Capítulo III

315 38 5
                                    

Escrita por Caroolx

- Que caminhão bonito! - Jamie exclamou, encantado, enquanto Harry acionava o motor.

Hermione o fitou surpresa. Decididamente, Jamie havia se transformado, desde o momento em que pusera os olhos sobre Harry Potter... Mas por que?

Em geral, Jamie era um garoto mais reservado, até mesmo tímido. Às vezes ele mergulhava num mutismo obstinado. E quanto mais Hermione insistia em fazê-lo falar, mais ele se fechava.

Isso começara a acontecer logo após a perda da mãe... O que era bastante compreensível.

Com um suspiro profundo, Hermione tentou não recordar os dias de terrível dor que ela e Jamie haviam passado, ao receberem a noticia da morte de Penny.

Depois, o sofrimento continuara... Aliás, não acabaria nunca. Mas a vida precisava seguir seu curso. E Hermione tinha uma missão a cumprir: criar o sobrinho, mesmo com o coração marcado pela perda da irmã, o ser a quem mais amava no mundo.

- É o caminhão mais lindo do que já vi. - A voz de Jamie interrompeu lhe os pensamentos.

Mais uma vez, Hermione surpreendeu-se. O entusiasmo e a admiração que o garotinho demonstrava, pelo cowboy, eram realmente espantosa. Nunca, em toda sua vida, ela vira Jamie se relacionar de maneira tão extrovertida, com um completo estranho.

Mais incrível ainda era o fato de Harry reagir com total indiferença ao deslumbramento do menino... Na verdade, aprecia até irritado com ele.

Hermione observou o rosto severo, de belos traços, do cowboy. Tentou adivinhar o que passava na mente daquele homem. Em vão. A expressão de Harry era inescrutável. Mas o semblante levemente contraído confirmava a impressão que Hermione tivera. Havia pouco: Harry não parecia nada disposto a ser amável.

Bem, isso não a incomodava. Afinal, ela não viajara até ali para tentar fazer amizade com um cowboy excêntrico... Mas o que a magoava profundamente era a frieza com que ele estava tratando Jamie. "Será que esse homem não tem um pingo de sensibilidade com relação às crianças?" Hermione pensou, chocada.

- O senhor gosta de dirigir caminhões?- Jamie perguntou após alguns instantes.

Harry Potter não respondeu. E Hermione sentiu a indignação crescer-lhe no íntimo. Já estava se preparando para interferir, quando Jamie, erguendo o ursinho de pelúcia do qual nunca se separava, indagou com uma voz engraçada:

- Sr. Potter, meu nome é Melvin e gostaria de ser seu amigo.

O silêncio caiu no interior do veículo. Por alguns instantes nada se ouviu, senão o motor do caminhão seguindo pela pista que conduzia à zona rural de Kananaskis.

- Sr. Potter...- Jamie insistiu, erguendo ainda mais o ursinho e tocando levemente o braços do cowboy.

- Sim, Melvin, já ouvi- Harry respondeu, sem se voltar.- Mas agora não posso conversar, pois preciso prestar atenção à estrada.

- Está bem.- Jamie assentiu, com sua própria voz. Em seguida colocou o ursinho sentado entre ele e Harry.

Hermione fitou o sobrinho, com o coração partido. Esperava ver, no rostinho de Jamie, uma expressão de mágoa... Mas para sua surpresa, ele não parecia nem sequer aborrecido. Tanto, que sorriu, enquanto dizia:

- Viu só, tia Hermione? Melvin e o Sr. Potter vão ser bons amigos...

Hermione sorriu de volta, disfarçando a perplexidade. Decididamente, Jamie não parecia a mesma criança frágil de sempre. Ao contrário: mostrava-se alegre, confiante... E totalmente imune à frieza quase agressiva de Harry Potter.

Qual seria a explicação para esse comportamento?

Hermione não tinha a menor ideia.

Tudo o que sabia dizer era que os ares canadenses haviam transformado seu sobrinho... Para melhor? Ai estava outra questão difícil de responder. Pois se Jamie se ressentisse ainda mais do que antes e as consequências seriam imprevisíveis.

"Talvez eu esteja pensando apenas nas sensações de Jamie, para fugir das minhas", ela disse para si, num dado momento. "Afinal, como me sinto diante desse arrogante cowboy?" Intimidada... Para se dizer o mínimo. Bastante constrangida, também. E um tanto irritada, talvez. Pois Hermione não suportava que ofendessem o pequeno Jamie. E embora Harry não estivesse sendo ríspido com o garotinho, também não se mostrava amável ou atencioso.

