24° Desejo...

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Me jogo na cadeira de novo também e apoio os braços na mesa, tampando o rosto com as mãos. Meu Deus... que confusão.

-Eu não sabia que era você...- Balanço a cabeça de um lado pro outro, em negação.  -Descobri quando fui olhar suas coisas naquele dia em que você me levou na sua casa...Vi aquela foto nossa...-Fungo, sentindo uma dor no peito ao lembrar desse dia. -Aquela que você tirou com a ca...

-Eu sei qual foto é, porra! -Ele diz, impaciente. -Na moral, Aline, quero nem saber o porquê de nada não, se ligou? Tô numa fase da minha vida que só quero olhar pra frente, o passado passou, já era! Tu fez o que fez, eu fiz o que fiz, bagulho tá feito! Ficar de quais-quais-quais, não vai mudar porra nenhuma!

Ergo a cabeça e olho pra ele, bem frio, fumando a maconha e me olhando como se eu não fosse nada e nem ninguém.

-Eu quero explicar, você salvou minha vida, se não fosse você eu teria morrido.

-Só paguei o que tu fez por mim. Tu não entrou na minha frente e levou os tiros? Então! Fiz o mesmo por tu, e já era! O que a gente teve já acabou faz tempo, sa porra tem quinze anos...Tu tem outra vida lá com teu namorado, eu tenho meus corres. Tu é polícia e eu bandido, pegou a visão? Não tem desenrolo, vamô tratar da fita da garota e é isso.

Mesmo que ele tente parecer frio, tente mostrar que não se importa, eu sei que ele sente o mesmo que eu, sei que não é possível ele estar falando sério. Sinto que ele está falando da boca pra fora. Quero acreditar nisso, apesar de saber que ele tem razão.

-Tá falando sério? Quer fingir que nada aconteceu depois de tudo? Depois do que aconteceu na Rocinha, depois de quinze anos sem se ver? Marreco, a gente não terminou um relacionamento que não estava dando certo, a gente se amava igual loucos e fomos separados.

-Fazer o quê, porra?! Vamô mudar o passado? Vamô resolver o presente ? Isso é só perca de tempo, ficar nesse papinho fiado...-Ele olha pra cerveja em cima de mesa e leva a mão nela, mas não bebe. Sei que não quer falar  porque dói tanto nele quanto em mim. Sei que falar disso é desumano pra nós dois, mas é necessário.

-Me perdoa, Marreco...me perdoa por ter feito o que fiz, eu só estava cumprindo meu trabalho, eu não podia, NÃO PODIA voltar a trás! -Levo minha mão na dele e seguro, ele não afasta como fez antes. A outra mão que está com o back, ele leva na boca e fuma. Enquanto olho pra ele, ele solta a fumaça e fica olhando pras nossas mãos juntas.

-Eu ferrei com tua perna também, tá tudo certo...-Ele murmura, mas sei dentro de mim, que não está tudo certo. Mesmo depois de tantos anos, eu ainda conheço ele.

-Não está! Eu sei que não, sei que você está puto comigo. Que me odeia! -Aperto forte sua mão e vejo o exato momento em que seu semblante se transforma.

-Tu quer que eu falo o quê, caralho? Que minha vontade é te quebrar na porrada? Te matar? Te picar inteira? Porque é o que eu penso o tempo todo, nesse caralho! -Ele me olha com mágoa, sua mandibula está contraída, seus  olhos feroses.

Ele puxa a mão e em um movimento, se levanta e aperta meu pescoço. Começa a me sufocar e levo a mão no braço dele, para tentar me soltar, mas não consigo. Seus olhar está colado no meu, seu rosto bem próximo.

-Tu tirou tudo que eu tinha, puxei cadeia por tua causa, o Frajola morreu por tua causa. -Ele meio que resmunga as palavras com muita raiva.

-Eu estava fazendo...meu trabalho, Marreco...-Tento falar, mas a voz sai abafada. -Me solta, caralho! -Me estresso e puxo a cabeça pra trás, empurrando a mão dele pro lado e consigo me soltar.

Ele fica com uma cara de puto e joga a ponta que estava entre seus dedos no chão; pisa em cima e vira o boné pra trás, arqueado as sombrancelhas.

-Vou mandar buscar a menina, vambora! - Começa a sair e a caminhar em direção a escada por onde subimos.

Love na Rocinha( DEGUSTAÇÃO)जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें