05.

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O loiro afundou suas mãos no bolso do casaco marrom enquanto caminhava pela grama úmida. As bochechas vermelhas pelo frio, quase no tom de seu cachecol.

Sua noite de sono havia sido cheia de sonhos desconexos e agitados, começar o dia limpando insetos mortos também não lhe soava animador. Tudo naquela situação lhe dava dor de cabeça. Os calafrios nas costas, que não eram pelo clima gelado.

Atravessou com sua mochila e ficou por um tempo fitando a quarta torre da universidade, revestida por tijolos, um tom rústico e comum na região.

Ele bebeu outro gole do café puro e foi em direção as escadarias, ignorando que se atrasaria para sua primeira aula. No caminho, se xingava mentalmente por estar tão fascinado por aquela história toda, era como se algo o chamasse.

Subiu passo por passo, com uma calma que nem ele mesmo aguentava mais. Chegou ao último andar, um pequeno corredor com a sequência de quartos, onde o único que não estava em funcionamento era o trágico número vinte e dois.

Newt parou em frente a porta de madeira com números dourados marcados pelo tempo. Seus dedos se aproximaram calmamente e foi como seu um curto circuito tivesse iniciado em seu corpo quando a pele tocou a madeira.

Os batimentos cardíacos ficaram rápidos de uma maneira que o garoto achava ser impossível. O copo de café esparramou-se no chão e Newt caiu praticamente sentado, a visão escurecida e turva. Sentiu vontade de gritar, mas ficou preso em sua garganta de maneira sufocante, os pulmões comprimidos em agonia.

Ele soube que, seja lá o que fosse que cercava aquele dormitório, não queria ninguém ali.

— Ei, você me escuta? Alguém chama um médico! — A voz forte e feminina chegou aos seus ouvidos, alguns clarões ainda apareciam em sua visão.

— Teresa? — O nome escapou da boca do loiro sem permissão. Ele nem sabia o por que havia dito isso.

— Você me conhece, garoto? — Agora ele podia ver com mais nitidez o cenho franzido, olhos azuis e desconfiados.

— Ham, acho que não, eu... eu estou bem, obrigado. — Levantou rápido, sentia-se atordoado. — Eu tive uma queda de pressão.

— Tem certeza? Posso te levar na enfermaria. — Ajudou a recolher a mochila que havia quase voado para o outro lado do corredor.

— Não precisa, mas agradeço. — Pigarreou. — Bem... você é Teresa Clarke, irmã d...

A frase foi cortada imediatamente. A garota encarou a porta do dormitório e voltou a expressão enfurecida para Newt. Seu rosto retorcia em raiva pura.

— Ah, entendi o que faz aqui. — Riu sem humor e aproximou-se com violência. — Se veio aqui dar uma de caça fantasmas desista, meu irmão era um garoto doente e não uma merda de lenda urbana para calouros quererem explorar! SAIA!

— Me desculpe, não queria que parecesse isso, não... — Ele engasgou sem jeito.

— SAIA, DROGA! — Ela berrou a plenos pulmões, algumas lágrimas brotando no canto dos olhos, alunos parando para ver a cena.

O loiro tentou falar mais algo, mas percebeu que não adiantaria nada. Soltou um "me perdoe" como sussurro e virou-se para ir embora o mais rápido possível. Ainda sentia suas pernas amolecidas e a cabeça doendo.

Em certo ponto nem percebia que praticamente corria pelos corredores da universidade, queria fugir dali para qualquer lugar. A única coisa capaz de pará-lo foi seu corpo batendo violentamente contra Sonya, que caminhava junto de Harriet e Ben.

Outra vez ele estava no chão e a agonia parecia tomar conta de seu corpo todo, as mãos começavam a tremer e suar. Sonya levantava-se e tentava falar com o irmão, que simplesmente não associava frase alguma.

— Newton! O que está acontecendo? — Ela perguntou preocupada, engatinhando até sua frente.

Estava encostado contra a parede, sentado com as pernas dobradas contra o resto do corpo. A respiração parecia cada vez pior.

— Vamos resolver isso, já irá passar, ok? — Tentou demonstrar calma. — Fique comigo, você ficará bem.

A loira pediu que Harriet procurasse por uma cartela de remédios na mochila do garoto. Era muito difícil que precisasse, mas gostava de precaver-se.

— Tome isso, é apenas uma crise de pânico, estou aqui com você. — O ajudou, colocando o pequeno comprimido branco em sua mão.

Os olhos castanhos de Newt estavam fundos e arregalados, ele não conseguia falar nada, apenas obedecia o pouco que entendia em meio à confusão de pessoas passando e o olhando como se fosse algum tipo de animal de circo.

Ben ajudou a retirar o cachecol para que respirasse melhor, o de pele negra fazia carinho no ombro do mais alto, ninguém sabia muito o que fazer no momento. Sonya se aproximou do ouvido do gêmeo e sussurrou então.

— As vozes e vultos voltaram?

A pergunta se infiltrou em seu cérebro, sabia que a irmã não o chamaria de louco, ela foi a única que acreditou que a infância cheia de visões bizarras não se tratavam apenas de um imaginário fértil.

Ele balançou levemente a cabeça em positivo. A expressão da outra foi enigmática, o que importava agora era que o loiro se sentisse melhor.

Após alguns minutos Newt já conseguia levantar-se. Entre as pessoas que transitavam no local em dado momento ele viu Teresa, que tinha um olhar sério do outro lado do corredor, acompanhando a situação por certo tempo.

— Vamos te levar pro quarto, sabe que esse remédio vai te dar sono, precisa descansar. — A irmã avisou enquanto carregava sua mochila.

O caminho até a fraternidade foi silencioso, ninguém mais estava na casa e os três garantiram de deixar o loiro acomodado e o mais tranquilo possível. Sonya queria ficar com ele para garantir que nada mais aconteceria, mas Newt a convenceu de ir para a aula.

— Qualquer coisa me ligue, entendeu? — Ela falou ainda preocupada.

— Sim, não se preocupe. — Respondeu baixinho, recebendo um beijo na testa.

Ouviu de longe a porta principal da casa fechando quando eles foram embora. Ainda sentia a cabeça girando, tinha muito tempo que não passava por uma crise, havia quase esquecido do quão ruins elas eram.

A medicação estava causando um efeito cada vez maior e Newt sabia que precisava mais do que nunca de descanso. A sola de seus coturnos estavam um pouco sujas pela neve, mas ele tinhas coisas piores para se preocupar, então apenas jogou os sapatos para o lado e deitou-se, sem tirar totalmente a roupa que tinha vestido para a aula.

Sua cabeça estava mais leve quando caiu no travesseiro, as extremidades de seu corpo não eram mais tão gélidas e o silêncio era a melhor sinfonia possível.

Então, sem cerimônia, os olhos escuros renderam-se a exaustão.

my sweet fallen angel | newtmasWhere stories live. Discover now