Catraca

23 1 2
                                    

O ônibus faz mais uma de suas rotineiras paradas, desta vez num dos pontos da Roland Garros. Entram algumas pessoas e outras permanecem no ponto esperando pelo próximo ônibus, enquanto do outro lado descem os passageiros que chegaram ao seu destino. Dentre os que entram, adultos, velhos e jovens, uns se sentam ou param em algum lugar na área da frente do ônibus, e a maioria passa pela catraca. Entre os muitos passageiros do 174M, um adolescente, cabelos ruivos, olhos verdes, alto e confiante carregando sua mochila verde limão pelas duas alças. Ele já havia passado pela catraca, mas por algum motivo, parando subitamente, voltou-se para a cobradora:
— A senhora se importa se eu passar debaixo da catraca? — seu tom de voz era firme, sem ser rude, e não demonstrava brincadeira, enquanto seu semblante era um misto de uma seriedade amigável com um pouco de embaraço, o que evidenciava o leve constrangimento pelos olhos atentos que o cercavam, ao mesmo tempo que não escondia sua determinação. A cobradora permaneceu por um tempo apenas olhando confusa para o garoto, até assentir com indiferença. Então ele se abaixou e rastejou por debaixo da catraca, empurrando sua mochila em sua frente. Levantou-se cuidadosamente, frente ao sacolejar do automóvel, e sem hesitação, sentou-se no primeiro banco da fileira da esquerda, imediatamente posterior à catraca, ao lado da garota de cabelos castanho-claros, mechados em um tom rosa cereja, cujo semblante era de tristeza e de aborrecimento. A presença repentina do garoto de cabelos alaranjados a faz tirar os fones de ouvido e se virar para o mesmo, demonstrando profundo descontentamento. Sem se intimidar, ele diz algo, e após uma certa resistência da parte dela, eles conversam. E ela sorri.

Catraca (Crônica)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora