Days like those

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Havia dias como aquele.

Em que a frieza das palavras de Diluc ecoava pelo chão de madeira da taverna, em que a distância entre os dois era silenciosamente mantida e os olhos nem chegavam a se encontrar direito. Os quais Kaeya trabalhava o dia todo no quartel dos Cavaleiros de Favonius e Diluc ocupava-se com as tarefas do Vinhedo, assinando documentos sobre carregamentos e atestando a qualidade de suas uvas. Tudo para que, no fim do dia, quando o Sol laranjado curvava-se na linha do horizonte, uma cadeira fosse puxada e o vinho derramado sobre a caneca nas mãos de Kaeya.

Ele bebia um pouco — não que pudesse beber muito — e observava-o na ação monótona de secar os copos. E então o tempo passava, mais rápido do que seus sentidos pudessem acompanhar, e ele sabia quando era hora de ir embora porque era quando Diluc falava seu nome. A única vez que a palavra era dita em uma ordem para deixar o lugar.

Havia dias como aqueles e havia dias como este.

Dias em que Kaeya visitava o Vinhedo pouco antes do cair da noite. Em que ele e Diluc descem as escadas para uma das salas consideradas "secretas" abaixo do saguão. Eles sacam suas espadas e se entreolham, um de frente para o outro.




Kaeya avançou sem hesitar. Seu primeiro golpe foi defendido com maestria, os movimentos rápidos seguintes sendo apartados pela espada longa de Diluc. Ele trincou o maxilar, as lâminas se chocando em questão de segundos num estrondo metálico fez com que o Alberich recuasse um passo, atento.

Diluc não era tão rápido quanto ele, e a espada tornava os movimentos mais arrastados, porém igualmente mortais. A força imposta no próximo golpe que realizou contra Kaeya fez com que a espada fina voasse das mãos alheias após alguns minutos a mais de combate, o objeto atingindo o carpete, metros atrás dos dois.

O ato alarmou Kaeya que, agora desarmado, não teve escolha senão curvar-se do ataque seguinte. A lâmina negra do espadão de Diluc passou tão rente à sua cabeça que os fios da franja balançaram com o vento. Então Diluc girou o corpo no momento exato em que Kaeya deu uma rasteira em suas pernas, derrubando-o no chão e consequentemente o desarmando também.

O ruivo grunhiu, irritado quando as pernas do outro pressionaram por cima das suas. Ele chutou Kaeya antes mesmo de ser rendido, e o gemido de dor veio quando as mãos de Diluc impediram os movimentos dos braços de Kaeya. Os dedos dele ao redor de seus pulsos eram firmes como ferro — frio e forte, como o próprio dono, e o aperto machucava.

A súbita raiva de Kaeya explodiu como uma onda que não podia ser estancada, e se manifestou na expressão em seu rosto, nos dentes cerrados e sobrancelhas contraídas. Ele relutou e se debateu o quanto pôde, mas Diluc continuou sobre si, a calma e autocontrole abalados eram revelados pelos arfares que saíam de sua boca, pela pele suada, os olhos que brilhavam como um claro desafio.

Eles se encararam por vários segundos, e não havia mais nada senão o silêncio quebrado pelas respirações os fazendo companhia. O coração sacudia dentro do peito e as roupas se tornavam quentes demais para o sangue correndo em excesso por suas veias. Quisera gritar ou enterrar-se naquela frustração, era só mais um dia igual a outros, mais uma noite em meio a tantas que fingia nunca existir, e que de fato não existiam para outros. No entanto, nada daquilo importava, pois não lhe era permitido desviar a atenção. A nenhum dos dois.

E não eram naqueles dias, mas sim naqueles momentos que a vontade de beijar Kaeya atingia Diluc como uma ordem que não podia ser ignorada, um comando da parte mais sincera de seu corpo que, ao mesmo tempo, era como um soco diretamente em seu rosto

Secret - KaelucOnde histórias criam vida. Descubra agora