CAPÍTULO 09

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   Segui o resto da noite organizando meu cronograma da semana, separando trabalhos, respondendo email e marcando a próxima reunião da equipe que eu fazia parte. Precisamos mostrar e apresentar na planilha do Excel todos os nossos feitos do mês, todo mês havia isso como meio de avaliar quem realmente estava se empenhando, e se tinha uma coisa que eu detestava mexer era no Excel. No começo tinha sido difícil, insuportável, mas aprendi tudo o que precisava e depois deixou de ser difícil pra ser apenas insuportável, no entanto, era necessário se eu quisesse subir de cargo. Fiz uma xícara forte de café para passar as horas atenta com a quantidade de 0 que poderia existir em uma única linha, digitando e deixando meus pensamentos sobre o ensaio agora depois.

Assim que finalizei minha planilha salvei em três pastas diferentes e ainda no drive para não ter problemas e para que tudo saísse como o planejado. Com a mente vazia e como dizia minha mãe: mente vazia é oficina do capiroto. meus pensamentos ligeiramente recordaram de horas atrás, do ensaio, dos olhares, da sensação e da curiosidade que brotava em mim, do carro e do silêncio, do cheiro da fragrância que eles exalavam.

— Eu preciso dormir imediatamente — deixei meu café de lado, se continuasse acordada permaneceria pensando em coisas impossíveis. O correto seria apenas ignorar meus pensamentos sabotativos e ignorar esse sentimento, esse calor que sentia.

Por sorte, minha terapia seria daqui a alguns dias, antes do próximo ensaio de fotos. Daria tempo para conversar isso e ouvir verdades, ouvir que estava louca, provavelmente era uma pervertida com algum problema com a temperatura do corpo. O bom em meio a isso tudo, que já fazia dias que não entrava no instagram para ver resquícios do passado que me atormentava, isso era um vitória para mim.

Horas e dias se passaram, já quinta-feira à noite, finalmente pude conversar com minha psicóloga, explicando como tinha sido minha semana e as novidades. Informei da ideia que Sami tinha tido e me surpreendi quando disse que seria ótimo para mim, me perguntando como tinha sido e como eu tinha me sentido. Fui firme e contei o que verdadeiramente sentia, me preparando para receber palavras cirúrgicas mas, muito pelo contrário, recebendo apoio. Assim como minha amiga, ela tinha dito que esse era um passo muito importante para me soltar das amarras do meu passado, do que meu ex-namorado havia causado em mim e da minha trava emocional com o próximo, aconselhando que apenas tivesse cuidado com meu coração.
Eu tinha consciência disso e não planejava de modo algum me apaixonar por alguém. Isso estava fora de cogitação até que eu tivesse me encontrado, estivesse bem comigo mesma e cem por cento confortável com o que eu era. Existia insegurança em mim e eu reconhecia, sabia que precisava trabalhar isso aos poucos, começando pelas fotos. Sinto que, depois que eu ver aquelas imagens, na verdade, bem antes disso, no processo eu consiga aumentar um pouco disso, amar mais a mim mesma, ao meu corpo, me conhecer e me entregar sem receios.

Ainda na quinta-feira, recebi outro email da dupla JJ, dessa vez eles tinham deixado o número de ambos no fim do texto caso eu tivesse qualquer imprevisto e não conseguisse contato com o recepcionista deles. Adicionei na minha lista de contato mas não chamei, apenas deixei lá caso realmente algo ocorresse.
Na sexta-feira, Sami me ligou informando que teria um encontro com Seokjin, expressando sua animação. Ela fazia uma péssima atuação quando dizia que não queria nada com ele, mas nitidamente Sami Martina estava nutrindo algum sentimento por esse homem misterioso que a fazia cantarolar como uma adolescente apaixonada. Era certo, sempre que saiam juntos, no dia seguinte nosso apartamento parecia o jardim da branca de neve de tão florido e animado que tava.

— O que acha? — Indagou, virando para mim, mostrando seu traje da noite. Com os cabelos pintados soltos, ela vestia um vestido vermelho slip despojado, tênis e uma jaqueta jeans jogado em seus ombros.

— Perfeita. — elogiei.

— Você tem certeza que pode ficar sozinha? Pode muito bem vir comigo — neguei com a cabeça.

— Não quero estragar o jantar do casal. Pode ir despreocupada que vou ficar muito bem sozinha.

— Ah, não somos um casal — sussurrou. Vi suas bochechas coragem. Estava envergonhada e com certeza tinha algo nisso.

— Não oficialmente — ela riu. Sami acabou de se arrumar, terminando apenas quando seu celular tocou, fazendo-a correr para pegar a bolsa e ir até a porta.

— Já vou, fica bem — se despediu, fechando a porta. Agora, em casa eu só tinha uma coisa para fazer: assistir novelas coreanas. Meu vício.
A noite prosseguiu calmante e em certos momentos, só em certos momentos, eu tinha vontade de mandar mensagem para Jimin e Jungkook, só para confirmar que realmente iria, mas a vontade logo passava e continuava assistindo os Doramas.

Dormir que mal vi, acordando só no dia seguinte com a chegada de Sami na pontinha dos pés.

— Diga-me que a resposta é sim e a deixarei ir — puxei a porta, bisbilhotando a forma alta, masculina segurando o palitô em frente a porta de casa, dentro, minha amiga no seu estado mais adorável: vestido amassado, segurando o tênis nas mãos e um coque no topo da cabeça.

— Não sei Jin, é...eu não sei se vai dá certo. — O que seria que estava acontecendo? Meu espírito de Maria fofoqueira sempre surgia nesses momentos.

— Por que não daria? Você disse que gosta de mim e bem, eu gosto de você Sami.

— Sou difícil — disse, manhosa, fazendo ele rir mas retornando com os olhos nela, com um brilho direcionado apenas para minha amiga.

— Tá bom senhora difícil, se é assim, tudo bem. Só fico triste porque faríamos um casal apaixonado muito bonito — eles riram. — Eu preciso ir agora, durma bem e descanse.

— Jin… — Antes que ele pudesse ir embora, Sami o puxou pela gravata, ficando na ponta dos pés para beijá-lo. — Essa é a minha resposta. — se afastou.

— Um sim? — arqueou as sobrancelhas e ela concordou, sendo agarrada em um abraço forte ali mesmo.

Deixei o casal terminar de se falarem e assim que ouvir a porta ser fechada e a cantoria de Sami começar, sair.

— Então quer dizer que você finalmente aceitou? — surgir atrás dela, assustando-a.

— Aretha! Por Deus, não chega assim, eu tenho um coração sensível.

— Você vai me contar tudo — apontei para ela e no mesmo instante um sorriso apaixonado brotou no seu rosto.

Como esperado, fiquei sabendo de tudo, ou quase tudo. Tinha detalhes que eu realmente não queria saber, para preservar o pouco de inocência que me restava. O resto do dia foi agitado, tanto para mim como para Sami, fizemos um almoço rápido e prático. Me preparei, lavando o que considerava importante, minha amiga ficou em casa, ela acreditava que mais pessoas na sala só atrapalhariam e eu não me sentiria confortável e solta. Peguei o táxi, fazendo o mesmo trajeto que antes, enviando uma mensagem confirmando minha ida.

Três tons de desejoWhere stories live. Discover now