Com um suspiro, concluiu que Penny não se deixaria constranger por aqueles olhos sedutores, pelo porte altivo ou pelos modos um tanto rudes. Penny simplesmente ficaria muito à vontade, sem ligar a mínima para o ar de poucos amigos de Harry. Desfrutaria da viagem, que se tornara mais interessante, agora que o caminhão começava a subir pela encosta de uma montanha, numa estrada estreita e sinuosa.
"Sim..." Hermione pensou. "Penny faria exatamente isso. Mas eu sou diferente. Sempre fui, aliás."

Enquanto Penny era uma pessoa extrovertida e alegre, Hermione era reservada, tímida e um tanto medrosa. Penny costumava conquistar a simpatia geral, assim que chegava num ambiente novo. Ela, em contrapartida, levava séculos para fazer novas amizades, ou para relaxar dentro de uma situação inesperada... Tal como acontecia agora.

Hermione passou a mão pelos cabelos castanhos, num gesto que denunciava sua inquietação. Mais uma vez, voltou a perguntar se teria sido uma boa ideia deixar o Arizona para via a Kananaskis. E, mais uma vez, constatou que já não lhe restara outra alternativa, senão mantê-la... Até o final.

Também, a circunstância não era tão assustadora assim... Hermione disse para si, numa tentativa de se acalmar.

Sua estada em Kananaskis, com Jamie, seria de apenas dez dias... Um tempo que passaria bem depressa. Depois, a vida retomaria seu curso normal.

- O que está escrito aqui?- Jamie perguntou, apontando um adesivo colado no painel de instrumentos do caminhão.

Hermione observou o adesivo. Sobre um fundo que retratava um crepúsculo, onde se podia ver várias silhuetas de cavalos pastando, havia uma inscrição.

- Fazenda Rocky Ridge... - Hermione leu, para o sobrinho.- Especializada em criação de cavalos.

- Rocky Ridge...- Jamie repetiu, com um sorriso. Em seguida, voltou-se para Harry - O senhor trabalha lá?

- Sou o proprietário - Harry respondeu, no momento em que fazia uma curva fechada.

A estrada tornava-se cada vez mais íngreme e sinuosa. A temperatura caia sensivelmente.

- Proprietário?- Jamie repetiu.

- Ele quer dizer que é o dono da fazenda, querido - Hermione esclareceu, num tom carinhoso.

- Eu sei, titia - o menino assentiu, sem sequer olhá-la. Continuando a fitar Harry, indagou: - E o senhor tem muitos cavalos?

- Alguns- ele disse, secamente.

- São bonitos?

Dessa vez, Harry nada respondeu.

- Querido, acho que o Sr. Potter não está podendo conversar agora, pois tem que prestar atenção à estrada- disse Hermione, acariciando o rosto do sobrinho.- Por que não deixa as perguntas para depois?

Ignorando a sugestão, Jamie apenas comentou.

- Aposto que os cavalos do Sr. Potter são lindo. - Depois, assumindo de novo aquela voz engraçada, fez com que o ursinho Melvin mexesse os braços, enquanto dizia:- são os mais lindos do mundo.

Um profundo suspiro brotou do peito de Hermione. Decididamente, ela estava exausta e desgastada. Uma noite de descanço, na cabana, a ajudaria a se restabelecer.... Ao menos era o que ela esperava.

Olhando pela janela, ela contemplou a cidade de Kananaskis, que ficava para trás, sob um céu cinzento e nada animador. Nevaria nos próximos dias?

Hermione não saberia dizer. O céu prometia chuva... Mas e quanto a neve? E quanto ao presente que Jamie pedira a Papai Noel?

- O que é aquilo?- Jamie perguntou, apontando uma construção rústica, a curta distância.

- Um pequeno mercado- Harry respondeu, sem se voltar para o menino. Mas olhou por um instante para Hermione, enquanto perguntava-lhe:- Se quiser fazer compras, aquela é a última opção.

Hermione ficou pensativa, por alguns instantes. De fato, ela havia se esquecido de alguns itens, ao comprar as provisões para a viagem.

Mas, por outro lado, Harry parecia seriamente decidido a seguir adiante.

- Resolva de uma vez- ele disse, por fim.- Devo parar, ou não?

- Talvez eu possa voltar aqui, a pé, depois que estiver instalada na cabana- Hermione ponderou.

