My Place is Here... [Em Revisão]

013

P.o.v Victória

Chegando no hospital ela foi atendida imediatamente, depois de algum tempo recebi a notícia que não tinha acontecido nada com ela. Apenas os machucados.

Ela estava no quarto,eu ao lado dela,pensando seriamente em sair dali. Mas meu subconsciente não deixava,por mais que eu estivesse morrendo de raiva, e não quisesse ver ela, eu me sentia na obrigação de ficar ali.

Despertei dos meus pensamentos com sua voz. 

"Desculpa"

"Foi ele que fez isso contigo né?" - ignorei a fala dela,não queria ceder tão fácil assim.

"Só me diz se tu me desculpa" - ela tá mesmo insistindo nesse assunto ?

"Não,não desculpo. Tá tudo muito recente,ainda estou organizando as coisas na minha cabeça. É muita informacao para absorver. Então por enquanto eu não aceito suas desculpas." - tudo que recebi em troca foi uma lágrima,sabia que não era verdadeira. Não liguei pra isso e fui em direção à porta,não ia aguentar muito tempo ali. Fui ao banheiro e me tranquei em uma cabine. Me permiti chorar,chorar tudo que eu conseguia,coloquei pra fora todos os meus sentimentos, o medo, a angústia,a tristeza e principalmente a culpa.

Culpa? Por que? Simples,foi por minha causa que isso tudo aconteceu.

Se eu não tivesse nascido,toda essa confusão teria sido evitada. Eu sentia culpa,muita culpa,sentia nojo de mim mesma. Tinha alguns dias em que eu me sentia suja,não por fora,mas internamente. Imagens daquele dia horroroso corriam em minha memória, sou grata pela minha filha,mas eu não queria que acontecesse aquilo, não daquela maneira. Queria que minha primeira vez fosse com alguém especial,alguém que eu amasse, e pra complicar mais as coisas,tem um detalhe da minha vida que ninguém sabe,além de mim,eu sou bissexual. Nunca contei isso pra ninguém,nem mesmo para minha "mãe" pois sabia que ela não ia aceitar de jeito algum. Ela era extremamente machista,racista e homofóbica. Imagina se ela descobrisse que a filha dela era bissexual,que sentia atração por mulheres também? Não gosto nem de imaginar,ela poderia me colocar pra fora de casa. Ou até mesmo fazer algo pior.

Tentei ao máximo me controlar,não podia ficar internada novamente. Não queria colocar minha saúde em risco. Lavei meu rosto, sai do banheiro, tomei uma água e voltei para o quarto. Ao chegar lá encontrei o médico fazendo os últimos exames nela.

"Ah,olá. Você é parente dela?" - o médico,cujo nome era George,me perguntou.

"Minha filha" - a mulher se apressou em dizer.

"Não,sou sobrinha. Ela está bem ?" - assim que disse isso ela me olhou,não consegui distinguir o que significava seu olhar. Parecia tristeza,tô nem ai.

"Tirando os machucados,ela está bem. Não houve nenhuma fratura,está tudo nos conformes. Ela já está liberada." - ele disse sorrindo calmamente.

"Ótimo,muito obrigada doutor." - sorri em forma de agradecimento e em menos de dez minutos já estávamos à caminho de casa.

(...)

Chegamos e eu fui direto para o banho,não gostava da sensação de estar suja de hospital. Assim que sai, ela me esperava sentada no sofá.

"Olha,me desculpa,de verdade. Tô sendo sincera contigo. Tenta entender o meu lado,por favor." - me disse em tom de súplica.

"Eu já te falei uma vez,vou falar de novo. Não te desculpo,não consigo,é impossível. E não tem como eu entender o teu lado,minha vida toda foi uma mentira,eu amei uma pessoa que ao menos tem algum grau de parentesco comigo. É impossível eu encontrar sinceridade nas tuas palavras. Todas soam como mentira pra mim." - disse friamente,tentando não demonstrar fraqueza.

"Eu te amo,eu te amei. Tu é minha filha." - ela dizia chorando.

"Não,eu não sou tua filha. Nunca fui. Eu também te amava,mas não passava de uma história inventada por você mesma. Deus,eu gostaria de nunca ter dito. Agora eu tenho que lavar minha boca com sabão."

Fui para meu quarto,não espero uma resposta ,eu sentia repulsa ao ouvir a voz dela. Eu só queria sumir,sair dali o mais rápido possível.

Ela disse que me amava,não acredito nisso. Foi tudo uma invenção, um teatro. Eu sempre achei amor um sentimento tão lindo,tão especial. Mas agora a palavra "amor" já não tem mais o mesmo significado pra mim. Não sei se vou ser capaz de dizer isso pra alguém de novo.