Invasão

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"A rainha Sindel, famosa em toda a Exoterra. Uma vilã para alguns, uma governante exemplar para outros. Minha mãe. É difícil descrevê-la.

E como filha dela não encontrei em meu coração forças para destruir seu diário pessoal. As memórias de uma mulher solitária que hoje me fazem companhia. Muitas partes eu confesso que nunca lerei por se tratarem de momentos muitos íntimos até mesmo para mim. Porém sempre mantenho este diário comigo, pois ele é como uma parte da minha mãe.

De fato, Shao Kahn matou o meu pai, mas com Sindel ele fez algo pior. Me fez perde-la de tal forma que quando eu finalmente a reencontrei ela já não era mais a mesma.

O diário dela não possui data e parece seguir sua própria linha atemporal, acredito que estes acontecimentos foram após a invasão. Ainda não encontrei diários anteriores a este, provavelmente porque soldados destruíram muitos itens pessoais enquanto procuravam por nós. Desta forma, só os deuses antigos podem dizer quem realmente foi Sindel e como ela e Shao Kahn agiram.

Mesmo com todas as atrocidades que ela supostamente cometeu, Sindel ainda é a minha mãe. Parte de mim ainda tem orgulho dela, a ama e sente muitas saudades."

Imperatriz Kitana.

DIÁRIO DA RAINHA SINDEL

Ainda fico trêmula quando me lembro da velocidade dos eventos que antecederam a morte de Jerrod. Quando finalmente percebi que Shang Tsung era um traidor, Jerrod, meu marido, meu companheiro e meu amigo, já estava fatalmente ferido por Shao Kahn. Seu sangue manchava o assoalho e enquanto tudo corria a mil, minha mente permanecia letárgica pelo choque. Jerrod havia sido traído por Shang Tsung e assassinado por Shao Kahn.

"Mamãe."

Ela me fez voltar a mim.

"Mamãe, estou com medo." Kitana choramingava mais urgente agora, agarrada a minha cintura, como se eu fosse o último no lugar seguro em Edenia.

E eu era.

Num sobressalto, eu agarrei minha filha e fugi o mais rápido que pude. Se eu estivesse sozinha eu lutaria e enfrentaria Shao Kahn até a morte, mas com Kitana eu não poderia correr este risco pois se eu morresse, quem a protegeria? Haveria um momento para lutar mais tarde, com aliados, um exército e um plano.

Pelo menos foi o que imaginei.

Quando chegamos a um templo escondido no deserto, eu abracei minha garotinha. Nós duas choramos um pouco, depois enxuguei minhas lágrimas, ajoelhei de frente para ela e disse.

"Escute. O rei esta morto, então é nosso dever vingá-lo. Não será fácil. Precisamos de amigos para nos ajudar. Consegue pensar em alguém?"

"Jade." Kitana.

"Muito bem." Eu respondi sorrindo. Jade era alguns anos mais velha que Kitana, mas eram muito próximas.

Ficamos cerca de 7 dias ali. Foram dias preocupantes, mas que guardo comigo. É interessante como é difícil lembrar das pessoas que me ofereceram ajuda, mas me lembro perfeitamente de minha filha contando as pedras preciosas encrustadas nas paredes, eu lendo as inscrições de histórias antigas para ela ou de quando nós duas íamos caçar ao entardecer. Pela noite dormimos juntinhas, nos sentindo seguras e aconchegadas uma na outra.

Porém nós não estávamos seguras e logo nossa paz terminou.

Um dos nossos até então aliado havia revelado nosso esconderijo, o templo foi bombardeado.

"Você sabe o que fazer." beijei minha filha e a abracei o mais forte que pude. Ela respirou fundo, assentiu com coragem e correu.

Os soldados entraram. Recordo que matei a primeira leva deles usando apenas a minha voz. Depois outros avançavam sucessivamente e eu os derrotei um por um, desmembrei dezenas deles até que o chão do templo estava banhado em sangue e restos mortais.

Quando Shang Tsung chegou eu estava exaurida de tanta luta e usava meu Kwan dao como apoio. Nós dois lutamos, aquele maldito ainda teve a audácia de se transformar em Jerrod. Mas eu causei um bom estrago no rosto e nas pernas daquele traidor e consegui derrotá-lo, antes do próprio Shao Kahn aparecer.

Ele sorria orgulhoso enquanto se aproximava, me lembro do brilho maldoso em seus olhos quando me perguntou de Kitana.

"Ela não está aqui e você nunca a terá!" Eu rugi cheia de ódio. O feiticeiro traidor aproveitou minha distração e fugiu.

"Esta é uma matança majestosa, digna de uma rainha." Shao Kahn abria os braços enquanto olhava ao redor e depois para mim.

"Só estou começando."

"Parece cansada... Por que não vamos para o palácio resolver isso com uma conversa?"

"Não negocio com assassinos."

Shao Kahn tentou me convencer a me render, me prometeu segurança, prometeu poupar Kitana e eu recusei e o amaldiçoei, até que ele resolveu lutar comigo. Foi com muito amargura que admito que ele estava muito mais forte que eu e tinha toda a vantagem. Meus membros estavam exaustos e infelizmente ele conseguiu ferir minha costela com sua lança, o que foi o fim. Usei o restante do meu fôlego para um grito fatal e em seguida senti o sangue quente molhar meus cabelos enquanto eu caía no chão.

"Tola!" Ouvi Shao Kahn vociferar e depois só ouve a escuridão.

Segredos VenenososWhere stories live. Discover now