4. Clímax

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Quero você como um credo
Vamos nos dar privilégios...

Mão e Luva - Adriana Calcanhotto

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_Jeju, 1999_

Namjoon estava tendo o verão perfeito, e acreditar na própria sorte às vezes requeria algum esforço, ainda que a realidade estivesse sendo vivida por ele próprio. Naqueles dias, ao acordar e na hora de dormir, ficava fitando o teto enquanto ponderava se estava de fato vivendo ou apenas sonhando. Imaginava se não teria mergulhado no mar e sido engolido pelas ondas, tirado dessa existência e jogado num outro plano qualquer, se não teria batido a cabeça por algum motivo e seu espírito vivia em outra realidade enquanto o corpo padecia. Não havia explicação suficiente para justificar o tamanho da boa sorte que vinha tendo desde que encontrou Seokjin fumando naquelas pedras pela noite.

Se havia algum deus ou deusa olhando para a humanidade lá de cima — ou lá de baixo, que fosse, como saber onde uma divindade preferiria residir? —, com certeza tinha se comovido com suas especulações, dúvidas e anseios, e resolveu lhe dar uma chance, na forma de um homem bonito, interessante e receptivo. Possivelmente era essa a única explicação sensata que se poderia dar para o que vinha acontecendo. Aquilo vinha sendo tão bom que deixou de lado até os adorados livros, que por nada pretendia abandonar quando pisou na praia pela primeira vez. Tudo graças à Seokjin.

A cantada — que de cantada nada tinha, a bem da verdade — que Namjoon jogou para cima de Seokjin, mesmo sendo a abordagem mais ridícula que se poderia pensar, por algum milagre surtiu efeito e fez com que o jovem faz-tudo do hotel se interessasse por ele. Namjoon não questionou os motivos, por medo de escutar que tinha sido por pena ou algo semelhante; apenas aceitou, tanto quanto possível, que tinha se dado bem e acabou mergulhando de cabeça na situação que se apresentou a ele.

Como nada na vida era perfeito, era certo que a maré não tinha sido benéfica a ele desde o princípio. Na primeira noite conversaram, sim, mas não tinha sido nada profundo. O ápice daquele encontro providencial tinha sido Namjoon confirmar que Seokjin se entediava fácil, fazendo daquela conversa sem muito propósito com um dos hóspedes do hotel uma espécie de escape para que o tédio fosse embora. Poderia ter se sentido usado, como se tivesse desempenhado o papel de um bobo da corte, porém, constatar isso fez Namjoon se sentir bem. Comprovava que a sua capacidade de entender pessoas funcionava de uma forma positiva, uma vez que, ao ver o rapaz nas pedras, captou no ato que se tratava de uma pessoa entediada.

A segunda noite não tinha sido muito melhor que a primeira. Servira para estreitarem laços, porém, não tão apertados como Namjoon gostaria que fossem. Os assuntos foram mais extensos que o mero diálogo sobre o clima e a ação da maresia nas pessoas e nos objetos, contudo, nada realmente incrível aconteceu entre eles, nada digno de uma maior nota na mente de Namjoon.

Foi na terceira noite que passaram juntos que tudo mudou, trazendo ao encontro de Namjoon a chance de experimentar, enfim, daquilo que somente vinha sonhando ao longo de eras. E tinha sido melhor que a expectativa criada por todos aqueles anos. Naquela terceira noite, como vinha fazendo desde que firmara uma espécie de "amizade" com Seokjin, aguardou que Jimin e Sunghee se recolhessem para o quarto e então fugiu para a praia, para as mesmas pedras de sempre, e ali ficou esperando a chegada de Seokjin, admirando a lua refletir no mar enquanto degustava do bom café que era servido no restaurante do hotel. Todas as noites enchia uma garrafa térmica com ele, e o ritual não tinha mudado só porque, nas últimas vezes, já não ficava enfiado no quarto, a sós com seus romances policiais instigantes.

Daquela vez Seokjin demorou mais um pouco para chegar, alegando que tivera que arrumar as cortinas de um dos quartos. Namjoon ficou surpreso com o fato de que Seokjin sabia costurar. Em sua mente costura era uma atividade "feminina", e Seokjin nem de longe parecia com alguém que teria tal habilidade. Todavia, ali descobriu que Seokjin, além de gostar de cigarros e se entediar fácil, sabia arrumar encanamentos, pregar coisas nas paredes, ajeitar fiações, construir muros, assentar telhados, costurar com perfeição e até bordar tecidos — muito embora dissesse que seus bordados não eram tão bons assim. Seokjin era como uma caixinha de surpresas bem decorada e chamativa, e Namjoon estava gostando bastante disso.

Era verão, o ano era 1999Место, где живут истории. Откройте их для себя