- Impossível- Harry retrucou, diminuindo a marcha do caminhão, enquanto seguia por um pequeno caminho de cascalhos, que conduzia à entrada do mercado.

- Titia, você disse que tinha se esquecido de comprar algumas coisas, lá no supermercado perto de casa- Jamie interveio.

- De fato, querido.- Hermione assentiu.

- Então, vamos lá.- Jamie sorriu, com um entusiasmo comovente.

- Acontece que não quero atrasar, ainda mais, o Sr. Potter– Hermione explicou.

- Depois de todo o tempo que esperei no aeroporto, alguns minutos mais não farão diferença- Harry declarou, com evidente má vontade.

"Realmente, ele não faz a menor questão de ser agradável", Hermione constatou, com um suspiro, enquanto abria a porta do caminhão.

Saltou do veículo e, em seguida, chamou Jamie:

- Venha, querido...- O tomando no colo, beijou-o carinhosamente, enquanto ajeitava o capuz do agasalho. Colocou-o no chã e fez menção de pegar o ursinho Melvin.

Jamie porém, a fez interromper o gesto:

- Pode deixar, o Melvin aí, titia.- Hermione reagiu, surpresa:

-Ora, você nunca se separa do seu grande amigo.

- Eu sei, mas quero que ele fique fazendo companhia para o Sr. Potter.

- É mesmo?- Hermione tentou disfarçar sua perplexidade, diante da atitude inesperada do sobrinho. Em seguida, olhou para Harry, na esperança de que ele dissesse alguma palavra amável ao pequeno Jamie.

Entretanto, Harry parecia distante dali, com os olhos fixos no vazio... Em que estaria pensando?

Hermione não fazia a menor ideia. Tampouco estava interessada nas divagações daquele homem carrancudo, que parecia possuir coração de pedra... Pois só mesmo isso explicaria o fato de se manter indiferente às tentativas de aproximação de Jamie.

- Vamos lá, meu anjo- disse Hermione, tomando o garoto pela mão, enquanto fechava a porta.

O Mercado Stanley funcionava numa construção rústica, de tijolos expostos, que mais parecia ter saído de um cenário de faroeste. O interior do estabelecimento confirmava a impressão inicial... Os produtos ficavam em prateleiras de madeira, muito diferentes das que se viam nos supermercados das grandes cidades. Quanto aos poucos fregueses que ali estavam... Bem, eles mais pareciam personagens de uma história muito antiga. Usavam roupas típicas de cowboys e grossos agasalhos de lã.

Tinham sotaque diferente. E não pareciam muito surpresos com a presença de Hermione e Jamie no local. Ela os cumprimentou, educadamente. Alguns responderam, outros apenas tocaram a aba do chapéu, num gesto respeitoso.

Mas todos, sem exceção, pareciam tão severos e frios quanto Harry Potter.

"Talvez esse modo de se comportar seja comum, por aqui", Hermione pensou, enquanto caminhava com Jamie pelos corredores estreitos do pequeno mercado.

Os produtos ali expostos eram bem diferentes dos que ela conhecia. Tinham marcas que ela jamais vira antes e embalagens bem diferentes.

Mas, também, o que esperava? Hermione se perguntou, num dado momento.

Não estava no Arizona e sim numa montanha em Kananaskis, no Canadá... Portanto, as coisas tinham mesmo de ser bem distintas.
Ao contrário de Hermione, Jamie mostrava-se alegre e divertido.

- Veja só essa pipoca, titia..- disse o garotinho, retirando uma caixa de papelão, de uma prateleira mais baixa. - Tem um desenho bonito...

Hermione leu a marca, totalmente desconhecida da pipoca para micro-ondas.

- Vamos levar?- Jamie perguntou.

- Sim, querido - Hermione respondeu. - Aliás, pode pegar mais dois pacotes, por favor.

Jamie pegou mais três. E ante a expressão interrogativa de Hermione, explicou:

- Vou dar um para o Sr. Potter.

- Duvido que ele goste de pipocas - disse Hermione.

- Todo mundo gosta- Jamie argumentou.

- Acontece que o Sr. Potter não parece ser igual a todo mundo- Hermione retrucou, com um suspiro. Ia dizer que, além do mais, não havia motivo para ser gentil com Harry Potter. Mas calou-se. Afinal, não podia esquecer que aquele homem, querendo ou não, a estava levando até a cabana nas montanhas...

