PARTE UM

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"O verão está instalado no meu coração."

CLARICE LISPECTOR




AVISOS: menções a transfobia (mas nenhuma cena de violência) e outros breves relacionamentos (mas drarry endgame)




13.

Quatro semanas antes das férias de verão do nono ano, Draco parou em frente ao espelho no banheiro da suíte dele e cortou todo o cabelo dele usando tesouras sem ponta.

Cachos longos e louros e perfeitos caíram no chão ao redor de Draco e, por um segundo, ele se sentiu como se estivesse em um filme, como se estivesse no ápice, uma supernova no momento em que tudo que tinha vindo antes finalmente explodia e se transformava em algo novo; algo melhor. Por um segundo, ele se sentiu bem, queimando e brilhando e se transformando. Foi tão bom, tão cheio de alívio, uma tensão que vinha crescendo nas costas dele faziam anos e finalmente se quebrava como um fio elétrico que tinha sido puxado demais, e ele era pura energia, ele achava que podia criar todo um novo universo, criar estrelas e o próprio conceito de tempo e novas leis da física. Aquele ele era o Big Bang da vida dele.

Aí Draco lembrou que, na maior parte do tempo, em filmes, eram meninas que cortavam os cabelos em cenas dramáticas, e ele sentiu ainda mais vontade de gritar.

No fim, foi a mãe dele que berrou muito alto quando o viu.


-


Gregory Goyle tinha o feito uma pulseira na aula de artesanato deles dois dias antes, porque eles iam para uma escola muito chique que os ensinava muitas coisas desnecessárias.

Antes do recesso, quando Gregory o entregou o bracelete todo trançado e pronto, ele tinha o dito que era só uma pulseira da amizade, porque todos os colegas deles estavam fazendo piadinhas e os chamando de namoradinhos e estava os deixando bem desconfortáveis. Gregory tinha deixado mais do que claro que só o via como um amigo, apesar de que, na verdade, ele tinha dito "uma amiga" e os colegas deles estavam era não parando de perguntar para Gregory se Draco era "a namoradinha" dele.

Draco ainda estava usando o bracelete, o revirando no pulso dele, sentindo a sensação das linhas de bordar grossas contra as pontas dos seus dedos e tentando se firmar a essa sensação e não as lágrimas nos olhos dele, que queriam tanto cair.

Era azul. Ele não conseguia parar de pensar no quão azul era ou se livrar das risadas e dos coros de namoradinha que ficavam ecoando pelos ouvidos dele. Na noite anterior, Draco tinha se sentado na cama dele e tirado a pulseira do braço, a segurando como se ela fosse um rosário, apesar da oração que ele queria dizer ser ácida demais na boca dele. Fazia ele se sentir impuro, profano com seus desejos que eram tão horrivelmente fortes e inaceitáveis. Pecaminosos, de certa maneira. Muitas maneiras.

Não era culpa de Gregory ou de Vincent ou dos outros. Eles não sabiam. Draco não sabia como os explicar ou se sequer deveria tentar, ele só sabia que havia algo na garganta dele, algo arrancando as cordas vocais de Draco e tentando fugir, implorando para ser solto, para ser gritado. Ele não conseguia se segurar mais, mas ele também não conseguia soltar aquilo tudo. O dava medo tentar nomear aqueles sentimentos, organizar os pensamentos que nunca deixavam a mente ou os lábios dele até mesmo só em sua cabeça Nesse ponto, já era um segredo tão grande e profundo e largo quanto o oceano, cobrindo 70% de toda a terra e ainda mais da vida de Draco.

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⏰ Última atualização: Nov 17, 2021 ⏰

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living waters,  DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora