Observação

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Observar as estrelas sempre foi seu hobby favorito.

Não que tivesse muitos, claro, mas de certo apreciava todo aquele ritual de estender o lençol no gramado, deitar-se e permanecer ali, quieto, enquanto admirava a imensidão do céu escuro e coberto de pequenos pontinhos cintilantes.

Não saberia dizer quando esse hábito começou, mas o fazia desde que se conhecia por gente. Talvez por influência de sua mãe, que gostava de lhe apontar as constelações de sua janela para ajudá-lo a pegar no sono quando não conseguia dormir sozinho, aquela mulher foi a responsável por muitas de suas admirações futuras. Seu pai costumava dizer que eram almas gêmeas, e talvez fossem mesmo. Sua mãe foi o maior amor de sua vida, mesmo depois de tantos anos, tantas brigas e desentendimentos, César nunca a amou menos do que ela merecia, e Cláudia sempre soube disso.

Por isso, quando a perdeu há alguns anos, sentiu que, talvez, conseguisse encontrar conforto naquilo que cotumavam fazer juntos: admirar as estrelas deitados em um velho lençol estendido no gramado do quintal da casa suburbana. Foi difícil das primeiras vezes, muito difícil, considerando que sempre que se recordava dela, acabava mergulhado em lágrimas e as estrelas se tornavam borrões, mas com o tempo, enquanto a dor da perda se tornava um costume, o choro tratou de abandoná-lo, mas o exercício nunca mais foi o mesmo.

Não era a mesma coisa sem ela.

Até Joui.

Joui Jouki era aprendiz de seu velho amigo de infância, Thiago. Era alguns anos mais novo e cheio de vitalidade, parecia o seu completo oposto. Achava-o irritante, feliz e saltitante demais, e isso o incomodava, de certa forma. Não tinha uma razão plausível, sabia que seus motivos eram ridículos.

Mas, aquele garoto era insistente. Mesmo tentando afastá-lo, tratando-o com frieza, ele continuava querendo se aproximar. César achava isso muito estranho, ele mesmo já teria desistido, se fosse ele. Joui parecia não se abalar com as suas patadas e comentários ácidos, na verdade, parecia até se divertir. Intrigante.

Percebeu que aquilo não adiantava, então resolveu seguir o conselho que seu pai sempre lhe dava em momentos como esse: "Se não pode com ele, junte-se a ele", dizia o homem com sotaque americano. E foi isso que César fez.

E não poderia ter feito melhor.

Joui se demonstrou alguém incrível, mais impressionante do que qualquer outra pessoa que César já havia conhecido, ele simplesmente era ótimo e dedicado em tudo que fazia, uma alma gentil e generosa, tão doce e quente, que César conseguia sentir seu coração de gelo derretendo aos poucos.

E, foi quando descobriu que Joui também era um apreciador do céu noturno, que ele tratou de se tornar uma pocinha em seu peito.

Há tempos que não ficava tão animado quanto naquele dia, nem parecia o mesmo homem. Joui, mesmo não dizendo, adorou vê-lo daquele jeito, cheio de entusiasmo e tentando se conter, sem sucesso. Era lindo.

Marcaram de observar as estrelas um dia juntos, e não pararam mais. Se tornou o programinha particular deles. Joui era diferente de Cláudia, que simplesmente ficava calada enquanto admirava o céu, provavelmente perdida em seus próprios pensamentos, mas Joui gostava de conversar, muito mesmo. César achava isso adorável, era tão a cara dele. Iniciava conversas reflexivas sobre a vida e o mundo enquanto estavam deitados lado a lado, esperando, quem sabe, encontrar as respostas de suas questões nas estrelas.

Mas de uma coisa, César tinha certeza.

Foi sob as estrelas que ele descobriu estar apaixonado por Joui Jouki.

Estrelas - Joesar auWhere stories live. Discover now