Hermione podia imaginar o quanto a bondosa Sra. Lílian Potter havia insistido com Harry para que lhe fizesse esse favor.

A propósito como era possível uma mulher tão adorável fosse mãe de um homem tão estranho? Hermione pensou.

Bem, isso não era de sua conta. Pelo que lhe constava, ela diria adeus a Harry assim que chegasse à cabana onde passaria os próximos dez dias.

- Olhe quantos pannetones, titia!- Jamie exclamou, apontando uma grande cesta, sobre um balcão.- Vamos levar?

- Nós já trouxemos dois, querido- Hermione respondeu.- Lembra-se? Combinamos de abrir no Natal e outro no Ano Novo.

- Mas esses parecem gostosos- Jamie insistiu.

- Está bem- Hermione cedeu, com um sorriso.- Vamos levar um, então.

- Dois- disse Jamie.- Um para nós e outro para o Sr. Potter.

- Querido...- Hermione abaixou-se diante do sobrinho e fitou-o nos olhos.- Não acha que está sendo muito generoso com o Sr. Potter?

- Ora, ele também está sendo bonzinho com a gente...- Jamie retrucou.

- Mas...

- Nós nunca andamos num caminhão tão bonito como aquele- o garotinho afirmou, antes que Hermione argumentasse.

- Isso é verdade, meu bem. Entretanto...- Hermione interrompeu-se, sem saber como continuar. Afinal, o que poderia dizer a Jamie, sobre Harry Potter? Como fazê-lo perceber que aquele homem não tinha nenhuma consideração por ambos?

- Acho que ele vai gostar- Jamie sentenciou, encerrando o assunto, enquanto pegava dois pannetones.

-Você é quem sabe, querido- Hermione desistiu.

Cerca de dez minutos depois, ambos saíam do mercado.

Um vento frio soprava. O céu continuava cinzento, prometendo chuva... Mas não neve. Enfim, ainda faltavam quatro dias para o Natal. E nesse curto período, talvez Papai Noel pudesse atender o pedido de Jamie... Assim pensava Hermione, enquanto afagava docemente a mão do sobrinho, que carregava uma sacola com os presentes para Harry: um panetone e um pacote de pipocas para micro-ondas.

Hermione esperava que Harry demonstrasse um mínimo de gratidão, quando Jamie lhe entregasse a sacola. Caso contrário, o garotinho ficaria seriamente magoado.

- Demoramos muito?- Jamie perguntou a Harry, quando Hermione abriu a porta do caminhão.

- Não - Harry respondeu, sem olhá-lo. Mas estendeu a mão para ajudá-lo a subir.

Hermione considerou essa atitude como um bom sinal.

- Compramos isso para o senhor - Jamie anunciou, entregando-lhe a sacola.

Por um instante, a surpresa estampou o rosto do cowboy... Mas tudo durou apenas uma fração de segundo. E logo ele reassumiu a expressão severa.

- O que é isso?- perguntou, dando uma espiada no interior da sacola, antes de guardá-la atrás do banco.

- Panetone e pipocas de micro-ondas- Jamie anunciou sorrindo.- Espero que o senhor goste.

- Obrigado.- ele agradeceu, acionando a partida e olhando para Hermione, que acabava de se sentar ao lado do sobrinho.

- Não era preciso se incomodar.

- Não foi incomodo algum- ela respondeu, num tom polido, mas distante. Depois de colocar as sacolas de compras no chão, acrescentou:- Alias Jamie teve a ideia de presenteá-lo com o panetone e as pipocas.

Com um gesto de assentimento, Harry manobrou o caminhão e retornou à estrada.

- O senhor ainda não respondeu se gosta de panetone e de pipocas- disse Jamie, após alguns instantes.

- Mais ou menos.- Foi a resposta lacônica de Harry.

- Como assim?- E Jamie insistiu.- Gosta ou não gosta?

- Não faço muita questão, garoto.

- Puxa, eu pensava que todo mundo fosse louco por pipocas...- Jamie comentou, surpreso.- Principalmente as de micro-ondas, que são mais gostosas.

- Acontece que não tenho um micro-ondas.

- Não?- Jamie espantou-se.- Puxa, que pena. Bem, ao menos o senhor pode comer o panetone, que já vem pronto.

Hermione conteve um sorriso. Decididamente, a insistência do pequeno Jamie acabaria por derreter aquele coração de pedra...

- Estou com fome - disse Jamie, após um longo silêncio.

- Vou preparar uma refeição rápida, quando chegarmos à cabana - Hermione anunciou. - Está bem, querido?

