Cap. 2

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“Saudades verdadeiramente? Puras recordações, saudades talvez se ponderarmos que o tempo é a ocasião passageira dos fatos, mas sobretudo – o funeral para sempre das horas” - O Ateneu, Raul Pompéia. 

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[Hailee]

Entrei na casa de Maggie sem perceber por onde passava, o espaço que ocupava e quem se colocava no meu caminho até que trombei com sua filha logo na entrada em que seu ombro se chocou brutalmente contra o meu: ela reclamou imediatamente de dor e eu, no entanto, apenas estaquei o passo e a fitei preocupada. Ela não gostava de mim, nunca havia dito nada e jamais diria por um longo tempo, mas eu sabia, eu sentia seu desprezo desde que acordei no quarto que antes fora de sua irmã mais nova e ela me olhava esperando eu acordar. O que aconteceu com a irmã? Havia se casado com um rapaz rico que tinha posses no sul do país e, por isso, se mudou para lá com o marido deixando mãe e irmã sozinhas e na labuta diária que às vezes parecia não ser suficiente para viver, pelo menos essa era a percepção que eu tinha daquela casa. E agora, quem era essa mulher? Essa mulher era Anne, loira como a mãe mas com pouquíssimos cabelos grisalhos que pareciam ainda estarem começando a aparecer. Tinha os olhos de um verde bem claro, a pele branca, era um pouco mais baixa que eu, mas bem pouca coisa, as mãos pareciam um pouco mais ásperas do que se esperaria de uma mulher, mas não ao extremo, e detinha uma força que era o motivo que me deixava nervosa por estar naquela situação com ela.

Anne sempre quis se casar, me contou sua mãe ainda nos primeiros dias em que fui abrigada sob seu teto, entretanto, ainda que sonhasse ficar noiva, desprezava todos os rapazes que pediam sua mão, pois, acredite, mesmo ela estando com seus 33 anos, eu mesma não poderia negar que era uma mulher bonita, embora muito simples. Mas não é a simplicidade quem tira a beleza, pelo contrário, a beleza, em muitas das vezes, está nela. 

Aguardei o insulto, a reclamação, o esbravejo, contudo, ela apenas me encarou seriamente, puxou o ar com força e saiu andando como se buscasse, de fato, ignorar esse pequeno acidente. Assim que ela saiu, me dirigi à cozinha onde Maggie preparava o almoço.

- Mas ora, já voltou? Que passeio breve. - Ela comentou enquanto colocava água no arroz. - Como foi o passeio?

- Quase fui atacada por um cachorro enorme. - Falei séria enquanto lavava as mãos para poder ajudá-la.

- Um pastor alemão? De nome Artie? 

- Exato! Pelo jeito ele conhece todos aqui menos a mim. Foi o que a dona dele me disse. Bem, pelo menos eu acho que ela era a dona dele.

- (SeuNome) Hartmann. Sim, é a dona do cão. Ela é filha de pais separados, digo, do delegado, o senhor Wilson Hartmann e da senhora Elizabeth Thorell que casou com um fazendeiro muito rico, o senhor Henry Thorell, depois que se separou. Pobre criança, a mãe foi embora para outra cidade e a deixou aqui sob os cuidados do pai que mal tinha tempo para ela, pois só pensava no trabalho.

Eu não ousei questionar nada sobre o que a mulher falava daquelas pessoas que eu não conhecia e que, provavelmente, eu também não daria a mim ou a elas a oportunidade de nos conhecermos. Só passava pela minha cabeça que eu precisava ir embora, mas sem dinheiro, sem contatos, sem lugar para ficar, não tinha como eu sair dali. A mulher ainda falava sobre como a tal garota havia crescido, que estava com seus 24 anos e não sabia o que fazer da vida, pois, diferente das outras garotas do lugar, não buscava maridos e muito menos queria trabalhar com as freiras como professora ou monitora na escola. Foi, então, que me surgiu um questionamento em voz alta:

- Será que consigo um emprego nesse colégio?

- Claro! Claro que, sim, Steinfeld. E não sabe como aprecio ouvir isso, queria tanto que minha Anne tivesse entrado… - Ela comentou deixando a voz sumir ao final da frase, mas logo continuou em um tom mais alegre. - Elas vão gostar de você e vão te acolher. Amanhã mesmo iremos até lá pela manhã conversar com a Madre Margareth.

(In)Finito [Hailee Steinfeld/You]Where stories live. Discover now