3 - Filme de terror particular

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E é fácil dizer que estou bem, mas este sorriso em meu rosto é falso. Eu estou sufocando.
Groundhog Day - Em Beihold

O celular de Diana despertou às sete da manhã, mas como sempre ela já estava acordada

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O celular de Diana despertou às sete da manhã, mas como sempre ela já estava acordada. Seu vestido de linho já estava passado e seus saltos aguardavam para serem calçados. Ela encarava o espelho procurando por algum fio de cabelo desalinhado no coque perfeito que tinha certeza de que colaborava para sua dor de cabeça.

Diana pegou sua bolsa e só saiu quando sua aparência já estava agradável aos olhos dos outros – mesmo com a base deixando sua pele oleosa, os cabelos repuxados machucando seu couro cabeludo, o salto alto apertando seu calcanhar e as lentes de contato irritando seus olhos. Enfrentou o trânsito com o rádio desligado por medo de causar mais um acidente e chegou em seu escritório com um sorriso sutil e elegante.

Não tão longe dali, em uma das ruas escondidas do Brás, Gael ainda se revirava na cama enrolando o acordar. Normalmente não acordava tão cedo, mas o mecânico havia ligado para informar que sua moto estava pronta e o caminho até a oficina era longo. Quando seu celular despertou pela terceira vez, se obrigou a levantar e seguiu a passos lentos até o chuveiro para um banho morno. Não teve tempo para tomar café, vestiu a primeira roupa que viu, penteou os cabelos longos e úmidos com os dedos e saiu. Voltou ao se dar conta que esqueceu o celular.

Já munido do aparelho, colocou os fones de ouvido, fez carinho em um cachorro caramelo que vivia na rua e saiu caminhando, cumprimentando os vizinhos. O caminho era longo, mas as músicas o distraíram tanto que logo chegou na oficina. Já acompanhado de sua moto, acelerou até o estúdio após se atrasar por conversar demais com o mecânico.

O estúdio localizado na República não estava movimentado, então Gael aproveitou o ócio até seu primeiro cliente agendado chegar para digitalizar a cópia de seu atestado mesmo com a certeza de que aquilo era desnecessário, já que ele não processaria alguém só por aquilo. Procurou o cartão de Diana em sua carteira e se apressou em enviar o atestado por e-mail, não queria mais ter que perder tempo com isso. Aproveitando que tinha o número dela, salvou seu contato e enviou uma mensagem.


– Bom dia, aqui é o cara que você atropelou. Você recebeu o e-mail?


Meia hora se passou e Gael já havia até se esquecido da mensagem quando a notificação de resposta apareceu em sua tela.


– Bom dia, senhor Gael. Como está? Recebido, obrigada.

– Só Gael. Tô ótimo já, e você, tá bem? – mesmo sabendo que ela perguntou apenas por conta do acidente, quis se mostrar educado.

– Que bom! Estou bem, obrigada por perguntar.

– Por nada, tenha um bom dia.

– Igualmente.


Gael não esperava nenhum tipo de diálogo com Diana, mas também não esperava que ela fosse tão formal até mesmo pelo WhatsApp. Abriu sua foto e soltou uma fraca risada ao vê-la num terninho preto com os braços cruzados, forçando um sorriso para quebrar a seriedade que exalava daquela fotografia completamente corporativa.

Flores ArtificiaisWhere stories live. Discover now