Antes que Jamie respondesse, Harry informou:

- Acho que você não terá de cozinhar. Se conheço minha mãe, ela deve ter deixado uma refeição pronta, para vocês... Além de provisões suficientes para alimentar um batalhão.

- Oh, é muita amabilidade da Sra. Lílian Potter – Hermione comentou, com um sorriso.

- Mamãe não apenas é amável, como também exagerada- Harry comentou.- Quando a vi fazendo compras para a despensa da cabana, alertei-a de que só haveria dois hóspedes e não duzentos... Mesmo assim, ela fez uma compra imensa. Acho que vocês não usarão sequer um terço daquelas provisões.

- Sua mãe é a gentileza em pessoa - Hermione afirmou, comovida.- Ela foi muito bondosa comigo, num momento em que tudo me parecia tão difícil...

- Mamãe costuma fazer isso.

- Minha mamãe também era muito boazinha- Jamie interveio. - Mas agora, ela não mora mais com a gente.

- Ah, sim? - Harry comentou, sem nenhum interesse. - E onde ela está morando?

- No céu - Jamie respondeu, com simplicidade observando atentamente o rosto de Harry, Hermione o viu retardar a marcha e parar junto ao acostamento. Em seguida ele fitou o menino por alguns instantes, como se procurasse as palavras corretas para o que tinha a dizer:

- Oh... Sinto muito, filho. Eu não devia ter perguntado, sabia? Só agora me lembro que minha mãe me contou sobre isso e...

- Sinto falta dela, sabe?- Jamie confidenciou, interrompendo-o.- Muita falta...

- Bem, aposto que ela continua cuidando direitinho de você.

- Sim... E tia Hermione também.

- Certamente. - Lançando um rápido olhar a Hermione, Harry acelerou o caminhão e retomou a estrada.

"Ele não é de todo insensível, afinal", Hermione concluiu, com uma sensação de alívio. "Talvez esteja bancando o durão apenas para se defender. Quem sabe se não tem uma grande sensibilidade, se já não sofreu muito por se abrir com as pessoas? Por isso resolveu se trancar... É bem possível."

Mas Harry logo reassumiu sua atitude anterior. Voltou a se fechar em si mesmo, respondendo rapidamente as perguntas do pequeno Jamie, deixando bem claro que não estava com disposição para conversar.

Cansada, ansiosa para se instalar logo na cabana, Hermione contemplava a paisagem. Lá embaixo, perto do sopé da montanha, estendia-se Kananaskis, cujas luzes começavam a se acender.
Num dado momento, Jamie apontou uma estrada, à esquerda, onde havia uma placa com a inscrição: Fazenda Rocky Ridge.

- Para onde leva aquela estradinha, Sr. Potter?- perguntou, curioso.

-Para minha fazenda, a Rocky Ridge - Harry respondeu.

- Deve ser muito bonita- o garotinho comentou, como se para si.

Harry nada respondeu. Por fim, Jamie indagou:

- Nossa cabana fica perto da sua fazenda, Sr. Potter?

- Não. Fica bem mais acima.

O silêncio caiu no interior do veiculo. Mas Jamie não tardou a quebrá-lo:

- Puxa, já estamos quase no alto da montanha- disse fascinado, erguendo-se e apoiando nos ombros de Hermione, para contemplar a paisagem.

- Sente-se direito, garoto- Harry recomendou, num tom seco.- Não quero que você se machuque.

- Mas não vou me machucar, Sr. Potter- o garotinho retrucou, embora obedecesse a ordem.

- Se eu tiver de frear bruscamente, e você não estiver devidamente sentado, poderá quebrar o nariz, sabia?

Apesar da severidade de Harry, o pequeno Jamie riu.

- Ora, senhor dirige tão bem...

- Modéstia à parte, sim. Mas há uns motoristas malucos que às vezes nos obrigam a tomar decisões não muito agradáveis... Como, por exemplo, brecar de repente.

- Certo, Sr. Potter- Jamie assentiu, num tom respeitoso, quase de veneração.

Hermione continuava a se surpreender. O comportamento do sobrinho, com relação a Harry Potter, era no mínimo absurdo.

Felizmente, ela teria tempo de sobra para cogitar no assunto nos próximos dias.... Quando estaria a sós com Jamie, livre daquele cowboy do terceiro milênio, que lhe causava uma profunda inquietação.

A Magia do Natal (REPOSTADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora