capítulo único ♧

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Algumas luzes noturnas invadiam os cantos do apartamento de Newt. Devia ser quase uma e meia da manhã, não tinha resquício de sono algum.

A verdade é que pensar no seu primeiro dia de aula em uma nova universidade, depois de desistir de biologia marinha após um ano, era desesperador.

Seu celular tocou. Uma chamada de vídeo piscava na tela com o nome "Sonya".

- Ainda acordado? - Ela riu assim que o irmão atendeu, estava de pijama com apenas a luz do celular iluminando o rosto.

- Você sabe, insônia e nervosismo. - Disse, segurando o celular enquanto caminhava para pegar um copo d'água.

- Vai se sair bem, já passou por isso uma vez... dizem que o pessoal do jornalismo é legal, não?

- É, mas sei lá... eu não me imaginava sozinho aqui. - A fala foi interrompida pelo barulho alto ressoando quase o ambiente inteiro, que fez Newt pular.

- O que é isso? uma invasão?!

- Quem dera. - Rolou os olhos assim que uma batida ritmada iniciou. - Vizinho baterista, talvez por isso estivesse mais barato esse lugar, corretores desgraçados.

- Você não dá sorte, né? - Precisou rir da indignação clara do irmão.

- Eu diria que mais ou menos. - A encarou sem jeito.

Sonya lhe devolveu o olhar malicioso com um sorriso idiota.

- Agora explique-se.

- Ah, digamos que o que ele tem de irritante e inconveniente, tem de gato. - Coçou a nuca com o arrepio que subiu pelo vento gelado, invadindo por uma fresta da janela. - Nos cruzamos algumas vezes no corredor e no elevador, o nome dele é T... Sei lá, algo com T... Thiago...?

- Chama ele pra trocar a resistência do chuveiro, algo assim. - Sugeriu já mostrando a segunda intenção.

- Eu sou um homem difícil, Sonya!

- Conhecia você antes mesmo de nascer, deixa de ser mentiroso. - Bufou.

O garoto riu rolando os olhos e logo em seguida assustou-se mais uma vez com a batida forte e estridente. Devia ser um dos pratos da bateria.

- Preciso ir, amanhã vou ajudar mamãe no mercado. - Bocejou com os olhos castanhos pesando.

- Okay, vou tentar dormir, ignorando meu querido e conveniente vizinho! - Gritou a última parte, esperando que o dito cujo escutasse e percebesse o incomodo. - Diga que estou com saudades, amo vocês.

- Também estamos, Newtie. - Sorriu. - Também te amo.

A chamada encerrou-se. Esses rápidos minutos aconteciam duas vezes na semana pelo menos. Era uma forma de sentir que não estava tão sozinho.

A brisa fria continuava uivando na janela e fazia os pêlos de seu corpo arrepiarem. Sabendo que acabaria com calor no meio da noite, Newt apenas vestiu um moletom estilo canguru na cor branca, sem camiseta por baixo.

Chegou a pensar em deitar e colocar alguma música ou som relaxante para dormir logo, mas em dado momento, um ritmo mais grave fez os quadros da parede tremerem.

- Não é possível, caralho. - Murmurou, saindo apenas de meias, dando de cara com a porta do outro residente.

Pensou primeiramente em como pedir com educação para que ele parasse, de preferência sem falar algo como "Enfie essas baquetas no rabo e vá dormir."

Respirou fundo, batendo contra a madeira usando os nós dos dedos. Inicialmente o som continuou, então imaginou que ou estava sendo ignorado, ou de fato o outro não havia escutado. Tentou novamente, dessa vez com o punho fechado.

simon says | newtmasWhere stories live. Discover now