Manifestação

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Na manhã do quarto dia, uma terça feira, Claudia, mãe de Sabrina, tentou dar partida em seu carro, mas o veículo não funcionou. Erguendo o capô, ela observou que os cabos da vela de ignição haviam sido removidos e as mangueiras de borracha, soltas. Sem entender o que haviam acontecido, Claudia tentou dar partida em sua moto, que também não funcionou e por fim, teve que ser rebocado para uma oficina mecânica local. No dia seguinte os mecânicos deduziram que partes internas do motor haviam sido desmontadas.

Naquela mesma semana, outros incidentes de vandalismo ocorreram ao redor da casa de Sabrina. A campainha foi arrancada de sua caixa; A maioria dos vasos de plantas da casa estavam quebrados ou revirados; no telhado, a calha da casa, de ferro, de 1,80 foi inexplicavelmente dobrado em um ângulo de noventa graus.

Voltando da oficina, um dos pneus do carro de Claudia havia furado, menos de dois dias depois, outro pneu furou também, mas desta vez, parecia ter sido cortado com uma faca. Claudia começou a ficar preocupada, como e por que aquilo estava acontecendo? Os filhos não fariam isso, e eles não tinham animais. Claudia saiu perguntando aos vizinhos se eles tinham visto alguém estranho pelo bairro, ou rondando sua casa, e todos diziam que não.

Sabrina, ainda sem conseguir contatar seu "avô" nem seu amigo, sempre que ela tentava os contatar, a prancheta simplesmente deslizava para ADEUS. Ela não fazia ideia de que seu "avô" estava se manifestando de fato: na forma de um vândalo sobrenatural.

Na segunda semana de vandalismo com os carros e com a parte externa da casa, Claudia estava cogitando falar com a polícia, mas ela já sabia como a justiça no Brasil funciona, não valeria o esforço. E Sabrina, ainda sem conseguir falar com seu avô, nem desconfiava que todas essas coisas estranhas seria obra do mesmo. A final de contas, Sabrina já sabia que um espírito não teria forças suficiente para causar tantos danos físicos em coisas materiais.

Todavia, posteriormente, naquela mesma semana, veio o primeiro indício de que os danos não eram causados por vândalos. Depois do trabalho, Claudia, estava conversando com Felipe e Sabrina sobre os acontecimentos na casa, a fim de descobrir se isso tinha alguma coisa a ver com uma rixa escolar das crianças. De repente, os três ouviram algo ser atirado contra uma parede e se estilhaçar em algum lugar dentro da casa. Claudia saiu da cozinha e foi direto para a sala, onde viu seu vaso favorito estilhaçado no chão. O vaso havia caído da prateleira mais alta, como? Não se tinha respostas, mas o mais estranho, foi o vaso ter caído de uma altura tão grande e ter quebrado em apenas três partes.

Sem mais questionamentos, todos foram dormir, e no dia seguinte, Claudia foi na loja de antiguidades do bairro com as crianças, na esperança de achar um vaso parecido com o que havia quebrado. Chegando na loja, a vendedora logo reconheceu as crianças.

- Olá fofinhos, que bom ver vocês de novo. Estão se divertido com o tabuleiro ou vieram devolver? – Perguntou a senhora com um sorriso no rosto, sem fazer ideia de que a mãe das crianças não sabia sobre o novo brinquedo dos filhos.

- Que tabuleiro? Vocês vieram aqui sozinhos e sem a minha permissão? De onde tiraram dinheiro? – Disparava Claudia para os filhos, tomada por raiva.

- É um tabuleiro ouija, para contatar espíritos, eu recomendei que não levassem, mas a menina estava determinada. São apenas crianças, não leve essa brincadeira a sério. – Continuou a vendedora tentando contornar a situação.

Mas Claudia já tinha ouvido o suficiente, pegou as crianças e foi direto para casa. Felipe nunca tinha visto sua mãe tão brava, foi todo o caminho chorando, dizendo que era tudo culpa da Sabrina e que ele não queria brincar daquele jogo.

Chegando em casa, Claudia mandou Felipe para seu quarto, pois a conversa seria apenas com Sabrina. Claudia então revistou o quarto da menina, encontrando o tabuleiro.

- Então é com isso que você vem brincando? Por que está fechado com um cadeado? Você anda falando com espíritos Sabrina? Pode estar colocando nossas vidas em risco sabia? – disparava Claudia para Sabrina enquanto recolhia seus livros.

- A moça disse que o tabuleiro já havia sido vendido, e que devolveram pouco tempo depois, não disseram o motivo, por isso está com o cadeado. – Começou a explicar para sua mãe, sem êxito, sem gaguejar, sem amor a vida. E Claudia, estava prestando atenção em cada palavra que saia da boca de Sabrina.

- Eu consegui falar com o vovô mãe, ele estava aqui, e me respondeu, ele e outro espírito, o de um adolescente, mas já tem alguns dias que não me respondem, tem alguma coisa errada. Estou começando a achar que não era o vovô. – Disse Sabrina preocupada, pensando na possibilidade de ter trazido algo ruim para sua casa.

E sem explicação, a pilha de livros de Sabrina que sua mãe estava recolhendo começou a pegar fogo, e logo em seguida, ouviram-se gritos vindo do quarto de Felipe. Desesperadas, Claudia e Sabrina foram atrás de Felipe, e quando chegaram no quarto, logo sentiram o quarto mais frio que nunca, e um terrível cheiro de enxofre, como carne podre. O menino sem reação, não conseguia explicar o que tinha acontecido, apenas uma hora depois Felipe conseguiu explicar o ocorrido.

Felipe relatou que estava na cama, tentando se distrair dos gritos da mãe, quando de repente, a porta se fechou sozinha e uma grande nuvem preta se formou no canto do quarto, fazendo sons estranhos, e a temperatura do quarto baixou, logo em seguida veio o cheiro insuportável, quando se aproximou rapidamente formando uma silhueta quase perfeita de um homem com chifres.

A primeira coisa que Claudia pensou em fazer, aterrorizada pelo relato de Felipe, foi de sair de casa, passar uns dias em outro lugar até que conseguissem um padre.

- Não vai funcionar – Começou Sabrina.

- O que não vai funcionar? Por que não vai funcionar? – questionou Claudia já em desespero.

- Mesmo que saiamos da casa, seja lá o que isso for, vai nos perseguir, e não vai parar até que que façamos algo, e isso vai demorar, porque o processo é longo. – explicou Sabrina lembrando de tudo que já havia lido, com um leve tom de culpa e arrependimento por tudo que estava acontecendo.

Como a maior parte dos livros haviam queimado, Sabrina teria que se lembrar de tudo que já havia lido, e pelo que se lembrava, havia três estágios de uma infestação demoníaca, a Infestação seria o primeiro, o que ela julgava estar passando, logo vinha a opressão, e em último caso, a possessão. Sabrina sabia que devia procurar o padre Antônio o mais rápido possível, mas será que ele conseguiria resolver as coisas já que ele não soube nem dizer o protocolo da igreja? Teriam que arriscar, pois essa seria a única saída.

O dia foi passando e outras coisas estavam acontecendo na casa, outras coisas da casa estavam sendo arremessadas no chão, e nas paredes, e em todos os cômodos podia se ouvir algumas batidas, como socos nas paredes. Sabrina então, se lembrou que quando comprou o tabuleiro, ele já tinha sido usado, se ela soubesse quem o usou e para quê, talvez já ajudasse a resolver o caso, já adiantaria enquanto não buscavam o padre.  

Quarentena MalditaWhere stories live. Discover now