Capítulo 7

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O que fazer com Sofia. Aquela era a pergunta recorrente impossível de responder que Arizona enfrentava a cada final de semana.

Como de costume, não tinha a menor ideia do que fazer com a pequena aquele fim de semana. Sentia que suas opções estavam ficando escassas e com a tempestade caindo furiosamente sem qualquer sinal de que fosse perder a força, qualquer atividade ao ar livre estava fora de cogitação.

A loira podia levá-la ao cinema, mas não havia nenhum filme em cartaz que pudesse interessar a ambas. Ela poderia deixar a pequena se divertindo sozinha, sabia que era aquilo que muitos pais faziam, porém não sentia-se confortável com isso além do que Sofia já passava muito tempo brincando sozinha, enquanto Arizona se ocupava com as coisas da loja.

Ela ponderava as opções que tinha enquanto fazia sanduíches de queijo quente. A loira sabia que, embora tentasse a todo custo pensar em algo que não a fizesse lembrar de Calliope, de alguma maneira seus pensamentos viajavam de maneira a lembrar da moça: seu olhar, seu sorriso, seu corpo.

Embora Calliope estivesse obviamente se esforçando para passar despercebida, era impossível, levando em conta que aquela não era uma cidade tão grande. A moça era bonita demais para se misturar com pessoas dali, e quando as pessoas percebessem que ela não tinha carro e que ia sempre a pé para qualquer lugar, seria inevitável que começassem a falar sobre isso. E perguntas sobre o seu passado não tardariam a surgir.

Enquanto lembrava-se da noite anterior, quão longe era a casa de Calliope, Arizona teve uma ideia.

— Ei, Sofia — disse, enquanto entregava o prato em suas mãos — Tive uma ideia. Vamos fazer algo para a senhorita Calliope.

— Vamos — concordou a pequena, super animada.

[...]

O vento e a chuva rasgavam os céus escuros. Calliope havia colocado uma panela em uma goteira em sua sala de estar, ela já havia esvaziado a panela três vezes.

Após ter prendido o desenho de Sofia com fita adesiva na porta de sua geladeira, Calliope cortou um pedaço de queijo cheddar em pequenos cubos, mordiscava-os de vez em quando, enquanto arrumava em um prato algumas fatias de tomate e pepino.

Lavou algumas roupas em sua pia e aproveitou o tempo livre para ler um pouco, o que a fez cair no sono com o livro aberto sobre seu peito.

Quando Calliope acordou, seguiu para fora da casa, espreguiçando-se, até havia perdido a noção do tempo. Apesar do brilho amarelado da luz da varanda, o mundo estava escuro. Calliope apertou os olhos até perceber que ao lado de sua árvore havia uma bicicleta.

Pensou por um instante antes de aproximar-se, olhou ao redor, desconfiada.

Desceu as escadas  para a rua. Embora a maior parte das poças já tivesse secado depois que o solo arenoso absorveu a água, o gramado ainda estava bem úmido por causa da chuva encharcando as pontas do sapato se Calliope enquanto ela atravessava o jardim.

A moça parou em frente à bicicleta. No guidão havia um laço de fita. Uma bicicleta feminina, tinha uma cestinha de metal de cada lado da roda traseira e outra instalada em frente ao guidão. Havia também uma corrente enrolada com a chave no cadeado.

— Quem me daria uma bicicleta?  — pensou, confusa.

Calliope tocou na bicicleta, depois no laço de fita e por fim apanhou o cartão que estava posto sob o laço.

"Imaginei que você gostaria dela."

Calliope não sabia descrever como estava se sentindo. Deveria ter se alegrado, mas sentiu a raiva tomar conta de si.

Arizona não tinha essa liberdade para ficar presenteando-a o tempo todo. Quando havia deixado? Quando havia permitido tantos mimos? A ideia nunca fora essa, não queria deixar ninguém entrar em sua vida. Como deixou isso acontecer? Onde estava com a cabeça? Em que momento Arizona de fato entrou em sua vida? E Sofia?

Calliope sabia até onde conseguiria aguentar, ela sabia o seu próprio limite, por isso resolveu fugir para outra cidade, porque sabia que não aguentaria mais uma surra.

Uma vez, enquanto ia ao mercado, Calliope cumprimentou um de seus vizinhos que passeava com a filha. Inocentemente ela comentou com o marido, Owen Hunt, o quanto a vizinha de três anos era esperta e encantadora.  Naquela noite Owen a empurrou em cima de um espelho, até hoje Calliope tinha algumas cicatrizes. As próximas agressões tornaram-se frequentes. Quando o jantar estava frio, ou quando faltava algum mantimento na dispensa, quando sua roupa estava amassada, quando ele estava bêbado e queria a todo custo fazer sexo.

Owen Hunt era um alcoólatra, maníaco e Calliope não conseguia entender como ele havia conseguido ser inserido na polícia. Era um doente e ela tinha certeza de que ele mataria qualquer um que tentasse se aproximar dela.

Sempre que Owen a agredia, ele se desculpava e chegava até a chorar quando via os hematomas sob a pele da esposa. Dizia que aquela era a última vez, mas em seguida falava que Calliope havia merecido cada hematoma que havia causado nos braços, nas coxas ou nas costas, que se fosse mais cuidadosa nada disso teria acontecido.

Calliope havia tentado escapar duas vezes, mas  na primeira vez ela realmente não tinha para onde ir e acabou voltando para casa e na segunda achou que finalmente estaria livre. Mas seu marido a procurou por toda parte e quando a encontrou, a arrastou para casa, a espancou e colocou um revólver em sua cabeça dizendo que da próxima vez em que Calliope tentasse alguma estupidez, ele a mataria e mataria qualquer pessoa que estivesse envolvido, qualquer pessoa que fosse especial para ela.

Depois de um tempo ele já não permitia que ela saísse de casa, nem para ir ao mercado. Nunca dava nenhum dinheiro em sua mão. Costumava passar de carro em frente à casa onde moravam apenas para se certificar de que Calliope não havia fugido. Monitorava os registros das ligações telefônicas e ligava para ela a todo momento.

Certa vez, quando acordou no meio da noite, Calliope viu Owen em pé, na beira da cama, com um revólver e bebendo. Ela estava amedrontada, mas não podia fazer nada a não ser chamá-lo para que deitasse ao lado dela. Naquele momento ela teve mais uma certeza de que um pouquinho a mais que ficasse naquele lugar, Owen Hunt a mataria. Mas até quando ela aguentaria? De quantas certezas ela precisaria para tentar mais uma vez fugir dele?

Agora, em frente à bicicleta, analisando aquele cartão escrito por Arizona Robbins, Calliope se perguntava por que deixou Sofia e Arizona entrarem em sua vida? Por que envolvê-las nisso tudo? Não se perdoaria se algo acontecesse a elas por sua culpa.

Naquela noite, Calliope guardou a bicicleta certa de que no dia seguinte iria devolvê-la e iria afastar Sofia e Arizona de sua vida.

~.~

Qualquer erro será arrumado em breve!

Um porto seguro - CALZONA CONCLUÍDO Where stories live. Discover now