Sonhos

529 44 5
                                    


Juliana teve que passar mais uma semana em repouso, totalizando quinze dias em que se sentia infeliz quase todas as manhãs, em suas palavras, com o passar do dia ela se sentia melhor.

Lúcia ficou com elas nesses dias, como ambas pediram. E ela não recusou porque sua prioridade era ajudar as meninas o máximo que pudesse. Ela e Eva tinham várias coisas a fazer, mas quando isso aconteceu ela fez questão de ficar em casa.

Valentina ficou três dias em casa, depois teve que ir trabalhar, não queria Eiza em sua casa, as coisas ainda não estavam nesse ponto. Então ela decidiu ajudar sua esposa no início da manhã e voltar para jantar com ela e sua mãe.

Renata esteve fora da cidade todos aqueles dias, mas ainda cuidava de seu trabalho remotamente em Los Angeles.

O casal desenvolveu uma nova tradição. Todas aquelas noites Juliana pedia a Valentina que a levasse um pouco ao Jardim depois do jantar. Às vezes a mãe as acompanhava e às vezes eram as duas, levavam cobertores leves e bebidas quentes. Elas ouviam música, conversavam ou liam juntas.

Um espaço que as unia cada vez mais.

Na última noite desses quinze dias, Valentina perguntou algo a Juliana.

—Juls?

—Sim.

—O que você acha que é?

Juliana sorriu olhando para o horizonte.

—Acho que é uma bebê.

—Uma? _ela perguntou animada.

—Sim, tenho a sensação de que é uma menina, além disso, sempre disse que queria uma mini Val em meus braços.

—Eu também acho que é uma menina amor.

—Mas... _acrescentou Juliana.
—Se ela virar menino também não tem problema, será um cavalheiro muito bonito. _Valentina acenou com a cabeça.

Elas beberam um pouco e Juliana retomou a conversa.

—Acha que é cedo para falar de nomes?

Valentina pôs a xícara de lado e pegou a mão livre de Juliana.

—Bem, podemos dizer os que temos em mente, podemos mudar daqui a alguns meses. Em quais você já pensou?

—Eu pensei que os tinha desde que eu era criança, mas descobri que não. Eu queria que eles fossem em homenagem a minha mãe ou avô, mas agora não tenho certeza.

—Estive pensando em um. _Valentina confessou.

—Qual morrita?

Valentina ergueu os olhos para o céu e Juliana acompanhou o seu olhar, a lua cheia estava em todo o seu esplendor. A loira se levantou e gentilmente pegou Juliana da cadeira de rodas e carregou-a para a espreguiçadeira, sentando-a em seu colo e cobrindo-se com a manta que Juliana trazia consigo.

***

Poucos dias depois, Lúcia foi cedo para a casa de hóspedes. Entrou silenciosamente pensando que a nora estava dormindo, e viu que Juliana estava sentada pensando.

—Mama Lu. _ela podia sentir a sua presença.

—Olá Juli, bom dia. _Lúcia deu-lhe um beijo na testa.
—Valentina te deixou um beijo e pede desculpas por não estar com você esta manhã, mas ela teve que ir resolver algumas coisas. Lúcia entregou-lhe a garrafa térmica com chá de gengibre e sentou-se aos pés da cama.
—Hoje, você quer dar um passeio?

—Não. _falou balançando a cabeça.

—Juli...

—E se algo acontecer conosco, mãe? _Juliana não queria ficar mais do que o necessário em pé.

—Querida, o médico já os examinou e está tudo em ordem.

Após duas semanas constatou-se que a inflamação havia diminuído e que o feto não corria perigo.

—Eu ainda estou com medo Lu.

—Meu coração, eu entendo, você passou por um momento difícil, mas olha. _disse apontando para ela.
—Você está inteira como a guerreira que sempre foi, graças ao Universo isso já passou e agora você tem que continuar curtindo essa bela bênção que você tem dentro de você.

