06 | CASCA DE BANANA

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CALEB

"Gostaria que pudéssemos voltar no tempo, para os bons e velhos tempos
Quando nossa mamãe cantava para dormirmos, mas agora estamos estressados"
— Stressed out, Twenty One Pilots

O vento bate em meu corpo a 160 km/h e, mesmo com os três moletons que uso, pareço congelar no caminho para a arena. Grand Forks tem um dos invernos mais fortes do estado, e quando se está voando em uma moto às oito da noite, se torna pior ainda.

Parte de mim não acredita que eu tenha saído, nesse frio, sem necessidade, porém a outra sabe que eu não conseguiria não fazê-lo. Posso estar sendo um pouco infantil, porque dessa vez, sou o único adentrando a academia de gelo.

Maddie tem provas às sextas e não pôde vir. Expliquei que se quer realmente se tornar uma boa jogadora e crescer no ramo, precisa organizar melhor seus estudos nunca perder um treino por esse motivo. Talvez a parte mais difícil de jogar na faculdade seja conciliar as duas coisas, sem contar a vida social, porque o que seria de um jogador de hóquei sem a parte boa que acompanha? Hoje não tinha festa, aliás, então aproveitei para marcar território.

Não podia deixar que Louisa pensasse que ganhou ou que eu desisti dessa disputa. O meu lado competitivo, com certeza, pesou muito na decisão, mas também não faz mal algum treinar um pouco mais meus lances ao gol.

Sinto o frio familiar basicamente me aquecer no meu lugar favorito no mundo. Porém, desço as arquibancadas com o nariz tão empinado que demoro a reparar que está vazio.

Olho ao redor. Meus lábios, antes cautelosos, se abrem em um grande sorriso. Embora sabendo que, uma hora ou outra, Jenkins iria ceder, não esperava vencer tão fácil.

Parece que nossa partida terminou com 1x0 para mim.

— Poderia dizer boa noite, mas estaria mentindo.

Minha feição animada e presunçosa desaparece no instante em que a ouço.

— A minha ficou pior nesse segundo. — cerro o maxilar, a procurando pelo espaço.

— Sabe, estava rezando para que não viesse. 

— De joelhos? — respondo sarcasticamente — Por mim?

Ela se levanta, entrando em meu campo de visão e levando uma banana a boca. Parece diferente de ontem, com a pele mais coberta e o corpo indecifrável, não que eu me oponha, pois assim não me custa tanto autocontrole para desviar o rosto.

— Vai para o inferno.

— Contanto que seja sozinho. — reviro os olhos.

Me sento e calço os patins quase que no modo automático, mas ainda sim notando os inúmeros riscos e falhas na lâmina. Comprei esse há seis meses e já está praticamente detonado.

— Espere. — sua voz é forte, porém ligeiramente rouca. Nem me dou o trabalho de olhá-la e prestar atenção no que quer. —  Você está sozinho?

— Foi uma piada, Louisa. — bufo — Apenas não quero ter que dividir outro espaço com você.

— Não, seu idiota. — range os dente. Enfim a olho e cruzo os braços em impaciência — E sua irmã?

Então, entendo.

— Porque eu levaria minha irmã para o inferno?

Porém finjo que não, somente para irritá-la do mesmo jeito que estou, e vejo que consigo pois percebo apertar seus punhos com força.  

Um riso me escapa no mesmo momento em que algo me acerta. Entorto os lábios, depois de fechá-los com força.

— Você jogou uma banana em mim? — esbravejo, olhando para o resto da fruta em meus pés.

TOE PICKS (Quebrando o gelo #1) Where stories live. Discover now