Capítulo 10

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Não é preciso provar quando se ama alguém, se as pessoas se entendem por um olhar, um sorriso ou o mais simples dos gestos já é o suficiente para saber que se ama. 

A mesa comprida com os três casais se encontrava em completo silêncio enquanto dois desses casais observavam sem entender todos os toques e abraços do que conhecemos mais recente, Ramon e Renata pareciam apenas um enquanto comentavam dando risada sobre algo que viam junto em seus celulares.

Agradeci mentalmente quando o garçom veio tirar nossos pedidos fazendo os dois voltarem a realidade de que um encontro "triplo" não é nem um encontro romântico onde você vive no seu mundinho colorido, Ramon parece inclusive ter acabado de sair de um livro onde ele é o protagonista.

Até mesmo o estilo magrelo, mediano tatuado, de cabelos cacheados e dentes perfeitamente alinhados em um sorrisinho curvo como o do José Bezerra.

É exatamente como o José Bezerra.

— Pra mim pode ser uma salada com tempero à parte — Fui a primeira a pedir enquanto os outros se concentravam nos cardápios.

— Pra gente hambúrguer, se puder acrescentar milho no meu, por favor — Renata foi a segunda a fazer o pedido para ela e Ramon.

— Acho que vou comer hambúrguer também — Breno ainda estava confuso com as opções que tem longe da dieta do seu clube.

— Vamos todos de hambúrguer então — Lali disse animada — Seis hambúrgueres e seis chopes geladinhos.

— Cinco hambúrgueres e cinco chopes, eu ainda quero a minha salada — Mexi com os lábios pensativos — Vinho branco.

Assim que o garçom saiu não levou mais que um minuto para que o bigodudo da Lila que descobri se chamar António ou Tony como disse preferir começasse a falar.

— Eu ainda não acredito que estou jantando com um jogador de vôlei, eu acompanho muito o seu esporte e meu Deus você é muito bom. Dá até uma esperança quando entra em quadra — Me segurei para não revirar os olhos com empolgação.

Breno ficou um tanto constrangido com a surpresa de ser reconhecido, em um país que se denomina "país do futebol" é quase impossível que você seja reconhecido na rua pelo que faz.

— E você tem quantos de altura? Deve ser complicado ser alguém tão alto fora das quadras, até porque você além do vôlei só poderia apelar para praticar basquete — Esse homem está me irritando muito.

Breno e eu trocamos olhares significativos de quem iria embora logo após comer pra não fazer desfeita.

— E como vocês se conheceram? Sabe, namorar atleta é pedir pra — Lali o impediu de continuar com um beliscão — O que foi xuxu? É verdade, todo mundo sabe que jogadores de qualquer esporte tem uma mulher em casa cidade que passa.

— Uau, é uma afirmação e tanto — Foi o máximo que Breno falou sobre.

— Não quero constranger a garota, mas ontem mesmo ela e esse carinha aqui estavam juntos no bar, chegaram e saíram juntos — Apoiei a cabeça na mão visivelmente entediada.

— Você não deve saber já que está em um encontro em grupo com uma garota uns 10 anos mais nova, mas um relacionamento sobrevive muito bem com confiança — Deixei escapar.

Com esse bigode eu diria até 20 anos mais velho.

— Eles se conheceram em um jogo, um jogo que a gente foi — Lali tentou melhorar o clima — Não é Breno?

Apelou pro mais tranquilo sabendo que eu diria apenas um "aham".

— É, foi isso! Eu estava em quadra, olhei para o lado e me apaixonei. Falei com ela por dois minutos e disse que ia voltar em duas semanas, duas semanas depois ela estava lá mais uma vez.

Dei um sorriso olhando de canto o seu rostinho lindo.

— Não por ele, eu estava completamente apaixonada pelo vôlei.

Breno sorriu antes de olhar para mim, seu sorriso aumentou quando ele o fez.

— Você é sempre tão mentirosa.

— Só quando preciso me fazer de difícil — Respondi.

— Fofos, ainda dá tempo de me aceitarem nesse relacionamento — Lali brincou — Eu adoraria namorar vocês.

— Parece mesmo o casal perfeito — O bigodudo disse de boca cheia — Tão perfeito que parece que não existe.

— E vocês, como se conheceram?

Lali perguntou a Ramon e Renata que comiam toda a porção de batatas como se não houvesse um amanhã.

— A gente estudou junto durante a infância, aí rolou — Ramon contou entre uma batata e outra — Nada tão romântico como esse casal que parece ter saído de livros.

— E ele pode confirmar isso já que de livros de romance entende — Falei mais para mim que para todo mundo.

— Sabe, eu realmente entendo muito de livros de romance e isso não é pecado. É cultura.

Virei a minha taça de vinho cansada daquilo.

— Estão vendo, isso é um relacionamento de verdade, tanto o casal de infância, quanto o casal que briga questões pessoais em jantares — Eu vou arrancar o bigode dele com uma pinça.

Sorri sem mostrar os dentes como se tivesse sido algo muito agradável de ouvir, eu sou uma futura campeã, tenho que saber agir em situações que não gosto.

Renata deu risada.

— Nosso relacionamento é de verdade? É um relacionamento super aberto que nem deveria ser chamado de relacionamento.

Sabia, sabia que ele não transava com uma só garota.

— Deveríamos chamar de amizade colorida, mas é tão clichê — Ramon disse após um gole da sua bebida — Então não somos um exemplo de relacionamento "perfeito".

— Você me trouxe para um encontro com pessoas que traem? Não tem nenhum relacionamento saudável pra gente se inspirar.

— A gente tem um relacionamento super saudável, eles pelo visto também — Eu disse já colocando uma nota de 100 sobre a mesa para pagar a conta.

Já comi e agora quero mimir.

— A gente precisa ir, o Breno tem que ir para a academia logo cedo e nós combinamos de correr antes de amanhecer — inventei já segurando a mão do homem para que ele pudesse se adiantar.

Ramon se levantou também.

— Eu estou meio cansado e a Renata vai dormir lá em casa então precisamos ir transar antes que esse delicioso lanche de sono, não queremos ser como esse casal quase casado aqui — Ele sorriu tentando ser simpático.

Breno e eu não agimos como pessoas casadas, somos um casal feliz e estável.

— A gente dá uma carona pra vocês, vamos pro mesmo fim de mundo pequeno e úmido mesmo — Renata foi simpática em nos poupar 20 reais do Uber e eu fui ainda mais em aceitar.

Todos Os Sons Do Nosso Andar Where stories live. Discover now