𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 14 - 𝕬 𝕮𝖔𝖓𝖋𝖊𝖗𝖊𝖓𝖈𝖎𝖆

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''1 dia, 2 semanas, 3 meses, 4 anos. Os fantasmas que me vigiam e as correntes que me enforcam. Ó céus, que cansaço; que peso. Meus joelhos estão tão frágeis que a qualquer momento se partirão tanto quanto o meu coração. E de mãos dadas e dedos entrelaçados com o abismo, eu espero a minha luz, a espero há 4 anos, 3 meses, 2 semanas e 1 dia.''

Ivan Millborn

Posso sentir o calor do sol preguiçoso, que se ergueu agora a pouco no céu, me despertar ao tocar gentilmente a minha pele. Minha cabeça não dói mais, mas a preocupação de não saber o que está por vir ainda tortura meus neurônios. Fico repassando em minha mente todas as teorias que eu e Lucy ficamos criando até de madrugada, descarto algumas e reavalio outras.

Por falar em Lucy, lembro-me que ela está deitada do meu lado, já que dormimos na mesma cama com a roupa do corpo, e está coberta até a cintura com o edredom lilás de algodão que nos deram. Penso em acordá-la com um susto, mas desisto dessa ideia assim que viro em sua direção; eu não tenho coragem de acabar com a rara serenidade que ela tem no rosto levemente pálido.

Para mim, Lucy é uma verdadeira incógnita. Ela é alegre e sorridente, mas parece carregar um fardo gigantesco que a dilacera todos os dias. Me pergunto como alguém que a olha nos olhos não consegue ver isso. É o mais forte furacão e o mais intenso tsunami, podendo destruir o que for, basta ela querer. Parece que o sono é o único momento do dia em que sua mente e seu coração entram em harmonia e a possuem com a calmaria. Opto por apenas ficar ao seu lado, observando os raios de sol, que entram no quarto através da porta francesa, darem a sua pele delicada um tom alaranjado e sutilmente brilhante.

Ao tomar conhecido dos meus pensamentos românticos, minha mente começa a entrar em debate. Tenho medo de começar a gostar dela e acabar me machucando de novo, já que, tirando esse sequestro, tudo é igual à última vez em que eu me apaixonei. Não sei se quero correr esse risco, nem mesmo se for com ela. Meu cérebro diz que eu não suportaria outra queda, mas meu coração quer tentar pular do mais alto lugar se for segurando sua mão.

Antes que eu pudesse tomar essa decisão em relação a quem eu devo ouvir, vejo que Lucy começou a despertar. Ela respira fundo e abre lentamente os olhos até se acostumar com a luz matinal do sol. Ela se assusta e cora ligeiramente ao ver que eu estou encarando-a sem nenhum cuidado ou timidez.

   — Bom dia... — Diz Lucy. Miserável! Ela sabe dominar muito bem seus sentimentos. No mesmo momento em que percebeu a situação em que se encontrava, ela assumiu sua pose descontraída com um sorriso zombeteiro com um toque de provocação, ouso dizer, que se sobrepõe à face menina fofa e tímida que estava aqui segundo atrás.

   — Bom dia. — Respondo enquanto me levanto, após o breve tempo de hipnose no quando eu estive imerso, e vou até à sacada majestosa e cerca branca com detalhes arredondados de metal bem feitos.. Parece que o ponto forte da economia desse lugar são as flores, principalmente as rosas vermelhas, que estão mais distantes daqui, mas ainda são visíveis. Fico um tempo observando a bela paisagem.

   — Aqui é lindo não é? — Com a voz saindo quase como um suspiro sonhador, Lucy surge ao meu lado com um roupão longo de cetim creme e uma xícara de café. — Trouxeram roupas e comidas. — Ela aponta com a cabeça para uma menina pequena de cabelos loiros bem presos em um coque baixo que está perto de uma poltrona dobrando algumas roupas. Vou até o carrinho com café da manhã e eu e Lucy desfrutamos da refeição que trouxeram. Eles devem ser muito ricos, já que até agora nós só tivemos fartura e conforto.

   — O senhor Lingston mandou avisar que a conferência será às 17:00 e que os senhores podem andar pelo Castelo acompanhado de um dos guardas. Ele também os deu permissão para dar uma volta na cidade, caso seja da vossa vontade — Avisa, roboticamente, a menina loira, que logo se retira do quarto, fechando a porta.

Irmãos da RosaWhere stories live. Discover now