CAPÍTULO 11

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Foi o cheiro maravilhoso da comida que acordou Lucas.

Pela primeira vez, pode perceber que o seu olfato, assim como a sua audição, estavam mais aguçados, agora que não podia enxergar nada.

Viver na escuridão parecia intimidá-lo mais ainda ali, naquele ambiente totalmente desconhecido. Porém, ele já percebera que não era um ambiente hostil. 

No hospital, aos poucos, ele já se sentia quase que em casa, visto que sempre havia alguém para lhe ajudar e lá as pessoas explicavam a ele tudo o que estavam fazendo e onde estavam indo, quando ele saía do quarto sempre com um guia.

Estranha a forma como dona Zilda o abandonara ali. Lucas sabia que algumas pessoas tinham o dom de acalmar as outras pela simples imposição das mãos. Não era exatamente um super poder, como alguém lhe dissera certa vez, mas a transferência de energias positivas possíveis de ser feita por qualquer ser humano. Ele também talvez algum dia pudesse ser capaz de passar alguma energia positiva para outra pessoa...talvez para a sua alma gêmea, se é que ela realmente o encontraria ali, fechado dentro de um quarto sozinho.

Alma gêmea...realmente era tudo o que ele poderia desejar naquele momento de um breu monstruoso o engolindo e isolando do restante do mundo naquele espaço desconhecido.

Levantou-se sentindo vontade de usar o banheiro e foi tateando até achar a porta para o cômodo que ele percebeu que era bem pequeno...apenas o vaso e uma pia, ali mesmo, dentro do seu quarto. Passou a mão pela parede e percebeu que parecia que não havia um chuveiro ali, apenas o vaso e a pia mesmo.

Aliviou-se, abriu a água da pia e molhou o rosto sem pressa...como se aquilo pudesse lhe devolver a visão ou, pelo menos, clarear as suas ideias.

_Não há nenhum problema físico em seus olhos, Lucas._havia explicado o médico._Certamente isso é consequência do trauma emocional que você sofreu. A sua visão irá voltar...só não dá pra prever quando será. 

Mais uma vez ele ficou apreensivo imaginando que talvez o médico houvesse mentido apenas para que ele não entrasse em pânico, ou mesmo desejasse a morte por imaginar que nunca mais enxergaria.

Lucas percebeu, assim que saiu do pequeno banheiro e voltou para o quarto, que alguém batia na porta. Instintivamente, sentiu-se inseguro...e se não fosse dona Zilda? E se fosse alguém querendo lhe fazer algum mal?

Respirou fundo para afastar o início de uma crise de ansiedade e pânico. Se alguém quisesse prejudicá-lo, certamente não o teriam levado até ali, onde havia a promessa de abrigá-lo. Também ele sabia, por experiência própria, que dona Zilda era uma pessoa confiável.

_Pode entrar._anunciou voltando a sentar-se na cama.

Ouviu a porta sendo aberta e percebeu que alguém provavelmente o observava.

_Com licença, Lucas. Posso entrar?

Era  a  voz em tom  amigável de um homem. Dava pra ver que  era jovem.

_Claro, por favor, entre._ele falou tentando soar agradável também.

_Sou Otávio Augusto Pontes, o administrador desta clínica de cuidados paliativos. Vim dar-lhe as boas-vindas._falou apertando a mão do novato amistosamente.

Otávio ficou com receio do seu novo hóspede poder escutar o som do seu coração que parecia capaz de sair pela sua boca, tamanha era a emoção!

Realmente, era um lindo rapaz e com aquele jeito frágil, vulnerável e tão inseguro, era quase impossível resistir ao desejo de pegá-lo logo em seus braços e lhe jurar proteção e fidelidade eterna, admitiu Otávio para si mesmo.

A ÚLTIMA CHANCE-Armando Scoth Lee-Romance Espírita GayWhere stories live. Discover now