Capítulo 6

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Amália

A fumaça invade a cozinha como se o espaço que existe fosse apenas para ela, saio correndo da sala e entro na nuvem que invadiu minha casa. Uso um pano para cobrir meu nariz e me aventuro, a fim de evitar algo pior.

— O que aconteceu Amália? – indaga a mulher que está sempre ao meu lado.

— Eu esqueci a panela no fogo, acho que por tempo demais – respondo e em seguida desligo o fogo e abro a janela.

Volto para a sala, esperando que a fumaça se despeça e com rapidez nos abandone, no entanto pelo tempo que observo acredito que deseja ficar mais um pouco.

— Será que ele gosta de cozido queimado? – questiono e começo a rir, vejo Lena reprimir sua própria risada e isso me faz sorrir ainda mais.

— Tu continuas engraçadinha menina – repreende-me, mas isso não me intimida.

— Não é isso Lena, não esqueci de propósito. Aliás, tu sabes que jamais desperdiçaria comida – esclareço e ela continua em silêncio encarando-me. — Contudo, acredito que o meu amado marido merece essa comida queimada, eu ainda não me vinguei – digo e seu olhar me reprova.

— Achas mesmo que consegues vingar-se de teu marido? – indaga séria.

— Não me acha capaz? – investigo curiosa, não identifico se fala sério ou esta a brincar.

— Confio minha filha, que é capaz de fazer tudo o que deseja, entretanto não acho que realmente queira fazer algo de ruim com ele – explica e sinto a raiva crescer dentro de mim.

— Fui agredida, por alguém que sempre confiei e não sinto que tenho liberdade para fazer justiça por mim mesma. Não sei se conseguiria por conta de tudo o que minha mãe falou, contudo quero que ele sinta alguma dor, acho injusto que ele esteja sempre tão feliz – desabafo e respiro sabendo que talvez eu tenha falado demais.

Sinto seus olhos penalizados direcionados a mim e envergonho-me por mais uma vez estar mostrando minha fraqueza, não é a primeira vez que isso acontece e temo que não seja a última.

Lena sempre faz isso comigo, consegue amolecer-me e tirar de dentro de meu peito o que realmente sinto. Isso já aconteceu há alguns dias, conversamos alegremente sobre alguns planos que possuímos e logo o homem que um dia tanto confiei tornou-se parte de nosso assunto, fragilizei-me e disse coisas que não deveria, às vezes acredito que o silêncio é meu grande amigo.

— Logo vai conseguir fazê-lo ter o que merece – diz encarando-me.

Vejo verdade em seus olhos e isso me conforta, ela é minha mãe querida que escolheu cuidar de mim e jamais abandonou-me é isso me faz continuar sem ao menos pensar se alguém se importaria, posso chamá-la de força.

Olho para a cozinha e vejo que a fumaça começou a diminuir, apenas o cheiro de queimado aumentou deixando o ambiente praticamente insuportável de permanência, seguro na mão de Lena e faço com que me acompanhem direção ao jardim.

Após o incidente com meu marido, não permito que ela se afaste de mim. Faz pouco mais de quatro dias que não conversamos e pergunto-me constantemente por quanto tempo vamos continuar assim.

— O que gostaria de fazer enquanto aguardamos? – questiona.

— Vamos ficar no jardim um pouco, vai ser bom para nós, curtir a natureza pode limpar tudo que temos de ruim – digo e ela sorri.

Passam-se alguns minutos e eu o ouço, não importa onde esteja sempre saberei quando se aproxima. Corro em sua direção e o abraço forte, deleito-me em seu cheiro que me faz sentir a segurança que tinha quando era criança.

VendidaWhere stories live. Discover now