Capítulo 6

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Quando retornamos à Nova York, estava totalmente aérea. Desde a minha saída da casa de repouso, fiquei repassando em minha mente momentos em que minha mãe havia sido manipuladora, cruel, fria ou ambiciosa, e constatei que haviam uma porção deles, a cada nova lembrança me convencia de que o que a minha avó havia contado era um fato. Sentia-me mal; como se durante todos esses anos eu tivesse vivido com uma venda nos olhos, ignorando todos os sinais. E em acréscimo a esse sentimento horrível, existia o fato de que nunca havia me sentido tão perdida, não sabia o que deveria fazer, ou qual seria o meu próximo passo. Agitada, nem quis almoçar, apenas coloquei um traje esportivo, peguei meu celular e caminhei até o Central Park. Alonguei-me, e colocando um pé a frente do outro comecei a caminhar. Fui ganhando ritmo e velocidade, e a leve caminhada se tornou uma corrida moderada, meu corpo se aquecia e a minha respiração se compassava. A cada passo que eu dava buscava respostas para perguntas que eu nem ao menos sabia formular. Adentrei mais o parque, e o fluxo de pessoas aumentou; esqueci-me de como ele ficava no inverno; nessa estação, a beleza do mesmo ficava ainda mais evidente, especialmente em razão da pista de patinação, a Wollman Rink, famoso cenário da Big Apple. Diversas pessoas estavam patinando despreocupadamente, outras se aqueciam tomando chocolate quente na lanchonete, mas todas embaladas pela música que ecoava perto da pista; a marcante voz de Thom Yorke, interpretando "Fake Plastic Trees"; desacelerei, me concentrando na letra. Já ouvi essa música diversas vezes, especialmente na minha adolescência, mas agora diante da magnitude de tudo que estava acontecendo, sua letra havia ganhado um peso enorme; tudo era realmente falso.

Lagrimas rolavam pelo meu rosto e não pude mais continuar, encostei-me ao tronco de uma arvore e lentamente sentei, e escondendo meu rosto entre as mãos entreguei-me ao choro, como há muito tempo não fazia.

Depois de alguns minutos e alguns olhares curiosos, levantei-me, enxuguei as lágrimas e caminhei de volta ao apartamento. Assim que adentrei a sala, Dora perguntou-me:

- Mia, você vai quer comer alguma coisa?

- Na verdade estou sem apetite, mas obrigada.

- Não vai querer nem um sanduíche de peito de peru?

- Certo; você me convenceu. – Concordei, sorrindo fracamente. - Mas vou tomar um banho primeiro.

- Ok; vou deixar o sanduíche no seu quarto.

- Obrigada.

Saí do banho e enrolando-me no meu roupão, escutei meu celular tocar. Era Gael.

- Oi Gael!

- Oi, minha linda. Como vão as coisas?

- Horríveis. – Lamentei.

- Não conseguiu nenhuma informação nova?

- Essa é a parte ruim, consegui informações ainda piores. Sinto-me perdida. – Não querendo envolvê-lo mais na situação, mudei de assunto. - Mas diga-me como você está?

- Estou bem, acabamos de fechar o acordo. Então, estou te ligando para avisar que hoje à noite vamos voltar para Nova York.

- Que ótimo, fico feliz por você conseguir passar o feriado com a sua família.

- Bem na verdade, era isso que iria te perguntar; você quer passar a véspera de Natal comigo e a minha família?

- Gael, preciso me concentrar em resolver as coisas por aqui.

Com um tom preocupado Gael, sugeriu:

- Olha, por que não fazemos o seguinte; jantamos amanhã e você me conta tudo o que aconteceu e então vejo como posso te ajudar.

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