Folga merecida

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Win se arrependeu de ter se levantado com o pé esquerdo naquela manhã, porque de repente ele soube que o dia não seria nada fácil. Teve um pressentimento ruim, como se estivesse prestes a enfrentar o maior obstáculo da sua vida, e Win já havia passado por muitos obstáculos. Para se acalmar, disse a si mesmo em pensamento que era apenas mais um dia de trabalho e que passaria por qualquer barreira que aparecesse em sua frente, sem dificuldades.

A rotina foi a mesma de sempre. Ele acordou, olhou o rosto no espelho, arrumou o cabelo preto com os dedos, tomou uma caneca cheia de café e caminhou pelo parque. Tropeçou duas vezes no caminho pelo bosque e o pressentimento ruim voltou. Algo aconteceria e ele não fazia ideia do que poderia ser. Talvez a culpa daquele sentimento tivesse um único motivo em específico: a visita à casa dos pais que faria depois do expediente.

Win os visitava uma vez por semana para que a mãe ou o pai não jogassem em sua cara o quanto ele era um filho que menosprezava os pais. A última coisa que Win queria era criar mais uma trilha de mágoa entre eles, até porque, não estava os menosprezando, só mantendo distância, o que era o melhor a se fazer.

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Não que o detetive tivesse um sexto sentido ou algo parecido, mas a delegacia estava uma bagunça quando chegou dez minutos mais cedo. Ele colocou a bolsa em sua cadeira e procurou pelo capitão, que coincidentemente estava indo atrás de si.

— Bom saber que chegou cedo, Win. Mais uma vez, eu preciso de você. Fong está por aí?

— Não o vi ainda. O que aconteceu?

— Recebemos uma ligação anônima. Uma mulher nos disse que a Lazuli será assaltada ao meio-dia.

— Mais um roubo de joias? Capitão, aquele caso não pode ser simplesmente esquecido. Me deixe focar nele.

— Temos outro caso mais importante para resolver, Win.

— Eu não estou sabendo de nada.

— É um assunto para outro momento, conversamos depois do seu expediente. Espere o Fong chegar e fiquem de tocaia perto da loja. Não podem deixar que saibam que são da polícia. Caso desconfiem, o assalto pode não acontecer. Estejam preparados e vão o mais cedo possível. O roubo pode acontecer a qualquer hora. Se acontecer, acione a polícia.

Ver Type estressado e preocupado era uma raridade, porque geralmente o capitão tinha total controle sobre a sua delegacia. Quando Win o encontrava falando palavras atrás de palavras sem pausas sobre diversos assuntos diferentes, ele ligava os pontos. Algo sério estava acontecendo ou, no mínimo, prestes a acontecer.

Ainda que estivesse desanimado em não poder focar no caso do roubo das joias, Win concordou em ficar de tocaia com Fong. Decidiu esperar o parceiro na porta da delegacia. Quando ele finalmente apareceu, terminando de estacionar o carro, Win pulou para dentro do veículo, se sentando ao lado dele, que estranhou a situação.

— É um bom dia? — Perguntou, desconfiado. — A delegacia está pegando fogo ou algo assim? Você nem me deixou sair do carro.

— A Lazuli será assaltada ao meio-dia ou antes. O capitão nos pediu para ficar de tocaia. E vamos com o seu carro, não com a viatura.

— Espera, eu acordei há meia hora, ainda estou tentando processar quem eu sou. Como sabe que haverá um roubo na Lazuli?

— O capitão recebeu uma ligação anônima. Nós temos duas opções: ou é uma armadilha ou alguém está mesmo do lado da lei.

— Se for uma armadilha, existe a possibilidade de uma outra loja ser roubada, mas há também uma chance de estarmos sendo levados para uma arapuca e então seremos pegos e torturados e...

Castelo de CartasWhere stories live. Discover now