Primeira vista.

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Entrei no carro, batendo a porta e dei um longo e forte suspiro. Mais uma briga com a minha mãe tinha acabado com a minha paciência pré viagem. Apesar de amá-la demais, somos muito parecidas e por isso os conflitos entre eu e ela são... frequentes. Discussões de assuntos geralmente não muito sérios como, se eu falei que ia colocar a bendita blusa azul
na mala ou não.
De qualquer forma, ainda estou feliz, porque hoje mesmo vou para o meu hotel preferido e o melhor: sozinha, com a companhia de apenas um bom livro de romance (meus preferidos). O Hotel Fazenda Framboesa tem sido o hotel que frequento com a minha família desde os meus 15 anos. Assim que pisamos lá nos apaixonamos e sempre viajamos para lá quando podemos. Conhecemos grande parte dos funcionários, chegamos a ter amizade com alguns, sempre muito engraçados e fazem cada viagem ser única!
Completei 20 anos na semana passada, e como presente vou ficar uma semana nesse hotel! Meus pais não vão poder ir e eu estou com tanta saudade daquele lugar que insisti em ir sozinha. Afinal, já tenho 20 anos, idade o suficiente para viajar sem eles, ainda mais nesse hotel que muitos me conhecem portanto não haverá perigo algum. E pra ser sincera vou gostar muito de ficar sozinha por um tempo, amo minha família demais, mas eles podem ser bem caóticos em algumas situações, vou aproveitar para relaxar e descansar os ouvidos.
Já dirijo, mas meus pais insistiram em me levar até lá e eu acabei cedendo, afinal tirar um cochilo de 2 horas não vai ser tão ruim assim. O clima entre eu e minha mãe melhorou e pegamos a estrada em direção a minha espécie de retiro espiritual.
Observei atentamente os detalhes de natureza na estrada, até pegar no sono.
Estava sonhando com um unicórnio voador, quando meu pai me balançou levemente para me acordar e anunciar que chegamos. Peguei minhas malas e me despedi dos dois, já observando a linda vista dos morros que cercam a área do hotel.
Conversei com a recepcionista enquanto ela conferia a minha reserva e ela falava sobre as mudanças que tinham feito nas piscinas e disse que eu ia adorar! Infelizmente não vou ver hoje, porque já está anoitecendo, além de estar morrendo de fome e pretendo ir direto para o restaurante.
Outra coisa divina é a comida deles! Caseira, mas com o toque especial que só a culinária mineira tem. Só de pensar já tenho água na boca. Pequena observação,  o hotel fica em Capitólio, Minas Gerais.
Angela me entregou as chaves e subi as longas escadas até o meu quarto. Eu solicitei um quarto no último andar, na intenção de ficar com a vista mais bonita dos montes, mas tudo tem seu preço. Eram muitos degraus, ainda mais para subir com malas (ou de barriga vazia) mas consegui subir até que bem e logo coloquei algumas roupas nas gavetas do armário, biquínis, peças íntimas. Deitei um pouco e respondi a mensagem da minha mãe, perguntando se eu já tinha chego no quarto.
Rolei o Instagram por alguns minutos quando a minha barriga começou a se manifestar. 20 horas da noite e a última coisa que eu tinha comido era o almoço. Troquei de roupa e coloquei um shorts verde que adoro e uma blusinha branca simples, aqui não é nada chique demais por ser fazenda, gosto disso!
Descendo as escadas encontrei com um dos recreadores que me deu um mega abraço e me disse que tinha crescido e mudado desde a última vez que vim. O apelido que usava no hotel era Tio Cacau, mas seu nome mesmo era Lucas, eles mantêm o sigilo sobre seus nomes pessoais, mas temos uma certa intimidade e sei os nomes de quase todos os recreadores. Conversamos um pouco, ele me disse que ia sentir falta da família toda, mas que já estava feliz com a minha presença e que não podíamos deixar de cantar. Ah! Tem isso também. Eu canto :). Desde que me conheço por gente a música está presente na minha vida. É como uma herança. Meu tataravô tocava uma espécie de sanfona e violão, que ensinou meu bisavô a tocar também, que ensinou minha madrinha, e meu pai. Ou seja, encontros de família são praticamente rodas de samba. Amo muito, então disse que era só me chamar que eu ia.
Cheguei no restaurante já cumprimentando o maître, que trabalha aqui desde a primeira vez que vim. Peguei o prato, me servi e sentei na mesa que tinha o número do meu quarto.
A comida estava deliciosa como sempre, e como estava sozinha, observava o movimento em
minha volta. O restaurante não estava muito
cheio, tinha apenas algumas famílias hospedadas, não é temporada então estava tranquilo.
Olhei na direção do bar e vi um homem alto, loiro, de costas largas fazendo um drink. Por algum motivo sua nuca me chamou muito a atenção e acabei continuando a observá-lo. Assim que ele colocou o morango no copo, como finalização, ele virou de frente e eu o vi. Seu cabelo tinha um corte tradicional, mas com um certo brilho diferente. Seus olhos eram castanhos, acompanhados de sobrancelhas naturalmente simétricas. A boca, que Deus me ajude, era a mais bonita que já tinha visto. Com um arco do cupido perfeito o suficiente para que fizesse o mundo parar. De repente não escutei mais o burburinho de conversas das famílias, nem mais o barulho dos pratos e tudo acontecia em camera lenta. Era o rosto mais adorável que pisara na terra.
O "senhorita" de um outro garçom que veio até minha mesa perguntar sobre o que ia beber me voltou a realidade e acabei pedindo uma água (foi a primeira coisa que consegui pensar). Ele anotou e foi de encontro com aquela beldade em forma de garçom. Passando a água para o garçom que me atendeu, nossos olhos se encontraram e eu juro que vi um leve sorriso no canto de sua boca. Sorri discretamente de volta, ou pelo menos acho, posso ter feito uma cara idiota na verdade. Colocando a água na minha mesa, o garçom normal me perguntou se eu queria mais alguma coisa e eu fiz que não com a cabeça e agradeci.
Voltei a olhar para o meu prato de comida, e lembrei que deveria estar comendo, porque estava morrendo de fome, mas já não sentia tanta vontade de provar o famoso feijão do hotel. Uau, esse garçom realmente mexeu com a minha cabeça, para tirar minha fome tem que ser realmente bom. Balancei a cabeça na tentativa de me livrar daquela sensação de nervosismo que tomava conta de mim, mas sem sucesso porque pelo canto do olho, vinha ele com uma bandeja na mão, passando próximo a minha mesa, para servir a família de trás de mim. Apurei os ouvidos e ouvi ele dizer:
-Desejam mais alguma coisa?
E em coro a família respondeu:
-Não, obrigada.
Ajeitei minha postura, pois sabia que ele passaria próximo de volta, e consegui não olhar para ele, porém senti seus olhar em minha direção. Era como se ele estivesse me tocando. Sentia um frio na barriga e na espinha que estava no canto da minha testa. Apenas bizarro.
Com um certo esforço terminei minha refeição e fui saindo do restaurante me despedindo do maître, até que ouvi *ele* falando:
-Boa noite senhorita.
E de volta, respondi com um sorriso discreto e um
olhar que entregasse certo interesse, mas não tanto:
-Boa noite.

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⏰ Last updated: Apr 26, 2022 ⏰

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Serviço de amor.Where stories live. Discover now