Contos Extras

Marcelo e João - Amor, Amor

Por Marcelo

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Demorou a chegar o calor, mas quando vem, vem com tudo!

Quando no amor, a gente sossega, a alma parece aquietar e parecemos não ter nada mais a dizer ou repetir a repetição. 

Um suador num dia quente nos leva a ter um pouco de saudade do frio que nos cola mais na pessoa amada ou o frio que pode representar aqueles períodos de inverno dentro do coração.

Não preciso me provar mais, nem ficar me justificando diante do João, mas ainda assim jogo claro e cristalino, tanto quando ele joga comigo.

Yes, nós jogamos!

Dois apaixonados jogam quando querem seduzir e qualquer detalhe dá motivo para uma brincadeira.

No entanto...

O arrependimento cheira a perfume cítrico, perfume que o Raul usou dia desses quando investiu pesado numa tentativa inútil de me reconquistar.

"Celo, separa umas seis calças pretas, 4 tam. 44, uma 46 e uma 42, reserva, passa o valor que te faço um pix".

Começou bem profissional e eu coloquei um "ok, obrigado" porque não havia muito mais o que falar com aquele homem. Mas daí:

"Adoro essa sua foto do perfil" - ele comenta

Na minha cabeça tocava a música: "vai dar merda vaaaaai". Ignorei como mandou o bom senso, respirei fundo e sem paciência, ignorei qualquer notificações suas devido a minha preguiça com esse "cavalheiro".

Eu e minha funcionária separamos as calças que certamente ele destina aos seus garçons do Café & Bar, que é um ambiente maravilhoso para desfrutar com o amor do lado, deixei a Pati encarregada de entregar a bolsa com as peças, conferi o PIX, tudo ok e uma mensagem abaixo que eu nem devia ter lido.

"preciso falar com você"

Melhor à distância, eu pensei e respondi:

"desde que não entre em assuntos que merecem uma cortada minha, pode falar"

Então ele não respondeu, passei o dia esperando que ele mandasse um funcionário buscar o pedido e só quinze minutos para o fecha, quando a funcionária sai correndo pra não perder o ônibus, adivinhem... O fulano entra todo empinado querendo intimidar a mim e os manequins da loja.

— Vai me cortar porque? — Raul continua avançando e eu penso duas coisas: 1ª vou apanhar, 2ª ele vai vir com gracinha e tentar por sua mãozona boba em mim.

— Ah, pode parar aí mesmo! Chega dessa sua farra comigo! Não por mim, mas pelo João que ainda te atura e o Alan.

Mas ele só para quando está a uns vinte centímetros de minha pessoa e uma lufada de CK One, acerta bem na minha cara.

— Mas vai me dar cortada porque? Não sabe lidar comigo ainda? Ainda não me esqueceu?

Antes de abrir a boca, me afasto dele e começo a finalizar o caixa, enquanto repito as mesmas coisas de sempre:

— Minha vida, meu coração e minha alma estão em paz. Não tem como esquecer que tivemos um namoro conturbado, mas você me despachou.

— Mas você não superou.

— Pare de ser tão prepotente. Segui minha vida, faça o mesmo e me deixe em paz.

— Oi Marcelo!!! Desculpa, esqueci de te falar uma coisa. — Pati entra na loja esbarrando no Raul — Ah oi, seu Raul.