Capítulo 13

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Um carro. Acelerando, indo rápido demais, correndo. Pensamentos, memórias, angústia, lembranças. Crises. O mundo girando, a terra tremendo, o céu caindo, é o que sinto. Alguém ao meu lado, Jenna, reconheço. Gritos e mais gritos. 'Para Ty!' Ela diz. "Já chega, por favor!". Não consigo parar. Nem a escuto direito. Minha visão escurece, meu peito dói, mal consigo respirar. A pulsação a mil por hora. Perco totalmente o controle, e  Ele assume, totalmente possuido por uma raiva tremenda. Sempre sinto ele dentro de mim, querendo se manifestar, querendo ferir. As mãos pretas, os olhos vermelhos. Em algum momento, acelera mais, e o carro voa por cima de tudo, dando voltas, girando no ar, capotando. O vidro se despedaça. Um zunido ensurdecedor entra na minha cabeça, uma dor aguda na minha barriga.  Olho para baixo e vejo um enorme pedaço de vidro perfurando minha pele, e um rio vermelho jorrando ao redor. Viro para Jenna, e a vejo pálida, com a cabeça jogada para trás, os olhos fechados, e um fatal caco de vidro perfurando sua garganta. Não posso fazer nada, está morta. Eu a matei. "Não, Ele a matou".  Meus olhos ficam pesados, e não me resta nada a fazer, além de fechá-los, e a escuridão toma conta de tudo.

Acordo de mais um pesadelo com as mãos suadas. Já deveria ter se tornado normal, mas a cada dia acordo ainda  mais assustado.  Esses pesadelos à noite, e pensamentos de dia, me atormentam não importa onde eu esteja. Tudo ocorre muito rápido, mas ao mesmo tempo parece que demoram horas para acabar. Não sei até quando vou aguentar tudo isso. É muita pressão sobre mim! Além dos meus problemas e da minha família, tenho a Jenna e o Josh agora. Não sei por que, mas sempre me aproximo das pessoas mais problemáticas que existem. Nunca tive amigos "normais". Sempre andei com os famosos "esquisitões", os excluídos, os rejeitados, os que tem tantos ou mais problemas que eu. É cansativo, mas nunca conheci ninguém que não precisasse ajudar, cuidar, tomar conta. Me sinto mais completo ajudando-os. E ao mesmo tempo, a cada palavra, sussurro, ou respiração pesada demonstrando a tristeza que sentem, me sinto um pouco mais quebrado... Eles rasgam meu coração. São os rasgos do meu coração. 

Levanto e lembro que hoje  já é Domingo, o que significa que às 10:00 vamos à igreja, toda família junta, para parecer que somos  muito unidos e nos damos super bem. Vou de pijama mesmo para baixo, olho no relógio, que marca exatamente 8:30.

Minha mãe está lá, esquentando a água para o café, e fritando bacon ao mesmo tempo.

-Bom dia mãe- digo me aproximando do fogão para tirar os bacons de lá, que estão quase queimando.

-Bom dia querido... Ah, obrigada por tirar pra mim. É tanta coisa que precisa ser feita, que acabo me esquecendo de algumas..- Diz com um sorrisinho no rosto. Minha mãe é muito linda, com seu cabelo loiro meio ondulado por ter acabado de acordar, e olhos azuis, que apesar de cansados são lindos...

-Relaxa mãe, é bom poder ajudar... Cadê o resto da turma? - pergunto  me referindo a meus irmãos e pai.

- Seu pai foi buscar o terno na lavanderia, Zack, buscar a namorada para ir junto à igreja, Jay e Madison ainda na cama... Vou acordá-los quando terminar de arrumar a mesa.

-Pode deixar que vou chamá-los mãe... -Digo e vou subindo as escadas.

Abro a porta do quarto de Jay e o chamo, tentando acordá-lo, mas o idiota dorme feito pedra. Ou apenas finge que dorme... Desço até a cozinha e pego um saco com pedras de gelo. Sei que vou fazer uma criancice, mas ele merece...

Puxo um pouco sua camisa e coloco o saco de gelo nas costas dele. Só ouço um grito, que com certeza vai acordar Madison no quarto ao lado por mim.

-Filho da...- Ele grita dando um pulo da cama e tentando tirar o saco de gelo. Ele pula e se remexe sentindo o gelo queimar suas costas, e é engraçado...

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⏰ Última atualização: Sep 22, 2021 ⏰

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