Eu nem dei bola para o que o Murilo dissera e apenas me preocupei em apressar meu passo pra alcançar o Burro. Ele estava caminhando apressado em direção às quadras, que a essa hora da noite, já estavam apagadas.
- Burro, caralho?! - gritei, chamando-o.
Ele virou para trás e ficou me observando. Dava para ouvir de longe que ele estava chorando.
"Como eu detesto ver alguém chorando, Leitores. A maioria das vezes eu acho ridículo, porque mostra a fraqueza interior e eu não gosto de expor minhas fraquezas. Mas no caso do Burro, se ele não melhorasse logo, eu ia chorar junto".
Acredito que eu estava sentindo quase a mesma dor que ele estava. Isso me deixava tão confuso, porque nunca havia sentido isso antes. Era tão ruim vê-lo naquela situação, completamente humilhado.
"Acho até que me sentiria igual, mas com certeza eu teria reagido contra o Murilo. Nem que eu tivesse levado uns socos e apanhado feio, mas não sairia de lá sem enfrentar o filha da mãe."
Antes mesmo que eu pudesse chegar mais perto dele, começou a desabafar.
- O que eu fiz? - disse ele com os olhos marejados - Fala pra mim, o que eu fiz a ele? - e com muito cuidado começou a tirar a camiseta.
- Quer que eu te ajude? - eu perguntei chegando mais perto.
Ele nem me respondera e com muita dificuldade conseguira tirar a camiseta. Os cortes ainda estavam sangrando, completamente em "carne-viva".
"É até pecado eu pensar isso, mas ele estava lindo sem camiseta. Chorando, com carinha de colo".
- Deixa isso pra lá. Ele é um filha da puta - eu sou péssimo em tentar animar alguém.
- Eu estava normal. Não mexi com ninguém. Não briguei com ninguém. Não empurrei ninguém na quadra. Fiquei a tarde toda em casa me limpando e fazendo curativos. E meu padrasto ficou me infernizando pra saber o que houve?
"Imagino mesmo!". - pensei.
Pois o Burro era muito bom de futebol e nunca se machucara.
- Tenta esquecer esse idiota.
- Esquecer? É só isso que você me fala? - disse ele fungando - esquecer? - repetiu jogando a camiseta longe.
"Affff! Como sou péssimo com palavras de apoio!" - pensei.
- Eu nunca brigo, discuto ou faço piadas com ninguém. Nada! - e cada palavra ele soluçava e chorava mais.
Novamente senti aquela sensação de querer protegê-lo, abraçá-lo, fazer cafuné e deitá-lo no meu peito.
- E você Alan, que ideia besta em me fazer ficar no seu aniversário? Achei que você gostasse de mim - disse ele sem olhar para mim.
- Burro, o que você acha que estou fazendo aqui? É difícil para eu ter que tomar partido... - e pela expressão que ele fez sabia que tinha dito mais uma besteira.
- Tomar partido Alan? Olha aqui que ele fez no meu corpo - nessa hora ele apontou todas as escoriações que ele tinha "ganhado" no jogo de hoje à tarde. - Olha o que ele fez na minha roupa e pensa bem em tudo que ele falou de mim agora à noite. O problema Alan, que você é igual a todos naquela festa. Não podem ver um carinha novo fazendo graça que puxam saco deles. E por esse motivo, não quero papo com ninguém mais. Nem com você Alan - disse ele olhando para os pés deixando as lágrimas acumuladas caírem.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomanceHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...