Deixe Queimar

IV

Há dois anos atrás...

Pedra do Dragão

Tinha visto Dmitri se afastar, acenando para todos em despedida, sem explicar para onde ia quando Theron questionou o irmão, fazendo o mais velho abrir um sorriso malicioso ao imaginar que ele estava indo de encontro a alguma mulher. Ele não estava errado, afinal.

Mas a mulher em questão demorou a aparecer, porque demorara a se despedir também, alegando precisar ir pra casa passar alguma coisa no corpo para aliviar a pele da vermelhidão causada pelo sol. Ela realmente precisaria fazer aquilo depois, mas não a estava incomodando tanto quanto dava a entender.

Temeu que Amber a acompanhasse quando viu a amiga pegar suas coisas, mas respirou aliviada quando Isis a chamou para tomar algo e todos os demais concordaram de imediato em também ir. Estava aliviada também porque não teria nenhum perigo de algum deles aparecer por lá.

Durante o caminho, se questionou porque não queria contar a ninguém o que estava prestes a fazer. Ruby estava com Tristan e todos estavam aceitando bem — exceto os irmãos dela, o que já era esperado. Mas era diferente, claro. Ela não esperava que o que fosse acontecer entre ela e Dmitri fosse durar. Eles se sentiam atraídos, queriam ver até onde iria aquela atração. E isso era tudo. Não havia por que complicar colocando seus amigos e familiares no meio.

A Pedra do Dragão, conhecida por ficar no ponto mais alto — exceto pelo local do castelo dos Dragscale —, era grande e em formato exato de uma cabeça de dragão, o que despertou muitas lendas sobre o local, inclusive que um antigo dragão jazia ali, em pedra, e que algum dia voltaria à vida. Era ali que Dmitri estava sentado, com os braços apoiados nos joelhos dobrados, olhando para o mar que batia na parte mais baixa da grande rocha e perdido em pensamentos.

— Um beijo por seus pensamentos — brincou a menina, por fim se aproximando e sentando-se ao lado dele na rocha.

— Esse vai ser o beijo mais fácil, então — comentou o rapaz, sorrindo maroto. — Estava me questionando se teria que ir até a sua casa para ganhar esse beijo ou se você viria mesmo.

— Você iria até a minha casa apenas por causa de um beijo? — perguntou ela, descrente, deixando isso claro em seus olhos azuis.

O sol já havia se posto, mas a lua cheia trazia luminosidade suficiente para que eles se vissem sem problemas. E da mesma forma que ele via a descrença na expressão dela ao fazer a pergunta, Hillary percebeu a veracidade nas palavras seguintes:

— Eu desejo muito esse beijo, há algum tempo, inclusive. E passei o dia esperando por ele, Hill. Sim, eu iria. Talvez fizesse como naquela história brega que a Ruby tanto gosta, Romeu e Julieta, e entraria pela sacada.

Ambos riram quando ele fez tal comparação, afinal, todos tinham passado pelo vício de Ruby na história trágica quando ela estava em sua fase mais dramática da adolescência, que por sorte não durou.

— Bem, eles foram ajudados pela ama, mas em algum momento acabaram conseguindo ficar juntos — concluiu a jovem, dando de ombros.

— Não temos famílias que se odeiam, então já estamos com vantagem — brincou o rapaz, estendendo a mão para ela e esperando que Hillary aceitasse. — Mas comparações à parte... Não menti. Aguardei ansioso por esse momento.

— Curiosidade ou desejo? — questionou a jovem, sincera em sua dúvida.

— Ambos bem misturados — confessou o rapaz, sorrindo e vendo ela fazer o mesmo. — Não são todas as pessoas que recebem um beijo quando são crianças e têm a chance de beijar essa pessoa anos depois. De verdade.