Capítulo 25 - Clara

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Já estava arrumada para o jogo quando recebi uma ligação de Sandra, informando que ele foi adiado para o dia primeiro de janeiro. Quem marca um jogo para o primeiro dia do ano? Parece que os atletas não têm direito de comemorar o início de um novo ciclo, não é verdade? Ou seja, não são nem seis da tarde e já estou de mau-humor. E, para piorar, ainda é véspera de Natal, tenho o famoso encontro familiar constrangedor.

Porém, pela primeira vez em um bom tempo, não será dessa forma. Miguel estará comigo, e só de saber isso sinto um certo alívio. É a primeira vez, depois do Rodrigo, que levo alguém no Natal da minha família. Essa data é mais do que importante para minha mãe, e isso faz a ansiedade em todo mundo lá de casa explodir. Até Bianca, que sempre parece aceitar tudo, fica nervosa com a expectativa alta da nossa mãe para a data.

Mando uma mensagem para Miguel, para confirmar sua presença, e ele diz que passa às 20h para me buscar, o que me deixa mais tranquila. Encaro os presentes de Natal, mal embrulhados por mim, em uma bolsa que deixei em cima do sofá. Espero que Miguel goste do que comprei para ele. Fui correndo ao shopping em um dos intervalos dos meus treinos, e enfrentei filas quilométricas. Sinto-me até um pouco empolgada, o que é bem raro.

Arrumo-me devagar, ouvindo uma playlist de música pop. Coloco um vestido vermelho tubinho, tomara-que-caia, e deixo os cabelos soltos e secos, depois de usar um babyliss para deixá-los mais ondulados. Miguel chega na hora exata e me ajuda a descer com os presentes até o carro.

— Mabel e Bárb não quiseram vir? — pergunto, notando a ausência. Não quero que ele tenha a obrigação de passar esse dia com a minha família, e deixe a dele de lado.

— Estão arrumando algumas coisas e vão maratonar filmes de Natal. O almoço oficial da família normalmente é dia 25 — ele responde, mas sua expressão parece mais séria do que quando ele saiu da minha casa, depois da noite que tivemos.

— Está tudo bem? — insisto.

Ele confirma com a cabeça e dá um sorriso amarelo antes de entrarmos no carro. Não engulo muito bem a resposta muda, mas entro no carro e coloco o cinto de segurança. Seguimos a pista por um tempo até ele puxar algum assunto:

— Adiaram a final de novo, né? — Miguel comenta, sem me encarar.
Percebo que ele está nervoso ou angustiado com algo pela forma como balança freneticamente as pernas.

— É, não sei quem foi que pensou que dia primeiro de janeiro seria um bom dia para uma final de Tênis. — Reviro os olhos. — É que parece que a previsão de chuva vai se estender por alguns dias ainda.

— O Adrian me mandou um e-mail, informando. Eu fui convidado para entregar o troféu, te falei?

Arregalo os olhos, boquiaberta. Ele não comentou nada comigo.

— Não, não falou.

— Pois é, a LifeSports foi convidada, na verdade. Talvez Enrico vá em meu lugar.

Estranho sua colocação. Tudo bem que estamos juntos há apenas alguns dias oficialmente, e não me importo que ele comemore o Réveillon em um lugar sem mim, pelo amor de Deus. Mas preciso de mais informações do que: talvez Enrico vá em meu lugar.

— Vai viajar? — questiono, tentando falar em um tom que possa transformar a frase em uma "não cobrança".

Miguel inspira fundo e leva alguns segundos para responder:

— Na verdade, Clara, tem algo que ainda não tem contei...

Sinto meu coração partir em disparada, porque essa frase nunca vem sozinha, sempre vem com uma notícia ruim. Foi assim quando descobri a traição de Rodrigo, e é assim que descubro sempre que passo por uma notícia caluniosa na mídia.

Jogo de sorte: um romance por contratoWhere stories live. Discover now