somos somente nós dois – Bonnie estava aflita, já tinha dado muitas informações a ele

- Sozinhos? Agora entendo o porquê de Ian trazê-los aqui...O rapaz é forte, mas tem coração mole (comentou o tio de uma forma ambígua, que Bonnie não soube identificar se era uma repreensão ou admiração) ...Saiba senhorita, enquanto a senhorita estiver aqui, cuidando dos meus, protegerei vossa família.

Bonnie voltou a respirar, e com um sorriso no rosto agradeceu o homem. Puxou o menino para ainda mais próximo dela, e de forma discreta, o colocou sentado em um assento próximo a cama na qual Ian descansava.

Seu coração se apertou em conflito, como era possível que aquele homem tão cruel, odiado por ela por tantos anos pudesse ser tão gentil. A fim de ignorar essa angústia, Bonnie começou a trabalhar.

Foram exatos três dias, a jovem nunca havia trabalhado tanto, verificava a temperatura de Ian a cada duas horas, trocava as bandagens, além de disponibilizar seus insumos e cuidados ao resto da vila, que foi afetado pelo ataque, além dos problemas cotidianos, como partos, queimaduras e coceiras.

Ela se sentia útil, sentimento esse que nem lembrava quando fora a última vez que sentiu, era reconfortante. Ali todos a admiravam, as crianças a seguiam para ver sua rotina de perto e as mulheres levavam chás e aperitivos enquanto ela zelava o sono de Ian durantes os ápices da febre. Era como se pertencesse a algum lugar novamente, e Bonnie só percebeu como sentia falta disso, agora.

A escocesa acordou de seu breve cochilo, e se pôs de pé, de volta ao serviço, indo em direção a cama do guerreiro ferido à sua frente, medindo sua quentura. Chegou próximo com sua mão da testa do homem, e para seu alívio, estava semelhante ao seu calor. A febre havia passado, finalmente.

Assim que ela se afastou, uma mão agarrou seu pulso, e seus olhos encontraram de Ian, que abriam completamente após dias.

- Obrigado, digo, por me salvar e cuidar de mim, foi muita gentileza sua. – Ian agradeceu, mesmo forçando sua garganta dolorida e seca decorrente do pouco uso

- É meu trabalho...e as boas notícias são que seu ferimento foi de raspão e a febre já passou, então se estiver se sentindo mais disposto, pode voltar as suas rotinas de forma lenta.

Ian não prestou atenção em metade do que Bonnie dizia, o som de sua voz e seu rosto, que indicava várias noites mal dormidas, o distraíram de uma maneira que o assustava. Em toda sua vida, o sucessor dos Mackenzie sempre teve tudo dentro de seu controle e cortara toda e qualquer distração.

Mas aquela moça de cabelos castanhos, apareceu em seus sonhos durante todos os dias que esteve de cama, e seu toque toda vez que delirava só aumentava seu calor, em outras regiões. O que fez com que Ian descobrisse seu novo ponto-fraco que deveria ser eliminado, antes que isso prejudicasse seu desempenho profissional.

Ele, ciente dos riscos que sofria em continuar naquela posição, soltou o pálido e delicado pulso de Bonnie, e se levantou gradativamente da cama enquanto testava o ombro, que apesar de meio travado referente ao tempo parado, já não sentia quase dor alguma.

Saindo da pequena cabana, já notou as diferenças que haviam sido feitas. Os homens já estavam terminando os consertos, e toda a região tinha sido limpa e já voltava a sua aparência normal. Um suspiro de alívio se fez presente.

- Estava indo falar com você, Ian, venha até meu escritório, preciso discutir alguns assuntos agora que está melhor – Cam diz aparecendo em seu campo de visão. E com uma mão em seu ombro não machucado, o guiou até o local.

A sala ficava dentro do casarão da vila, um lugar arejado e iluminado com um grande vitral, decorado de maneira rústica, tendo em vista que seu tio nunca se importou muito com estética. E bem no centro, duas poltronas eram posicionadas para uma das paredes onde ficava a lareira.

Ian foi até um armário o qual era usado para armazenar o montante de bebidas, e se serviu com um pouco de whisky, depois se sentou em um dos assentos, e esperou que o tio começasse.

- Pois bem, foi muita sorte a sua trazer a moça aqui justo naquele fático dia, mas eu te falei que eles estavam atrás de pessoas como ela, que nem proteção do próprio clã dispõe.

- É, realmente, mas podíamos mantê-la aqui. A vila parece ter aceitado ela bem.

- Esse é o ponto, ela pode até ficar aqui. Mas se pegarem ela, não tenho nada que comprove que ela é daqui. Não poderíamos protegê-la e nem pedir ao Rei que a liberte e seja misericordioso.

- Verdade, e o que você sugere? – Ian sabia disso, e esse era seu medo, tanto por ela quanto pelo menino.

- Que você se case com ela.

Uma mulher escocesaWhere stories live. Discover now