Retorno

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A Viagem de ônibus parecia bem mais longa do que lembrava e os bancos eram desconfortáveis o suficiente para piorar minhas dores de cabeça me fazendo franzir fortemente o espaço entre as sobrancelhas. Passei as duas primeiras horas da viagem encarando a paisagem e mais uma hora tentando ler o livro que levava comigo, mas nada daquilo me fez esquecer a forte dor que sentia.

Era domingo quando entrei naquele ônibus, os domingos já haviam sido meus dias favoritos adorava passa-los com Jennifer em qualquer lugar que fosse. Minha irmã mais velha sempre tinha ótimos planos para aquele dia, mas desde que partira os domingos não chamavam mais tanto a minha atenção, na verdade, eram os dias mais melancólicos e preferia estar enfiada em baixo da pilha de cobertores em meu quarto do que estar naquele ônibus, mas precisava por eu mesma um ponto final nessa história.

Agora enquanto o ônibus estava parado pela 5° vez esperando que outros passageiros se acomodassem travava uma batalha árdua com aquele maldito frasco de analgésicos, as pontadas na minha cabeça faziam com que me sentisse mais fraca e cada vez mais exausta ao longo do dia.

Entre esses devaneios o frasco então escorregou de minha mão indo parar no corredor, suspirei cansada e me estiquei para pegar com a mão trêmula, mas antes que desmoronasse sobre a cadeira vizinha trntando alcançar o objeto alguém conseguiu ser mais rápido que eu pegando o frasco e o colocando frente a meu rosto.

- Obrigada.

Agradeci pegando-o da mão do homem que em seguida se sentou na cadeira livre ao meu lado ignorando o agradecimento. Encarei o frasco na mão e dessa vez consegui abri-lo ingerindo em seguida uma quantidade não recomendada de pílulas e repousei a cabeça no encosto da cadeira fechando os olhos.

Sentindo o balançar do ônibus me perguntava como seria voltar para Duskwood quando nem mesmo lembrava como havia saído de lá naquele verão. Certamente muitas coisas haviam mudado, estava ansiosa por rever meus amigos e determinada a descobrir o que aconteceu.

- Você poderia parar de bater seu pé?

A voz do estranho ao meu lado me fez parar de repente notando apenas naquele momento que estava batendo o pé repetidas vezes, um hábito que desenvolvi enquanto passava por longas sessões com a psicóloga da família.

- Desculpe. - Sorri sem graça - Esse é meu hábito ruim.

Encarei o homem sem conseguir enxergar seu rosto, então observei a extensão do seu corpo ele parecia grande demais para aqueles pequenos espaços que separavam a nossa fileira de cadeiras da fileira a frente, constatei ao perceber que mais uma vez ele tentava encaixar suas longas pernas no compartimento de baixo da cadeira da frente.

- Não importa apenas tente controlar essa falha.

Abri a boca sem palavras encarando a grosseria do homem, mas antes que conseguisse dar qualquer resposta ele já havia voltado sua atenção para o celular. Se aquele remédio já não estivesse fazendo efeito certamente estaria o xingando, costumava ser bem mais explosiva antes de começar a ingerir toda essa medicação para os diversos problemas que tinha.

Nenhum de meus ferimentos era visível, mas estavam lá no hipotálamo uma parte do cérebro responsável por armazenar memórias, disseram os médicos quando eu acordei três dias depois do acidente. Era incrível como conseguia lembrar de tudo que aconteceu antes daquele fatídico dia verão, mas depois daquilo minha memória passou a se embaralhar e lembrar de algo agora exigia um pouco mais de concentração. Alguns especialistas diziam que isso foi causado pelo trauma de algo que nem mesmo lembrava.

Repousei a cabeça na janela sentindo a brisa bater em rosto fechando os olhos e deixando que o remédio fazer efeito enquanto eu me arrumava da maneira mais confortável possível naquelas cadeiras.

A garota dos olhos de esmeralda - DuskwoodWhere stories live. Discover now