Juliana tentou se deixar impregnar pelas palavras da mulher e pediu que colocasse o vídeo que Valentina trouxera do hospital. Lúcia ligou e aumentou o volume, Juliana viu uns instantes, depois fechou os olhos e com o mesmo ritmo que ouvia na mente, ela tava mentalmente falando tá bom, tá bom, vai ficar tudo bem.

—Vamos dar aquele passeio? _Lúcia perguntou a ela depois de um momento.

—Sim, vamos, mas será curto.

***

Valentina se sentou ereta, respirando pesadamente. Ela se virou para olhar o outro lado da cama e Juliana estava lá, dormindo, quieta. Era apenas outro pesadelo.

Sim, eles haviam retornado e não apenas na forma de pesadelos, mas em sonhos estranhos.

Nesse específico, ela voltou do trabalho vestida de preto, entrando em casa chamando a mãe, que lhe pediu para ficar em silêncio, pois ela acabara de deixar alguém dormir.

Ela recebeu um beijo na bochecha de Lúcia e um "Como foi?"

Ela respondeu que tudo estava difícil, mas que eles estavam indo, enquanto ela tirava os brincos e os deixava no balcão da cozinha. Ela se sentia triste, vazia e também podia ver a tristeza no rosto de sua mãe quando ela disse que sentia muito.

Ela perguntou à mãe como ela tinha passado naquele dia, depois de se recusar a tomar um café.

Sua mãe respondeu que não muito bem e disse que seu irmão viria visitá-los no fim de semana. Ela tinha visto as chamadas perdidas, mas não queria atender.

Ela se despediu de sua mãe, que hesitou em deixá-la com alguém, entregando-lhe um monitor na mão.

Ela estava tomando banho na banheira, quando ouviu um barulho que foi ver e era um bebê que ela tentou acalmar com um "Shhh" enquanto acendia a luz "A mamãe está aqui"

Ela a confortou e lhe deu uma mamadeira enquanto ela se sentava na cadeira de balanço do quarto do bebê.

Ela a chamou pelo nome e perguntou por que ela não queria dormir, já que era a terceira vez que ela ouvia o choro de seu bebê.

Ela experimentou de tudo, trocou a fralda, deu de mamar, tirou a roupa, vestiu, colocou música, passeou pela casa. Mas não, nada acalmou seu bebê e ela estava prestes a desmaiar.

"Meu amor, por favor, não sei mais o que fazer."

Quando seus olhos começaram a se encher de lágrimas, ela mudou a posição do bebê para que ele ficasse embalado em seus braços enquanto caminhavam pela sala.

O bebê olhou para a mãe com um beicinho nos pequenos lábios que tremiam e seus olhos se encheram de lágrimas. Como se tentasse dizer algo.

Aquela carinha a fez chorar.

"Sim, meu amor, eu também sinto falta dela."

E foi então que ela percebeu ...

Depois de muito tempo tentando, conseguiu fazer a menina adormecer e ela também depois de olhar para o lado esquerdo da cama e suspirar com grande sentimento ao ver o outro lado vazio. Ela adormeceu dentro do sonho ...

Ela recebeu um bom dia e de seus lábios saiu um "Estou com saudades demais" enquanto sentia alguns beijos em seu rosto, a voz de sua esposa dizia "e eu de você meu amor, terminamos mais cedo e eu quis voltar imediatamente"

Ela respondeu com o quanto a amava e a embalou para se sentir confortável para segurá-la em seus braços novamente porque ela sentia falta dela.

Para então abrir os olhos rapidamente e se ver sozinha na cama, com o berço e o bebê ao lado, não era Juliana, eram só os dois...

Era um sonho dentro de um sonho de novo, como todas as noites, com cenários diferentes, mas em todos eles sua esposa estava ausente de uma forma ou de outra. Um jeito que fazia Lúcia parecer velha, que Santiago chorava, que se vestiam de preto, que Renata era mais séria e que sentia um buraco na alma por não poder acalmar um lindo bebê que tinha os cabelos da mesma cor de sua esposa.

Sem ScriptsWhere stories live. Discover now