Capítulo 13 - Tempestades, Estrelas e Dragões

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Dedicado a roxo_prata
💫

É interessante parar para pensar nos motivos que nos trouxeram até Mency. Afinal, ninguém escolhe, por livre e espontânea vontade, se esconder num fim de mundo como a cidade pequena em que fui criado?

Veja bem. Namjoon e eu fomos os únicos que nascemos há meio metro do inferno. Hoseok veio junto da mãe, para se abrigar do passado indesejado ao lado do homem que em nada os adicionou enquanto os teve por perto – e isso é o máximo que sabemos. Seokjin fugiu de rumores na grande cidade, para reencontra-los na ruelas estreitas. Taehyung e a família se desvencilharam das notícias espetaculosas da antiga cidade. E Jimin...

Bom. Jimin era um ponto curioso.

Park Jimin nunca foi de falar muito. Então nunca soubemos tanto de sua história antes de encontrá-lo na arquibancada da escola, brigando com alguns idiotas. A maioria de nós nunca soube seu motivo para vir a Mency, mas Namjoon sabia.

E Namjoon sabia por causa da maldita intervenção que Jimin o decidiu prestar em um dos dias em que torceu o nariz ao ver Seokjin passar em sua frente nos corredores do colégio. Quando ele o disse sobre valorizar os que tinha por perto enquanto houvesse tempo.

Sabe, algumas decisões do presente, são puro reflexo do passado. E as atitudes de Jimin, tanto quanto sua proximidade com Taehyung, podiam facilmente ser explicadas por seus motivos de chegar à Mency junto dos pais.

Jimin nunca teve muita atenção dos que se diziam "seus pais", porque eles prestavam mais atenção ao futuro.  Estavam tão concentrados em garantir um bom amanhã, que nunca notaram o quanto o hoje escorria por entre seus dedos, como a areia de uma ampulheta.

Jimin notou isso quando, aos sete anos de idade, notou que se não fosse pelos funcionários da casa grande, moraria sozinho.

Ele se sentiu solitário por muito, mas por sorte acabou fazendo um grande amigo. Ele não se lembra do nome, não se lembra de muito, apenas do desfecho. Se lembra de que o garoto tinha tantos brinquedos quanto ele, tinha tantos funcionários quanto ele, e tinha tanta solidão quanto ele sequer poderia imaginar.

Jimin se lembra de despedir no fim de uma tarde, e achar o sorriso costumeiro mais fraco que o normal. Se lembra de pensar em segui-lo, de se sentir preocupado, mas se convencer de que era apenas paranóia. Se lembra de receber a notícia na manhã seguinte, sobre o garoto que tinha tudo, e ainda assim decidiu despedir-se do mundo.

Os pais não eram culpados pela ausência. O dinheiro não era culpado pelo impulso. O "amanhã" não era culpado por nublar a visão do "hoje". Mas Park Jimin foi culpado por ser seu amigo, e não saber o que ele pretendia. E ele se culpou por anos depois disso, e depois mais meses, e mais alguns dias, até entender que não viveria se continuasse vivendo do que, na realidade, era o arrependimento de não ter seguido o amigo no fim daquela tarde.

Ele prometeu algo a si mesmo assim que pisou, pela primeira vez, em Mency. No novo princípio que conseguiu longe dos olhares tortos julgadores que recebia em seu antigo lar.

Ele nunca mais deixaria de seguir o que apontavam suas suspeitas. Jamais deixaria de seguir o que acreditava, e jamais abandonaria os que o amavam.

E foi exatamente por isso que acabamos encharcados por a última tempestade de Novembro, no meio daquela madrugada. Quando o céu, as estrelas e os dragões que voavam ali, despencaram sobre nossas cabeças como minha esperança recém descoberta caiu ao chão.

...

Tudo começou quando Verônica não notou pisar na cápsula bicolor enquanto caminhava para servir mais uma das mesas em Dionysus. Estava ocupada, cantarolando a música seguinte que Catarina acompanhava enquanto Lay e Jin levavam a melodia.

A.U.T.E.N. - Estrelas e Dragões | Taeyoonseok | ConcluídaWhere stories live. Discover now