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NAILEA DEVORA

Vinnie me puxou no meio do agrupamento de milhares de jovens bêbados, enquanto corríamos de mãos dadas de um canto para outro do local, tentávamos empurrar com o corpo as pessoas para obter passagem; até finalmente chegarmos ao lado de fora.

Assim que pude parar de correr, comecei a sentir minha cabeça doendo, meu corpo mole e dor de estômago; provavelmente é a minha pressão baixa dando sinal de vida.

- Entra no carro. - Escuto a voz de Vinnie vendo ele abrir a porta pra mim.

- Obrigada. - Entro no automóvel e ele dá a volta, fazendo o mesmo.

Coloco o cinto, tento me ajeitar no banco mas sou impedida quando sinto minha nuca suar e uma leve pontada na testa. Como reflexo, coloco minhas mãos no rosto e abaixo a cabeça depressa.

- Você está bem? - Hacker pergunta.

- Sim, isso é normal, só uma queda de pressão. - Dou de ombros encostando as costas no assento.

Vinnie da partida no carro e eu começo a mexer no rádio, procurando alguma música boa sem ser aquelas mesmas de sempre.

- A gente pode parar pra comer se você quiser. - Ele intercala o olhar entre mim e a estrada.

- Não estou com fome.

- Pressão baixa é falta de açúcar no sangue.

- Eu comi antes de sair do internato - minto - não precisa se preocupar mamãe. - Reviro os olhos.

Eu não consigo pensar em nenhuma ideia de onde podemos estar indo, Vinnie é meio fora da casinha as vezes, tenho medo que ele me leve pular de paraquedas ou até mesmo para esquiar na neve.

"Não pera, estamos no meio do verão, é impossível esquiar na neve." Penso e balanço a cabeça rapidamente.

- Aonde nós vamos? - Pergunto.

- Surpresa.

- Ok, eu acho que você vai me sequestrar.

- Não! - Ele ri. - Nós vamos escalar uma montanha.

- E lá você vai me amarrar e me manter em cativeiro, certo?

- Ainda não tinha pensado o que faria com você lá, mas é uma boa ideia. - Rimos juntos.

É fácil de conversar com ele, pra ser sincera, eu não sou uma pessoa que se sente a vontade perto dos outros, mas com o Vinnie é diferente, a presença dele, sei lá, me faz bem.

Durante o caminho todo, fomos rindo, conversando e reclamamos juntos que todas as músicas da rádio eram chatas e que eles precisavam atualizar a playlist.

- ESPERA, quando você falou que íamos escalar uma montanha, eu não achei que nós realmente íamos escalar uma. - Digo sentindo Vinnie pisar fundo no acelerador.

- Não é literalmente, dentro do carro você nem precisa fazer esforço.

Estamos subindo um morro do qual eu não sei onde se localiza porque não prestei atenção no caminho. Está tudo completamente escuro ao redor e se não fosse pelos faróis acesos do veículo, provavelmente não veríamos as curvas e caíriamos no primeiro buraco.

- Chegamos! - Vinnie diz depois de desligar o carro.

- No meio... Do nada? - Franzo o cenho.

- Quase isso. - Ele ri. - Vem ver!

O menino tira seu cinto de segurança depressa, abre a porta saindo e me deixando sozinha. Então, decido imitá-lo para esclarecer todas as minhas dúvidas.

- Caralho. - Digo pausadamente. - Isso é extremamente...

- Lindo! - Ele completa pois me perdi admirando a vista.

Estamos provavelmente em um dos pontos mais altos de Los Angeles, onde conseguimos enxergar a cidade inteira. Sim, é no meio do nada, mas a vista compensa muito.

- Eu ia te levar na placa de Hollywood, porém seria muito óbvio e talvez encontraríamos algum casal transando lá, - Vinnie se senta - não seria tão legal.

- Eu amei. - Me sento também. - Muito melhor do que aquela festa idiota.

- Meu pai costumava me trazer aqui quando eu era criança na maioria dos finais de semana, então esse virou um dos meus lugares favoritos. Mas eu parei de vir, só esses dias lembrei que isso aqui existia.

- Por que parou de vir? - Vinnie encara a cidade em sua frente.

- Meu pai sumiu, saiu de casa e não deu mais notícias. - Bufa. - Eu não tinha como vir aqui sozinho porque eu não podia dirigir, então eu acabei esquecendo.

- Sinto muito pelo seu pai.

- Acontece. - Diz indiferente enquanto acende um cigarro.

- Por que está fazendo isso?

- O que? - Ele levanta o cigarro. - Fumando?

- É, você disse que fumava pra desestressar. O que te incomoda agora?

Vinnie traga devagar e abaixa sua cabeça parecendo pensar, solta a fumaça de sua boca e me encara com o olhar triste.

- Já sentiu como se não fizesse parte de um lugar? Sentiu que o seu mundo é completamente diferente do mundo das outras pessoas e ninguém parece gostar de você?

- Sim. - Solto uma risada nasal. - Eu me sinto assim praticamente todos os dias.

- Lá na festa, alguém me derrubou sem querer e minhas cartinhas de pokemon caíram do meu bolso. Começaram a ridicularizar e por isso voltei irritado. Eu não sei, só acho que não consigo me encaixar as vezes.

- Há dois anos atrás - começo - eu sofri bullying na escola e até hoje isso me afeta, eu me sinto péssima por coisas que eu nem tenho culpa, então eu meio que sei como você se sente.

- Não acha isso uma droga?

- O que?

- As pessoas, elas não ligam pros sentimentos de ninguém, estão nem aí, só se importam em machucar os outros porque isso faz o ego delas inflar.

- E só fazem isso para serem "aceitas" - faço aspas com os dedos - em seus grupinhos de amizade.

- Só percebem o quanto isso é ridículo quando alguém faz o mesmo com elas.

- Isso me cansa. Pessoas me cansam. - Jogo a cabeça para trás analisando o céu.

- Sabe o que eu sempre tive vontade de fazer? - Vinnie se levanta.

Eu fico sem entender mas logo minhas dúvidas se cessam quando escuto ele gritar o mais alto que pode.

- Vem. - Ele me da sua mão me ajudando a levantar. - Tenta.

Em questão de segundos, estou imitando o garoto ao meu lado quando começo a gritar também.

- VÃO SE FUDERRRR. - Ele fala perdendo o fôlego e eu rio.

- SE FODAMMMM.

- Gostou?

- É libertador. Promete me trazer aqui mais vezes?

- Prometo, senhorita. - Ele sorri.

Sentamos novamente no chão quente e ficamos um tempo olhando a cidade até o Hacker decidir se deitar e me puxar para que eu possa fazer o mesmo.

- Uau. - Fala vendo o céu estrelado.

- Qual a sua preferida?

- Aquelas juntas ali. - Ele aponta alto.

- As Três Marias?

- Sim, desde pequeno sempre procuro por elas.

Eu e o Vinnie ficamos assim por um tempão, conversando sobre estrelas e admirando elas. Até que o nosso assunto acabou e isso não foi constrangedor como normalmente, porque ficar sem conversar, para de ser assustador quando você encontra alguém que não tem medo do silêncio.

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𝐀𝐓𝐑𝐀𝐕É𝐒 𝐃𝐄 𝐕𝐎𝐂Ê 𝐌𝐄𝐒𝐌𝐎 - Vinnie Hacker e Nailea Devora. Onde histórias criam vida. Descubra agora