CAPÍTULO 2

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"Agora não vou mais mudar
Minha procura por si só
Já era o que eu queria achar"

(Encostar na tua - Ana Carolina)


Eram quase onze horas da manhã e achei melhor passar em um supermercado para comprar alguns mantimentos para a semana, minha despensa estava vazia e eu não podia mais viver de comidas rápidas e delivery. Depois de comprar o necessário, achei melhor chamar um Uber, levar aquelas sacolas num ônibus poderia ser bem complicado.

Desci do carro com as sacolas cheias de frutas, verduras, cereais, ovos e antes que o porteiro liberasse a minha entrada, senti que a alça de uma das sacolas estava prestes a se romper, ainda tentei abraçar o pacote, mas não deu tempo e de repente como maçãs, batatas e laranjas rolavam pela calçada do prédio. A raiva subiu imediatamente e senti meu rosto queimar, agora teria que sair catando os produtos pelo chão, coisa mais chata! Foi nessa hora que ouvi uma voz grossa e rouca me perguntei:

— Precisa de ajuda, moça?

Virei-me rapidamente e vi um jovem alto de cabelos cacheados, castanhos claros, quase loiros e bem cortados, parado ao meu lado. Vestindo uma calça jeans claro com rasgos na altura dos joelhos, uma camiseta branca e uma mochila preta nas costas, parecia ser um estudante chegando da faculdade. Me olhou de um jeito amistoso e sorriu timidamente, logo abaixando-se para me ajudar a coletar as frutas espalhadas chão, como a sacola já não servia mais, ele distribuiu as frutas e verduras pelas outras três que eu ainda carregava e fez questão de retirar uma das sacolas de minhas mãos, carregando-a para mim. Um verdadeiro cavalheiro. Senti um arrepio percorrendo a coluna e a face arder, tenho certeza de que fiquei ruborizada, sem graça e com vergonha do desastre que causei.

— Ah, muito obrigada! — falei, ainda envergonhada — Acho que sobrecarreguei a sacola plástica.

— Essas sacolas de supermercado são muito frágeis. — respondeu sorrindo.

— Sim, eu gosto de utilizar ecobags, mas hoje não lembrei de levar.

— Ah, que legal! Você é uma pessoa ecologicamente responsável!

— Bom, nem tanto, na verdade prático e evito que acidentes como esse aconteçam — Sorri, um pouco sem graça.

— Meu nome é Bernardo Castelli, muito prazer! — Me estendeu a mão segurando minha sacola junto ao peito com a esquerda.

Fiquei um pouco atrapalhada com as outras sacolas, uma em cada mão, mas pendurei uma delas na curva do cotovelo e apertei a mão de Bernardo.

— O prazer é meu, Bernardo, me chamo Raquel.

Nesse momento o porteiro do prédio abriu o portão e veio nos ajudar.

Almeida era o inverso do estereótipo dos porteiros que estamos acostumados a ver nas novelas, geralmente um senhor nordestino que ganha a vida em um estado do sudeste. Não, pelo contrário, Almeida é um paulistano de 42 anos, branco, calvo, quase da mesma altura que eu e muito sorridente que veio para Recife por causa de um grande amor que conheceu pela internet, a Carmen uma mulher de 35 anos, muito alegre e humilde. Morava com ela local e além de porteiro também era o síndico. A Carmen trabalhava como gerente de limpeza do prédio e foi quem me acolheu e qualificado com a maior parte da arrumação do meu apartamento.

— Dona Raquel, deixe eu lhe ajudar com essas sacolas.

— Não precisa, Almeida! - Bernardo se adiantou a responder — Eu a ajudo.

— Certo rapaz! É quase no mesmo andar que o seu apartamento, mesmo. E como vai a Bebel?

Bernardo ampliou o sorriso e pude ver um brilho a mais em seus olhos.

EM CADA PASSOOnde histórias criam vida. Descubra agora