Cupidos Em Treinamento

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Boa pontaria.

Gostar de gente.

Parecer belo aos olhos humanos.

Ser natural de Vênus.

Quatro atributos básicos para quem sonhava com a carreira de cupido.

Kai não sonhava e só possuía dois atributos, mas atuava na área assim mesmo.

Ser o último de uma linhagem nobre de cupidos no Planeta do Amor tinha lá suas vantagens. Ou desvantagens, no caso dele, que só queria ficar tranquilo, respirando enxofre e surfando ondas de lava em seu planetinha de origem.

Forçado pelos pais a seguir no ramo da família, porém, lá estava o nobre, numa missão há cento e tantos milhões de quilômetros de casa. Mais precisamente, em Itaewon, durante os festejos de Halloween que lotavam as ruas do bairro mais boêmio de Seoul.

Enquanto o povo se divertia, desfilando looks assustadores, o venusiano trabalhava metido numa fantasia ridícula de vampiro para não parecer muito diferente do resto. 

Mantinha a flecha do arco de energia pura apontada para o alvo com um esforço que fazia seu rosto delicado se contorcer numa careta.

Para os humanos, que não enxergavam o grande arco de luz vermelha, tratava-se só de mais uma figuraça do Dia das Bruxas coreano.

Um bonitão brincando de estátua viva, fantasiado de Conde Drácula. O que ninguém sabia era que ele era, na verdade, um conde cupido.

Arqueiro profissional.

Atirador de elite.

Só aguardando um ok na escuta eletrônica para disparar uma flecha certeira contra um coração humano.

— Vamos, arqueira! — murmurou enquanto duas diabinhas tiravam selfie com ele, sem lhe pedir autorização — Fala comigo, caramba!

Trabalho de cupido não era complicado, mas tinha que ser feito em dupla: um cupido de energia vermelha e outro de energia verde. Ambos deveriam escolher seus alvos humanos e flechá-los para que caíssem de amores um pelo outro. 

Um processo muito simples, rápido, sem dor, sem dramas. 
Gente sofrendo por flechada de cupido? Ficção de humano. Cupidos eram deidades éticas, idôneas e organizadas. Não promoviam relacionamentos superficiais, platônicos... Só amor real, forte e duradouro, para inspirar o resto da humanidade a não desistir da busca.

É verdade que, nos últimos tempos, achar dois humanos compatíveis não andava muito fácil, mas Kai, que não era nada cuidadoso na prospecção de alvos, já tinha achado o seu naquela noite.

Era para ele que sua flecha estava apontada. Ou melhor, para ela: Ryunjin, uma garota precisando de grana, que teve a brilhante ideia de se vestir de Noiva Cadáver no Halloween e ir para rua maquiar pessoas por 10.000 wons.
Não parava de receber cantada de bêbado, a coitada. Kai sabia que, se demorasse muito, ela acabaria terminando a noite sozinha ou com algum traste.

Cupidos, entretanto, eram obrigados a aprovar o alvo de seus parceiros de missão, então, Kai ainda precisava aguardar o maldito ok para disparar a flecha:

— Alô?! — ele perguntou nervoso quando alguém deu sinal de vida na escuta — Está na área, arqueira?!

— Saindo do metrô! — ela gritou — O cupidofone não pega aqui!

Cupidos Em TreinamentoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz