Namorado

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  Quem me recebe na porta é Alexander mesmo. Sua expressão cansada me deixou ainda mais alarmado e com certeza absoluta de que alguma coisa estava muito errada.

"obrigado por vir" – assinto com a cabeça e o sigo pelos corredores e cômodos da casa até chegar nas portas de vidros do jardim onde Sophia estava encostada balançando a perna nervosamente enquanto mordia uma unha.

"onde ela está, exatamente? – pergunto olhando em volta

"naquela casa da árvore" – a voz dela mostrava nervosismo da mesma forma que a do Alexander mostrava preocupação e cansaço. – "Ela não age dessa forma desde os dez anos"

"o que a fez agir assim aos dez?" – pergunto ainda olhando pelo jardim

"durante o primeiro mês de vida do Henry, ficamos cheios de coisas para fazer, não tínhamos dado a atenção que ela estava acostumada e isso assustou ela demais. Um dia a perdemos em casa e só a encontramos depois de horas procurando. Ela passou o dia todo lá também." – Assinto de leve

Max: posso ir até lá?

"por favor, faça o que conseguir fazer" – aceno com a cabeça e ando pela grama do jardim até chegar na escada de madeira construída na arvore.
Conseguia ver metade dela sentada com os pés para fora balançando de leve.

"quer companhia?" – minha voz a faz desviar os olhos para onde eu estava bem debaixo da escada

"eles te chamaram aqui?" – a voz dela estava rouca e baixa demais. Algo se apertou um pouquinho mais no meu peito sentindo falta da alegria e do otimismo que tinha feito meus dias mais brilhantes desde que começamos a nos ver.

"fiquei sem ouvir de você o dia todo, senti sua falta" – quase sussurro a última parte porque admitir algo assim ainda era estranho demais para mim.

"desculpa, precisava de tempo" – um pedido sincero que acatei em silencio

"posso subir?"

"tudo bem" – a casinha era muito bem construída para ser sincero. Firme, com tudo no lugar certo e parecia exatamente com o refúgio de uma garotinha assustada.
Quando estou totalmente dentro, consigo vê-la por completo. O pijama de alcinha que combinava renda com seda era certamente a maior tentação de qualquer homem na face da terra.
Porém o que mais fazia dela ela mesma estava faltando. Aquele brilho no olhar, aquela esperança, aquela força.
Meu coração doía por ela.

"é uma ótima primeira casa essa aqui, bem rústica para o meu gosto, mas decente o suficiente" – isso pelo menos tirou dela o mínimo dos sorrisos. Nada comparado ao que eu estava acostumado a receber dela, mas me contentaria com o que ganhasse.

"sentiu mesmo minha falta?" – a pergunta me pega desprevenido, mas respondo com honestidade. Não precisava de mentiras nesse momento

"senti sim" – movo para mais perto, sentando-me ao seu lado, bem perto, oferecendo conforto e meu colo se necessário. – "Quer me contar o que aconteceu?" – ela me olha enfim, os olhos multicoloridos me encarando.

"minha mãe tá grávida" – aquilo era com certeza o que eu menos esperava ouvir. E pelos rostos exaustos dos moradores dessa casa e a tristeza na feição de Alexa, julgava que a notícia não foi tão boa assim

"e isso... é ruim?" – ela solta o ar dos pulmões antes de vir para mais perto de mim

"é uma gravidez de risco... um risco... bem real e bem possível de acontecer" – quando as palavras deixaram sua boca eu entendi tudo.
Ela estava aterrorizada.

"ah... agora entendi" – abro meus braços para ela e a mesma não perde tempo em se aninhar tão perto que achei que fossemos nos tornar um só.

"não sei o que fazer, não... não posso viver sem ela, não agora que minha vida tá só começando" – afundei meu nariz em seu cabelo dourado e inspirei seu cheiro cítrico dos produtos que ela usava.

"bom, não sei o que dizer, nunca tive uma mãe de verdade então não posso dizer que entendo o que sente por ela, mas... pelo que pude ver quando cheguei, ambos seus pais pareciam tão assustados quanto você está. E sei com certeza que Henry também está da mesma forma..." – ela fica em silencio então continuo – "acho que o melhor que pode fazer por si mesma e pela sua família é ficar com eles, o tempo todo e aproveitar os momentos bons, porque é deles que vocês vão se lembrar quando tudo ficar bem de novo" – ela levanta a cabeça e me olha por alguns segundos, apenas parecendo apreciar meu rosto e meus traços.
Não seguro o impulso de colar nossos lábios em um beijo longo e despreocupado. Segurando-a em meus braços agora, fez meu dia sem saber onde ela estava parecer ridículo, porque não importava mais.
Ela estava comigo e eu estava segurando-a em meus braços.

"acho que preciso me desculpar com eles" – ela sussurra quando desfazemos o beijo

"eles vão entender" – ela sorri pequeno e bate a ponta do dedo no meu nariz tirando de mim um sorriso

"fica comigo hoje?" – a voz suave que eu tanto adorava estava de volta fazendo impossível a tarefa de dizer não.

"a noite toda se quiser" – ela responde em um beijo calmo.
Descemos os dois da árvore e ela correu para os braços da mãe que apertou a filha da mesma forma enquanto murmurava que Alexa não tinha nada do que se desculpar e que sempre amaria a filha não importa o que acontecesse.
Acompanhei eles até o quarto dela e fiquei observando enquanto ela era cuidada pelos pais de um jeito que nunca conheci. Ela era o centro do mundo deles, o começo o meio e o fim. A vida deles sem ela não fazia sentido. E por aquele momento, eu desejei ter conhecido esse amor paterno e materno que Alexa tinha.
Quando os dois saem com olhares infinitamente gratos para mim, a garota deitada na cama enorme me chama com um gesto da mão.
Acato ao seu pedido silencioso e tiro os sapatos, as calças e a camisa para ficar mais confortável e poder sentir o corpo dela no meu.
Depois de alguns minutos com os braços envolvidos na cintura dela, sua voz doce soa pelo cômodo amplo

"posso chamar você de meu namorado?" – isso tira de mim uma risada.

"isso foi um pedido de namoro?" – seu pequeno cotovelo bate na minha barriga e nós dois rimos de leve.
Afundo o rosto em seu pescoço e respondo contra a pele macia

"pode me chamar de seu namorado – eu sabia que ela estava sorrindo mesmo não olhando para o seu rosto.
Isso fez outro nó em meu coração se desmanchar como água.

"combinado então"

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