Capítulo 19

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3:45 a.m.

Não consigo dormir. Jake apagou no colchão da sala assim que todo mundo subiu para os quartos e eu continuo aqui, sem sono nenhum porque temos um voo hoje às 10 da manhã para Ottawa e eu não sei ainda o que fazer com Jake. Apesar de termos entrado em acordo sobre adotar cinco crianças, foi um enorme balde de água congelante o que ele me contou sobre o nascimento de Hellers. Na verdade, essa viagem inteira foi cheia de emoções, boas e ruins, e eu ainda estou tentando me estruturar diante do que aconteceu para poder decidir.

Fiz uma lista mental das alegrias que tivemos juntos tanto em Calgary quanto em Edmonton, em como eu fiquei feliz por estar ao lado de Jake quando descobri que terei um irmãozinho, não uma irmãzinha. No quão divertido foi ir ao parque aquático com Jake após eu comprar um maiô que cobrisse toda a minha infecção e ele um calção de banho. No quão gostoso foi, de forma geral, passar as festas de final de ano com ele, coisa que eu nunca tinha feito antes. Fiz exatamente a mesma lista com os incidentes e descobertas desagradáveis. Jake usando Shaantis, não podermos ter filhos, minha mãe, depois de todo esse tempo, ainda não confortável com ele sendo a pessoa que eu escolhi para mim, toda essa questão sexual nova que teremos que enfrentar e que nem a recompensa deu jeito de resolver.

Agora estou na minha terceira lista. A lista de tudo o que vou precisar deixar para trás caso siga um caminho ou outro. O problema é que os meus pesos para cada um desses fatores é totalmente questionável e parece que para cada item bom em uma lista, eu ponho um ruim na outra e não existe um cenário melhor. Um com mais vantagens ou menos desvantagens. Existem só duas realidades que eu não consigo escolher.

Eu queria não ter essa energia Heller dentro de mim pra que pelo menos eu escutasse o que o Universo quer dizer porque se ele está tentando me enviar sinais para me ajudar a seguir o caminho que ele já pré-definiu para mim, eu não estou captando. Me sinto tão burra e estou tão cansada que a única coisa que eu quero agora é um sinal que preste. Um que não dê margem para dupla interpretação, um que seja claro como o dia e que qualquer um com um par de olhos funcionais consiga enxergar. Só isso.

– Baixinha? – ouço a voz de Jake entrando na cozinha da casa de Shane, onde eu estou sentada no chão, encostada contra a parede ao lado da geladeira, toda encolhida de frio e angústia. – O que você está fazendo aí?

– Estou sem sono.

– Você se isola no chão de cozinhas quando fica sem sono?

– Não... Eu só... Não queria ficar me mexendo no colchão e acabar te acordando. A luz da cozinha te acordou?

– Ahan.

– Me desculpa.

– Tudo bem. Só vem que eu te ponho para dormir – ele sorri para mim e eu suspiro.

Ah é, ainda tem isso. Agora temos 95% de compatibilidade Heller. Ficar ao lado de Jake sem beijá-lo por causa dos perigos da renovação é uma tortura e aqui na casa de Shane eu não coloquei o encanto que anula o Enon Heller em canto nenhum. Quando estamos juntos, sentindo os efeitos da compatibilidade, a decisão de estar com ele é inquestionável na minha cabeça. Mas eu sei que não é assim que vamos nos relacionar daqui para frente.

Pego a mão dele e volto para o colchão para passarmos a nossa última noite juntos em Calgary. Ele se deita primeiro, eu depois, na parte de dentro da conchinha e ele dá um beijo sonolento na minha orelha. Acabo me virando de frente para ele, colando nossas testas e narizes e recebendo a paz que ele sente por estar comigo. Não consigo conceber que eu possa destruir esse sentimento tão gostoso que ele tem por mim dizendo que não podemos ficar juntos. E que eu tenho por ele também. Essa versão de Jake é tão amorosa e mesmo que ela traga mil dificuldades novas para as nossas vidas, estou disposta a enfrentar todas por ele. Todas mesmo.

Minha Pessoa Infectada - Livro 4 - Série EncantadoresWhere stories live. Discover now