Capítulo 20

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Eu nem dei bola para o que o Murilo dissera e apenas me preocupei em apressar meu passo pra alcançar o Burro. Ele estava caminhando apressado em direção às quadras, que a essa hora da noite, já estavam apagadas.

- Burro, caralho?! - gritei, chamando-o.

Ele virou para trás e ficou me observando. Dava para ouvir de longe que ele estava chorando.

"Como eu detesto ver alguém chorando, Leitores. A maioria das vezes eu acho ridículo, porque mostra a fraqueza interior e eu não gosto de expor minhas fraquezas. Mas no caso do Burro, se ele não melhorasse logo, eu ia chorar junto".

Acredito que eu estava sentindo quase a mesma dor que ele estava. Isso me deixava tão confuso, porque nunca havia sentido isso antes. Era tão ruim vê-lo naquela situação, completamente humilhado.

"Acho até que me sentiria igual, mas com certeza eu teria reagido contra o Murilo. Nem que eu tivesse levado uns socos e apanhado feio, mas não sairia de lá sem enfrentar o filha da mãe."

 Antes mesmo que eu pudesse chegar mais perto dele, começou a desabafar.

- O que eu fiz? - disse ele com os olhos marejados - Fala pra mim, o que eu fiz a ele? - e com muito cuidado começou a tirar a camiseta.

- Quer que eu te ajude? - eu perguntei chegando mais perto.

Ele nem me respondera e com muita dificuldade conseguira tirar a camiseta. Os cortes ainda estavam sangrando, completamente em "carne-viva".

"É até pecado eu pensar isso, mas ele estava lindo sem camiseta. Chorando, com carinha de colo".

- Deixa isso pra lá. Ele é um filha da puta - eu sou péssimo em tentar animar alguém.

- Eu estava normal. Não mexi com ninguém. Não briguei com ninguém. Não empurrei ninguém na quadra. Fiquei a tarde toda em casa me limpando e fazendo curativos. E meu padrasto ficou me infernizando pra saber o que houve?

"Imagino mesmo!". - pensei.

 Pois o Burro era muito bom de futebol e nunca se machucara.

- Tenta esquecer esse idiota.

- Esquecer? É só isso que você me fala? - disse ele fungando - esquecer? - repetiu jogando a camiseta longe.

"Affff! Como sou péssimo com palavras de apoio!" - pensei.

- Eu nunca brigo, discuto ou faço piadas com ninguém. Nada! - e cada palavra ele soluçava e chorava mais.

Novamente senti aquela sensação de querer protegê-lo, abraçá-lo, fazer cafuné e deitá-lo no meu peito.

- E você Alan, que ideia besta em me fazer ficar no seu aniversário? Achei que você gostasse de mim - disse ele sem olhar para mim.

- Burro, o que você acha que estou fazendo aqui? É difícil para eu ter que tomar partido... - e pela expressão que ele fez sabia que tinha dito mais uma besteira.

 - Tomar partido Alan? Olha aqui que ele fez no meu corpo - nessa hora ele apontou todas as escoriações que ele tinha "ganhado" no jogo de hoje à tarde. - Olha o que ele fez na minha roupa e pensa bem em tudo que ele falou de mim agora à noite. O problema Alan, que você é igual a todos naquela festa. Não podem ver um carinha novo fazendo graça que puxam saco deles. E por esse motivo, não quero papo com ninguém mais. Nem com você Alan - disse ele olhando para os pés deixando as lágrimas acumuladas caírem.

MEU CORPO É MUITO PESADO!!!Where stories live. Discover now