Conto V - Hotel São Firmino

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Me chamo Padre Mauricio e irei relatar aqui uma das criaturas mais abomináveis que ja presenciei nesta vida, fato ocorrido na pacata cidade de Itapira - São Paulo.

Na cidade de Itapira, interior de São Paulo, havia um hotel muito antigo, grande e luxuoso... Hotel São Firmino. Era de costume meu sempre passar lá uma vez por mês atendendo à pedido do dono para abençoar o local, e atender alguns fiéis que estavam de passagem, pois lá tambem havia uma capela com a imagem do padroeiro. Há tempos eu observava uma certa funcionária do local, cabelos longos e louros, de pele clara, olhos azuis e um sorriso tão belo quanto sua simpatia. Mas eu era padre e não cogitava nada com ela, apenas me chamava a atenção. Ela se chamava Helena, trabalhava na recepção e era uma mulher de presença. 
Ela sempre me elogiava, dizia que minha cerimonia era linda, que eu tinha uma bela voz e que minhas benção iluminava o hotel e a vida dela, mas nunca levei os elogios para o lado pessoal e apenas agradecia. Mas ela era realmente sedutora.

Certa vez, adentrei sozinho a capela para orar e abençoar alguns fiéis que ali estavam. Ajoelhei-me diante a imagem de São Firmino e fiz minhas preces. Após acabar, me lavantei, me virei e me deparei com Helena, ela estava maquiada, e com batom vermelho que aumentava ainda mais seus lábios:

- Oi Padre -  Me disse.

- Olá Helena, o que te trás aqui filha? - Questionei-a.

- Você! - Ela respondeu com ar sedutor enquanto se aproximava de minha boca. Coloquei as duas mão nos ombros dela e pedi para que se afastasse um pouco, mas pequei, fui fraco e não resisti ao cheiro de sua pele. Helena e eu começamos a nos beijar loucamente. Dentro de mim havia uma mistura de prazer e arrpendimento pecador, eu sabia que aquilo era errado... e permiti.

Antes ficassemos só nos "beijos", o clima foi subindo e quando me dei por mim estava sem roupa e ela por cima, nua e de olhos fechados.

Quando terminamos, Helena pegou rapidamente suas roupas e se vestiu, retocou o batom e saiu sem falar nada. Neste momento caiu um peso imensurável em minha cabeça, ali mesmo ajoelhei-me diante da imagem e orei como nunca suplicando perdão, enquanto alguns fiéis já estavam começando a chegar na porta.

À partir desse dia decidi nunca mais pisar naquele local, naquela cidade e solicitei à diocese para que me mudassem de cidade, fui atendido, mas iria demorar pelo menos um semestre para acontecer a mudança. Deste então resolvi não celebrar nenhuma missa e me isolar até encontrar meu auto perdão.

Passaram-se 4 meses desde então e certa noite, estava em minha casa e meu telefone tocou, achei estranho a ligação aquela hora e não atendi na primeira tentativa e nem na segunda, mas na terceira resolvi atender:

- Alô?

- Padre Maurício? - perguntou uma voz feminina.

- Isso... - Respondi assustado - Helena? 

Eu reconheceria a doce voz dela em qualquer lugar.

- A própia. Tenho uma notícia para lhe dar. Está preparado? - Ela dizia em tom calmo.

- Oi? - Mil coisas passaram-me na cabeça naquele instante de segundos, um "frio" tremendo me subiu dos calcanharas até a nuca. E a notícia que eu mais temia entrou pelos meus tímpanos como uma pedrada... Helena estava grávida!

O mundo caiu em minhas costas, peguei meu carro e fui até o hotel, como ela havia me solicitado pelo telefone. 

Chegando ao hotel, estava abandonado... Parecia que tinha passado mil anos naquele lugar apenas: Portas arrombadas, balcão empoeirado, cadeiras rasgadas e quebradas. Um caos. Subi pelas escadas para o primeiro andar, avistei um grande corredor sem luz, pixado e com todas as portas trancadas. Pude ouvir um choro de mulher vindo do fundo do corredor que havia sido tomado pelas sombras da noite. Fiz o sinal da cruz, segurei firme meu crucifixo e fui seguindo o choro, me deparei com uma porta meio aberta, e uma leve luz, cuja a lua fazia. Abri tal porta e pude perceber que o choro estava ali e era de Helena! Levei alguns instantes para localiza-la, mas quando a vi fiquei pasmo com a cena: Ela estava vestida de branco coberta de sangue, sua face era irreconhecível, os olhos borrados de preto, cabelos sujos e emaranhados, as unhas grandes e sujas, descalça e sentada na beira cama do quarto.

Me desespeirei ao ver aquilo e corri para socorre-la, mas ela se levantou, o sangue descia pelas pernas enquanto ela me dizia:

- Aqui está seu filho, padre!

Ela enfiou a mão direita dentro da barriga! Como se não houvesse dor e puxou o feto pelo pequenino braço... e começou a come-lo: os dedos... as mãos... o braço. Aquilo me deu náuseas e vomitei nos meus pés. Ela mergulhou a cabeça do feto em meu vomito... e removeu com os dentes a cabeça, e o cuspiu em mim.

Clamei por Deus!

Ela começou a vir em minha direção, com o cabelo cobrindo a face, quando pensei em correr a porta se fechou sozinha. E Então ela me atacou, como um animal... Aqueles doces labios se tornaram afiados como uma lâmina, haviam mais dentes que o normal em sua boca, havia dente mesmo nos palátos, e seu hálito era uma mistura de sangue, vômito e morte. Apenas pude colocar meus braços em forma de X na frente de meu rosto e aceitar. Além disso ela estava com um peso de 50 homens.

Fechei os olhos gritei! Acordei assustado rodeado de jovens, no mesmo quarto. Eles me disseram que não queriam fazer o mal a mim, e que estavam ali para usar drogas e ouviram meus gritos. Perguntei o que aconteceu ali e um deles disse:

- Este hotel está abandonado há mais de 80 anos, e está de pé porque nenhuma autoridade consegue vir até aqui e sair com vida, já foram encontrados diversas autoridades mortas, dentre eles: Policiais, Prefeitos e até... padres. Nãos e sabe o que acontece com eles quando entram aqui. Reza a lenda que aqui neste quarto nos anos 30, uma funcionária foi assassinada a sangue frio. Dizem que ela mexia com rituais, magia negra, essas paradas. E que sua alma foi exilada para um vale no submundo, e como ato de rebeldia ela deixa esse submundo e vem aqui se alimentar de quem quer que tente fechar este local, ou até mesmo limpar, exumae os corpos, abençoar... 

Após este dia me mudei para outro estado, e abandonei minha batina. Passo por tratamentos psicológicos e até hoje, em qualquer lugar que eu vá. Sinto aquela presença imponente de Helena a me observar. Tenho sonhos com aqueles olhos, e aquela boca. E volta e meia, a vejo parada no canto do meu quarto.

As Criaturas do Vale do AbismoWhere stories live. Discover now